sexta-feira, outubro 06, 2006

Amália Rodrigues


Amália da Piedade Rebordão Rodrigues nasceu em 1920, em Lisboa, no seio de uma família pobre originária da Beira Baixa. A data certa do nascimento é desconhecida: em documentos oficiais nasceu a 23 de Julho, mas Amália sempre considerou que nasceu no dia 1 de Julho. Educada pela avó, cantou pela primeira vez em público em 1929 numa festa da Escola Primária da Tapada da Ajuda, que frequentava. Mais tarde trabalhou como bordadeira.
Em 1933, empregou-se numa fábrica de bolos e rebuçados em Lisboa e dois anos mais tarde, com a irmã Celeste, trabalhou numa loja de souvenirs no Cais da Rocha, acompanhada pela mãe, vendedora de fruta. Em 1935, desfilou na Marcha de Alcântara e cantou pela primeira vez acompanhada à guitarra numa festa de beneficência. Estreou-se em 1939 no Retiro da Severa, a casa de fados mais importante da altura, acompanhada por Armandinho, Jaime Santos, José Marques, Santos Moreira, Abel Negrão e Alberto Correia, interpretando três fados.
Em 1940 casa com o guitarrista amador Francisco da Cruz. No dia 25 de Junho de 1940 é a atracção convidada da revista do Teatro Maria Vitória, Ora Vai Tu! A primeira de muitas revistas em que participou.
A sua estreia no estrangeiro, a 7 de Fevereiro de 1943, ocorreu em Madrid, a convite do embaixador Pedro Teotónio Pereira. Amália separa-se do primeiro marido. Em 1944 viajou pela primeira vez para o Brasil, onde actuou no Casino de Copacabana. O sucesso levou a prolongar a estada de seis semanas para três meses, tendo regressado no ano seguinte ao País. Amália Rodrigues gravou os primeiros discos de 78 rotações, a 17 de Outubro de 1945, no Brasil para a etiqueta Continental.
A estreia no cinema ocorreu a 16 de Maio de 1947 com o filme Capas Negras, de Armando Miranda, que bate todos os recordes de exibição, com 22 semanas consecutivas em cartaz no cinema Condes, em Lisboa. Em Fevereiro de 1948 recebeu o Prémio SNI para a melhor actriz de cinema pela sua interpretação de Fado, de Perdigão Queiroga, estreia no Porto e é anunciado como sendo inspirado na vida de Amália, o que a fadista sempre negou.
Em Abril de 1949 cantou pela primeira vez em Paris e em Londres, em festas do Departamento de Turismo organizadas por António Ferro. Em 1950 continua a sua tournée pela Europa, actuando em Berlim, Dublin e Berna. Começa a cantar poemas de Pedro Homem de Mello e David Mourão-Ferreira. Em Dublin, canta Coimbra, que fica no ouvido da cantora francesa Yvette Giraud, que a populariza em França como Avril Au Portugal. Em 1951, Estreia de Vendaval Maravilhoso, de Leitão de Barros, um dos filmes preferidos de Amália entre aqueles em que participou. Gravou pela primeira vez em Portugal, para a editora Melodia (Rádio Triunfo) a. Numa digressão por África canta em Moçambique, Angola e Congo Belga. Em 1952 cantou em Nova Iorque, onde ficou 14 semanas em cartaz, e assinou contrato discográfico com a casa Valentim de Carvalho, fazendo as primeiras gravações nos estúdios da EMI, em Londres. Em 1953 Amália torna-se na primeira artista portuguesa a actuar na televisão americana no famoso programa Coke Time with Eddie Fisher, onde interpreta Coimbra. É de 1954 também o seu primeiro álbum, Amália Rodrigues Sings Fado From Portugal And Flamenco From Spain, publicado nos EUA pela Angel Records. Este álbum nunca foi publicado em Portugal com o mesmo alinhamento.
No ano 1955 participou no filme Os Amantes do Tejo, de Henri Verneuil, onde interpreta a Canção do Mar e o Barco Negro. Filma no México Musica de Siempre com Edith Piaf. No dia 10 de Abril de 1956 estreou-se no famoso Olympia, de Paris, numa das festas de despedida de Josephine Baker, e em Julho de 1958 foi condecorada por Marcelo Caetano na Exposição Mundial de Bruxelas. No dia 4 de Novembro de 1958 estreou-se na televisão portuguesa no papel principal da peça O Céu da Minha Rua, adaptada de uma peça de Romeu Correia.
Em 1961, confirmam-se os boatos que desde há muito andam no ar. Amália casa-se no Rio de Janeiro com o engenheiro César Seabra, e anuncia que vai abandonar a carreira artística passando a viver no Brasil. Um ano depois Amália regressa a Lisboa. Em 1962 foi editado o álbum Amália Rodrigues, mais conhecido como Busto ou Asas Fechadas, grande viragem na sua vida artística, onde canta Estranha Forma de Vida, Povo Que Lavas No Rio, de Pedro Homem de Mello, e, pela primeira vez, músicas de Alain Oulman. Em 1963, em Beirute, é tal o seu prestígio, que a convidam a acompanhar com os seus fados uma Missa de Acção de Graças pela independência do Líbano. Continua sempre a voltar aos países que não se cansam de a reclamar. Em Paris, o acolhimento do público é sempre delirante, não só no Olympia, como participando nos mais sensacionais acontecimentos artísticos.
Em 1964 Amália regressa ao Cinema com Fado Corrido, um Filme de Brum do Canto baseado num conto de David Mourão Ferreira, onde mais uma vez lhe dão um papel de fadista. Na estreia do filme em Lisboa confirmou-se mais uma vez que Amália continuava a ser a artista preferida do público português. Onde quer que aparecesse era sempre uma sensação. Em 1965, Amália atinge a sua melhor interpretação no cinema em As Ilhas Encantadas do estreante Carlos Vilardebó, baseado numa novela de Herman Melville. Neste filme, diferente de todos os outros da sua carreira, Amália pela primeira vez não canta. Amália volta a receber o prémio de melhor actriz com As Ilhas Encantadas e no ano seguinte aparece no filme francês Via Macau. Em 1966, é editado o primeiro disco em que recria o folclore, a que mais dois se seguirão. Com uma grande orquestra sinfónica, dirigida por André Kostelanetz, actua no Lincoln Center, em Nova Iorque, e no Hollywood Bowl, em Los Angeles. Canta em França, Israel, Brasil, África do Sul, Angola e Moçambique. Amália cantou na inauguração da Ponte sobre o Tejo, gravou Concerto de Aranjuez, com uma letra em francês, e Vou Dar De Beber À Dor, de um compositor até então desconhecido, Alberto Janes, que se tornará num dos maiores êxitos de Amália, com mais de 100 mil cópias vendidas. Em 1967 em Cannes, Anthony Quinn, com enorme entusiasmo, anuncia oficialmente que prepara dois filmes para Amália, sendo o primeiro Bodas de Sangue de García Lorca. Mas Amália prefere exprimir-se no canto.
Em 1969 cantou na União Soviética, correndo o mundo que unanimemente lhe reconheceu o talento. Em Janeiro de 1970, Amália parte para Roma para actuar no Teatro Sistina em Roma. O sucesso foi tal que o fenómeno “Amália” se espalha por Itália. Começava então “La Folia per La Rodrigues”. Amália canta pela primeira vez em Tóquio, e também o Japão, apesar de tão longínquo e com uma cultura tão diferente, se rende ao fascínio de Amália. Desde então sucedem-se as tournées pelo Japão abrangendo várias cidades. Todos os seus discos são editados nesse país, que com ela tanto se identifica. É frequente, quando Amália parte para o Japão todos os seus espectáculos estarem já esgotados, lançando assim Amália, uma verdadeira ponte cultural entre Portugal e o Japão. Este disco conquista para Amália os mais importantes prémios da indústria discográfica: IX Prémio da Critica Discográfica Italiana (1971), o Grande Prémio da Cidade de Paris e o Grande Prémio do Disco de Paris (1975). Em 1972 no Brasil, estreia-se no Canecão do Rio de Janeiro Um Amor de Amália, onde pela primeira vez, num espectáculo organizado, Amália canta e conta histórias da sua vida. Tanto é o sucesso que, o show é repetido no ano seguinte. Esse espectáculo, onde Amália é acompanhada para além da guitarra e da viola, por uma orquestra e um coro, foi gravado em disco. No dia 25 de Abril de 1974 dá-se a revolução que derrubou o regime fascista que há 48 anos governava Portugal. Amália, devido a um contrato que tinha para actuar na televisão espanhola, partiu para Madrid no dia seguinte. Em Lisboa, a grande popularidade internacional de Amália fez que de imediato circulassem boatos que a ligavam ao regime deposto. Embora só ligeiramente prejudicando a sua carreira, estes boatos afectaram gravemente a sensibilidade de Amália. Apesar destes boatos, Amália aparece logo no Coliseu onde 5 mil pessoas aplaudem de pé, provando que o seu público nunca a abandonou. A partir dessa altura, faz as mais longas tournées por Portugal, e o seu sucesso internacional continuou a aumentar fazendo tournées por todo mundo.
Em 1976 são editados Amália no Canecão, álbum ao vivo que regista parte do show de Amália naquele palco brasileiro em 1973, e Cantigas da Boa Gente compilação de material lançado anteriormente em singles e Eps. Também neste ano canta no Théâtre de Champs Elysées, em Paris. É publicado pela UNESCO o disco Le cadeau de la vie, onde figura ao lado de Maria Callas, John Lennon, Yehudin Menuhim, Aldo Ciccolini, Gyorgy Cziffra e Daniel Barenboim.
No ano de 1977 são editadas mais duas compilações – Fandangueiro e Anda o Sol na Minha Rua – de um novo single de Alberto Janes, Caldeirada, e de Cantigas numa língua antiga, primeiro álbum de material original de Amália em três anos, embora dele façam parte alguns temas já anteriormente registados pela fadista, aqui gravados em novas versões. Neste ano volta ao Carnegie Hall de Nova York. Em 1980, Amália edita Gostava de ser quem era, o seu primeiro álbum de material inédito em três anos, composto por dez fados originais com letras da própria Amália, escritas em sua casa durante a convalescença de uma doença. Também em 1980 recebeu do Presidente da Republica a condecoração de grande oficial da ordem do infante D. Henrique. Logo em seguida é homenageada pela Câmara de Lisboa. Amália edita, em 1982, com poucos meses de intervalo, O senhor extra-terrestre, um maxi-single com duas canções de Carlos Paião, e “Fado”, um novo álbum de estúdio composto exclusivamente por novas gravações de composições de Frederico Valério, muitas delas criadas por Amália. O álbum atinge o 5º lugar do top de vendas de álbuns compilado pela revista Música & Som.
Em 1983, é editado o álbum Lágrima, composto por 12 originais gravados durante 1982 e 1983, de novo com letras suas. Será o seu último disco de material inédito até à edição de Obsessão, em 1990. É editado, em 1984, Amália na Broadway, que reúne oito standards de musicais americanos gravados por Amália em 1965 nos estúdios de Paço de Arcos com o maestro inglês Norrie Paramor, mas nunca antes editados em disco. As gravações haviam sido pensadas para um álbum de standards americanos que nunca veria a luz do dia. O álbum atinge o 17º lugar do top oficial de vendas de álbuns. A 19 de Abril de 1985, Amália dá o seu primeiro grande concerto a solo no Coliseu dos Recreios, em Lisboa. O sucesso do Coliseu repete-se em Paris onde Amália é condecorada pelo Ministro da Cultura Jack Lang, com o mais alto grau da Ordem das Artes e das Letras. E de Paris de novo parte para o mundo. Em Julho é editado o duplo álbum O melhor de Amália – Estranha forma de vida, que reúne 24 dos mais populares e aclamados fados de Amália e atinge o 1º lugar do top de vendas, mantendo-se oito meses no top e vendendo para cima de 100 mil exemplares. Na sequência do êxito, é editado um segundo álbum compilação, O melhor de Amália volume II – Tudo isto é Fado, que ultrapassa as 50 mil cópias vendidas e atinge o 2º lugar do top.
Em 1987, é editada a biografia oficial de Amália, Amália – Uma biografia, por Vítor Pavão dos Santos, director do Museu Nacional do Teatro, jornalista e talvez o maior admirador de Amália em território português. O primeiro CD de Amália é editado em Portugal: Sucessos, uma compilação concebida originalmente para o mercado internacional, e que apenas ficará em catálogo até se iniciar a transferência para CD dos vários álbuns de Amália. É também lançado neste ano, o triplo - álbum de luxo Coliseu 3 de Abril de 1987, que regista na íntegra o concerto de Amália no Coliseu de Lisboa naquela data. Obtém o Disco de Ouro e atinge o 13º lugar dos tops. Em 1989, comemorando os 50 anos de carreira de Amália, a EMI-Valentim de Carvalho edita Amália 50 anos, uma colecção de oito duplos-álbuns ou CD´s temáticos agrupando muitas das gravações de Amália para a companhia, entre os quais várias raridades e gravações inéditas. Em Portugal sobre o patrocínio do Presidente da Republica Mário Soares, de quem recebe a Ordem Militar de Santiago de Espada, as comemorações são um verdadeiro acontecimento a nível nacional. Festas, condecorações, exposições, tudo para Amália não é demais. Estas festividades, prolongam-se numa grande tournée Mundial. -Lisboa, Madrid, Paris, Roma, Tel Aviv, Macau, Tóquio, Rio de Janeiro, Nova York. Também nesse ano é recebida pelo Papa, no Vaticano, em audiência privada. 1990 Vê ser editado Obsessão, o primeiro álbum de material original e inédito de Amália em sete anos, composto por temas gravados durante o interregno. É editada, em 1991, a cassete de vídeo Amália live in New York City registo do concerto no Town Hall de Novembro de 1990. Recebe do presidente francês, Georges Miterrand, a Legião de Honra. Em 1992 é editado o CD Abbey Road 1952, que reúne a totalidade das primeiras gravações realizadas por Amália para a Valentim de Carvalho nos estúdios de Abbey Road em Londres. Em 1995, é editada pela primeira vez em CD a compilação Estranha forma de Vida – O melhor de Amália, e a RTP transmite, ao longo de uma semana, a série documental Amália – uma estranha forma de vida, cinco episódios de uma hora dirigidos por Bruno de Almeida incluindo muitas imagens de arquivo provenientes dos cinco cantos do mundo e nunca antes exibidas em Portugal. Neste ano é ainda editado Pela primeira vez – Rio de Janeiro, CD que reúne as 16 gravações que Amália realizou no Rio de Janeiro em 1945 para a editora Continental. É a primeira edição oficial em CD destas gravações, há muitos anos indisponíveis em Portugal, restauradas digitalmente em Londres, nos estúdios de Abbey Road.
Em 1997 é editado o seu último álbum com gravações inéditas realizadas entre 1965 e 1975, O Segredo. Também em 1997 o falecimento do marido de Amália, César Seabra, após 36 anos de casamento. Amália publica um livro de poemas “Versos” na editora Cotovia. Nova homenagem nacional na Feira Mundial de Lisboa Expo98.

Amália Rodrigues, foi encontrada sem vida no dia 6 de Outubro de 1999. A morte da Amália Rodrigues aconteceu quando faltavam dois dias para o fim da campanha eleitoral das legislativas de Outubro de 1999. No dia da morte da fadista o Primeiro – ministro António Guterres anunciou três dias de luto nacional e o Presidente da República, Jorge Sampaio, depois de consultados os partidos com assento parlamentar, confirmou um funeral com honras de Estado. O funeral realizou-se no dia 8 de Outubro, sendo Amália Rodrigues sepultada no cemitério nos Prazeres. No dia 8 de Julho de 2001, os restos mortais de Amália Rodrigues foram transladados do Cemitério dos Prazeres para a galeria do Panteão Nacional.
Amália Rodrigues é a única mulher, cujo os restos mortais, se encontram no Panteão Nacional. Fontes Diversas .

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