sexta-feira, novembro 30, 2007

Ingrid Betancourt


Ingrid Betancourt Pulecio nasceu em Bogotá, Colômbia, em 25 de Dezembro de 1961.Filha do ex. Senador e ex. Embaixador colombiano, Gabriel Betancourt e de Yolanda Pulecio, ex. Miss Colômbia. Passou parte da juventude em Paris, pois o seu pai era embaixador na UNESCO. Desde criança, habituou-se a conviver com gente como Pablo Neruda, o pintor Fernando Botero e Gabriel García Márquez, amigos da família. Fez os seus estudos no Instituto de Estudo Políticos de Paris, onde se licenciou em Ciências Políticas. Nesta altura conhece Fabrice Delloye, com o qual se casa em 1981. Deste casamento nasceram os seus dois filhos, Mélanie e Lorenzo, que vivem actualmente em França.
Em 1990 divorcia-se de Fabrice e o destino fá-la regressar à Colômbia para empreender uma carreira política, baseada na luta contra a máquina de corrupção movida pelo dinheiro do narcotráfico. Na Colômbia os cartéis da droga, que movimentam milhares de milhões de dólares, compram, literalmente, Deputados, Senadores e até, o Presidente da República.
“Sabem como são poderosos, na Colômbia, os cartéis da droga, esta droga que mina a vida dos nossos jovens. Certamente que têm ouvido falar das matanças e dos escândalos políticos que eles causam. Mas, por trás destas organizações mafiosas, está o meu povo – um povo corajoso e orgulhoso que deseja libertar-se desta engrenagem infernal. É por ele que luto." (Com Raiva no Coração, Terramar, Março 2002).

Quando decidiu seguir a carreira política, dois acontecimentos, moldaram-lhe o carácter: Por um lado, o assassinato em 1989, (por ordem de Pablo Escobar, o líder do cartel de Medellín) de Luis Carlos Galan, candidato à presidência da república colombiana, amigo da sua família e que era a favor da extradição dos narcotraficantes para os Estados Unidos e por outro lado a sua luta pessoal, contra o presidente Ernesto Samper, cuja campanha presidencial foi financiada com o dinheiro do narcotráfico.
Em 1994 é eleita Deputada, com a maior votação de sempre e nesse mesmo ano, casa-se com o publicitário Juan Carlos Lecompte. Em Junho de 1996, sofreu um atentado, a mando dos narcotraficantes. O carro em que seguia recebeu uma rajada de metralhadora que por mera casualidade não a matou. Em Dezembro desse mesmo ano, recebeu no seu gabinete um mensageiro (que se tinha introduzido no Parlamento com a conivência de algum Deputado ou Senador), que lhe transmitiu secamente um aviso: ” É preciso que saiba que corre perigo, que a sua família corre perigo. Parta enquanto pode, pois as pessoas que represento já fizeram um contrato para a abater. Para ser absolutamente exacto, doutora: já pagamos aos sicários.” (Com Raiva no Coração).
Mas, Ingrid Betancourt não se deixa intimidar: “Estou consciente dos perigos, mas estes não me farão recuar. É nisso que reside a minha esperança.”
Paladina da cruzada anti corrupção, foi também conquistada pela defesa do ambiente, tendo criado em 1998, o Oxigénio, um pequeno partido ecologista, e logo de seguida consegue eleger-se Senadora, outra vez com a maior votação de sempre na eleição para o Senado.
Em 2001 candidata-se à presidência da República colombiana. Em 20 de Fevereiro de 2002, o governo rompe as negociações de paz com as FARC, próximo de San Vicente del Caguán, numa vasta zona desmilitarizada. Conduzindo uma violenta ofensiva, as forças governamentais reocupam a vila e as suas imediações. As autoridades recusam a solicitação de Betancourt que pede, enquanto candidata à presidência, para viajar de avião com os jornalistas que acompanham o Presidente Andrés Pastrana ao local. Apesar dos conselhos dos que tentam dissuadi-la, ela decide ir assim mesmo, por terra. Em 23 de Fevereiro, em companhia de sua assessora de imprensa, Clara Rojas, e de dois jornalistas, ela penetra na zona onde há combates intensos entre o exército e a organização terrorista das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. Foi raptada nesse dia pelas FARC, mantendo-se ainda em cativeiro.
Desde então, a sua família, com o apoio de intelectuais e políticos franceses e colombianos, tem lutado para que Ingrid Betancourt não seja esquecida e para que o governo consiga negociar a sua libertação. Ingrid Betancourt também conta com dezenas de comités de apoio na França e em outros países europeus, todos mobilizados pela sua libertação.
Ingrid Betancourt, é uma mulher de coragem, pela luta solitária que trava contra a poderosíssima força mafiosa do narcotráfico e contra a corrupção nas altas esferas da política colombiana, mas é também a voz renovadora da esperança no triunfo da democracia na Colômbia.

Ingrid Betancourt (I)


Ingrid Betancourt, a candidata às eleições presidenciais da Colômbia, que foi raptada em Fevereiro de 2002 pelos guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias Colombianas (FARC), às quais várias organizações internacionais, pediam uma prova de vida, encontra-se viva, conforme anunciou hoje o governo colombiano, após a detenção de três elementos da rede urbana das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) em Bogotá, tendo encontrado em seu poder vídeos de Ingrid Betancourt e de outros reféns.
Nas imagens, Ingrid Betancourt aparece sentada em frente a uma pequena mesa, “bastante magra”, “com o cabelo muito comprido” e com uma mão aparentemente “acorrentada”, explicou à televisão LCI a irmã da refém, Astrid Betancourt.
Há três meses, Hugo Chávez foi encarregado pelo governo colombiano de mediar a troca de 45 reféns das FARC, entre os quais Ingrid Betancourt, por 500 guerrilheiros presos na Colômbia.
Na sua recente visita a França, Hugo Chávez disse ao Presidente francês Nicolas Sarkozy que o chefe das FARC " tinha prometido uma carta contendo uma prova de vida antes do final do ano", relacionada com Ingrid Betancourt e os outros reféns mantidos em cativeiro pela guerrilha.
Aparentemente as FARC estavam a tentar fazer chegar as provas de vida de Ingrid Betancourt ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez.
O Comité de Apoio a Ingrid Betancourt assinalou que as provas de vida encontradas na posse dos guerrilheiros “demonstram a eficácia” da mediação de Chávez e Piedade Córdoba.
“É inegável que os seus esforços foram coroados por um êxito. Esperamos que o seu trabalho possa ser retomado, em concertação com o governo colombiano”, refere um comunicado do Comité de Apoio a Ingrid Betancourt.

quinta-feira, novembro 29, 2007

Bad Sex Fiction Award

O escritor americano Norman Mailer, recentemente falecido, foi o vencedor do prémio "Bad Sex in Fiction Award", pela pior descrição de um acto sexual na literatura de ficção em inglês.
Norman Mailer foi agraciado com o prémio, atribuído pela revista de literatura britânica The Literary Review por uma passagem do seu último livro, The Castle in the Forest, editado em português com o título O Fantasma de Hitler.
O objectivo do prémio, segundo a revista é “chamar a atenção para uso de trechos com descrições sexuais redundantes, de mau gosto, grosseiras e frequentemente superficiais em livros modernos”.
O trecho premiado descreve uma cena de sexo oral, entre Alois e Klara.Na edição portuguesa (Dom Quixote, 1ª edição Agosto 2007) do livro o trecho está na página setenta e dois:
“…Contudo, nessa noite quente de Verão quando tentava abrir-lhe as pernas fechadas, empurrando mais do que nunca com a força dos seus braços, houve um momento em que lhe faltou a respiração. Uma agonia assustadora! Por um instante, sentiu-se como se tivesse sido derrubado por um raio. Aquilo era o coração dele? Seria o próximo a morrer?
“Estás bem?” gritou ela quando ele se deitou a seu lado a procurar recuperar a respiração, com o fôlego a entrar e a sair num ronco que soava tão horrível como os últimos sopros dos seus filhos desaparecidos.
“Tudo bem. Sim. Não”, disse ele, e nesse momento ela pôs-se em cima dele. Não sabia se isto o ressuscitaria ou se acabaria com ele… Por isso Klara virou-se dos pés para a cabeça, e pôs a sua parte mais indecorosa no nariz e na boca dele que respiravam com dificuldade, e levou o velho aríete aos lábios. O Tio estava agora tão mole como uma rosca de excremento. Não obstante chupou-o com uma avidez que só podia ser obra do Demónio – isso ela sabia. Sabia de onde viera o impulso. Assim, agora tinham ambos as cabeças nas extremidades erradas, e o Demónio estava ali com eles. Ele nunca estivera tão próximo.
O Cão de Caça começou a ganhar vida. Ali dentro da boca dela. Isso surpreendeu-a. Alois estivera tão flácido. Mas, agora, era novamente um homem! Coma boca a espumar com os fluidos dela, virou-se e agarrou-lhe na cara com toda a paixão dos seus próprios lábios e cara, finalmente pronto a esfregar-se dentro dela com o Cão de Caça, a arremessá-lo contra a piedade dela, maldita piedade, pensou Alois - maldita mulher beata, maldita igreja! - regressara do mundo dos mortos - por alguma espécie de milagre, estava ali inteirinho, com o orgulho de uma espada. E em seguida o momento foi ainda mais longe, já que ela - a mulher mais angélica de Brannau - se entregava ao Diabo, sim ela sabia que ele estava ali, ali com Alois e com ela, todos os três soltos no géiser que saiu dele, e a seguir dela, juntos naquele momento, e eu estava lá com eles...”
Na realidade, deverá ser difícil encontrar na Literatura mundial, uma descrição tão canhestra de um simples 69.

quarta-feira, novembro 28, 2007

Alberto Moravia


Passam hoje cem anos do nascimento de um dos mais prestigiados escritores italianos do século XX, Alberto Moravia.
Alberto Pincherle nasceu em Roma
em 28 de Novembro de 1907. Renunciaria anos mais tarde ao apelido judaico de seu pai (Carlo Pincherle Moravia), devido ao regime fascista, que começava a incomodar todos os judeus. Adoptou o apelido da sua avó paterna, e assim ficou mundialmente conhecido: Alberto Moravia. Tendo sofrido de tuberculose durante toda a sua infância, Moravia viveu toda a sua juventude internado em sanatórios e tornou-se um verdadeiro autodidacta.
Ele próprio aponta os factos decisivos da sua biografia: “O primeiro passou-se na minha juventude, quando estive cinco anos preso à cama, atingido pela tuberculose. O segundo foi o triunfo do fascismo, ao qual me opus, e que me proibiu de publicar o que pretendia. Estes dois factores formaram o meu carácter.”
Aos 22 anos estreia-se com Os Indiferentes, uma condenação moral do cinismo da burguesia, romance muito bem recebido pela crítica e pelo público; em 1935, com a publicação de La Bella Vita e de Le Ambizioni Sbagliate, a reacção da Itália oficial à obra de Moravia torna-se mais áspera. Alberto Moravia é proibido de publicar as suas obras e começa a ser perseguido.
Face estas perseguições do regime fascista de Mussolini, resolveu expatriar-se, primeiro para os EUA e depois para a China e Índia.
Em 1941 Alberto Moravia casou-se com a escritora Elsa Morante autora do romance "La Storia", que aborda as relações sociais durante os anos da Grande Guerra.
Regressa a Itália no final da Segunda Guerra Mundial e é daí em diante que publica a parte mais importante da sua obra. Em 1947 publica A Romana, crónica social do regime fascista Mussolini.
Os seus conhecimentos do humano, de diversos ambientes, aliados à perspectiva histórica a que nunca subtrai as suas personagens, continuarão a revelar-se em, A Desobediência (1948), O Conformista (1951) O Desprezo (1954) O Tédio (1960) e A Atenção (1965) e tantos outros pontos altos da vida literária de um romancista, ensaísta e polemista notável da cultura europeia, cuja a atenção se fixa sobre o estudo e condições objectivas, para nelas explorar todas as implicações psicológico-morais e sociais.
Nos anos cinquenta do século passado, depois de ter sido perseguido pelo fascismo, arranjou um outro inimigo de peso: O Vaticano. Todas as obras editadas por Alberto Moravia neste período, são condenadas pelo Vaticano devido “à linguagem realista e às temáticas indecentes”.
A Ciociara (1957) é no entender de Carlo Salinari, um dos maiores críticos italianos, “o romance mais acabado e bem realizado de Moravia, porque nele a dialéctica “normalidade-anormalidade” coincide com a relação histórica de “paz-guerra” e, dessa forma, a normalidade transforma-se numa aspiração consciente temperada pela dor, para superar as misérias, o luto e as destruições da guerra.”
No final dos anos cinquenta, surge o reconhecimento internacional de Alberto Moravia, quando este, ocupou a presidência do Pen Club Internacional entre os anos de 1959 e 1962, e é proposto por duas vezes, ao Nobel da Literatura.
Vários livros seus foram adaptados ao cinema, de entre eles O Desprezo (1963) realizado por Jean-Luc Godard e O Conformista, do realizador Bernardo Bertolucci, em 1970. O filme de 1960 do realizador italiano Vittorio de Sica, La Ciociara (Duas Mulheres em português), baseado na obra homónima de Moravia, daria nesse ano o Óscar de melhor actriz, a Sophia Loren.
Em 1984 é eleito pelo Partido Comunista deputado ao Parlamento Europeu, cargo que ocupou até à sua morte, ocorrida em Roma , a 26 de Setembro de 1990.
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terça-feira, novembro 27, 2007

O Testamento de Alfred Nobel


A criação do Prémio Nobel ocorreu por um "feliz" incidente jornalístico. Dizem que a verdadeira motivação de criar o Prémio não foi a fortuna colossal do inventor da dinamite mas que se deveu ao facto de um jornal sueco publicar um longo obituário de Alfred Nobel (1833 - 1896), por engano, acreditando que foi ele a morrer, quando tinha sido o seu irmão, Ludvig. Dizia o jornal: "Morreu Alfred Nobel, o Mercador da Morte, o homem que dedicou a sua vida a encontrar maneiras de destruir e matar".
Alfred Nobel ficou horrorizado com a maneira como viria a ser recordado. Sem a Fundação Nobel e os prémios concedidos anualmente em seu nome, é muito provável que Nobel, fosse lembrado desta maneira ou ainda mais provável, seria que ninguém se lembrasse dele.
No dia 27 de Novembro de 1895 Alfred Nobel, iria esvaziar de conteúdo o obituário apressado feito pelo jornal sueco, quando no Clube Sueco em Paris, assinou o seu testamento, homologado por quatro compatriotas seus.
O documento continha legados pequenos a algumas pessoas e acrescentava: “Todo o meu património deverá ser tratado da seguinte maneira. O capital será investido pelos meus executores em títulos seguros e com os seus juros anuais, distribuídos prémios para os que trouxerem os maiores benefícios à humanidade. O dito prémio deverá ser dividido em cinco partes iguais, que deverá ser aplicado como se segue: uma parte para a pessoa que deverá ter feito a mais importante descoberta ou invenção no campo da física (Prémio Nobel da Física); uma parte para a pessoa que deverá ter feito a mais importante descoberta química ou aperfeiçoamento (Prémio Nobel da Química) ; uma parte para a pessoa que deverá ter feito a mais importante descoberta no domínio da fisiologia ou medicina (Prémio Nobel da Medicina); uma parte para a pessoa que deverá ter produzido no campo da literatura o mais impressionante trabalho de uma tendência idealista (Prémio Nobel da Literatura); e uma parte para a pessoa que deverá ter feito mais ou melhor trabalho para a fraternidade entre as nações, para a abolição ou redução de exércitos permanentes e para conservação e estímulos de congressos de paz (Prémio Nobel da Paz). O prémio para físicos e químicos deverá ser entregue pela Academia Sueca das Ciências; o de fisiologia ou trabalhos médicos pelo Instituto Caroline de Estocolmo; o de literatura pela Real Academia de Estocolmo; e para os campeões da paz, por um comité de cinco pessoas eleito pelo Parlamento Norueguês. É meu desejo expresso que quando entregarem os prémios nenhuma consideração deverá ser feita à nacionalidade dos candidatos, para que o mais qualificado receba o prémio, seja ele escandinavo ou não.” (O Prémio Nobel da Economia só seria instituído em 1969 e é financiado pelo Banco da Suécia).
Feito sem instrução jurídica, o testamento continha muitas falhas. Nobel legou a sua fortuna, mas a quem? Ele deixou escrito apenas que determinada corporação deveria distribuir o dinheiro dos juros em cinco prémios e não fez determinações sobre a administração do fundo. Ele estabeleceu apenas que as cinco instituições assumiriam a tarefa de distribuir os prémios. E o que deveria acontecer se elas recusassem?
A longa série de processos sobre o último desejo de Nobel começou com a questão sobre o lugar do seu domicílio. Seria a cidade sueca Bofors, onde ele estava registrado como habitante quando morreu? Estocolmo, onde pagava impostos? Ou em Paris, onde viveu longos anos e gozava dos direitos de cidadania local, embora tenha mantido seu passaporte sueco?
A questão era interessante não só por causa do imposto sobre herança, mas também para a validade jurídica do testamento. Por motivos formais, os tribunais franceses teriam declarado o documento inválido. Depois de processos em várias instâncias, foi decidido que o domicílio seria Bofors.
Entretanto, o Estado Sueco propôs a criação de uma fundação à luz do direito sueco para cuidar do património de Nobel. O Governo fez as reformas legais necessárias e pediu às instituições mencionadas no testamento que reconhecessem e assumissem as tarefas deixadas por Nobel.
Logo depois, três das quatro instituições deram sua resposta positiva e, ao mesmo tempo, fizeram sugestões para os estatutos da fundação e directrizes para a concessão dos prémios. A Academia Sueca de Ciências foi a única entidade que considerou essa tomada de posição inoportuna antes do fim de todos os processos.
Os testamenteiros, as instituições e parentes de Nobel negociaram durante um ano, após o que assinaram um acordo e encerraram todos os processos sobre o testamento. Só então começaram as negociações sobre os estatutos da Fundação Nobel.
Em Junho de 1900, ela foi finalmente confirmada e aprovada pelo governo sueco e no ano seguinte foram pela primeira vez concedidos os Prémios Nobel.

segunda-feira, novembro 26, 2007

Eles estão doidos!

O sociólogo e cronista português António Barreto, tem uma crónica semanal no jornal PÚBLICO, intitulada o "Retrato da Semana". Esta é a crónica dele no Público de 25 de Novembro. Pela sua importância para o dia a dia de milhares de portugueses, fica aqui reproduzida na íntegra.
A meia dúzia de lavradores que comercializam directamente os seus produtos e que sobreviveram aos centros comerciais ou às grandes superfícies vai agora ser eliminada sumariamente. Os proprietários de restaurantes caseiros que sobram, e vivem no mesmo prédio em que trabalham, preparam-se, depois da chegada da “fast food”, para fechar portas e mudar de vida. Os cozinheiros que faziam a domicílio pratos e “petiscos”, a fim de os vender no café ao lado e que resistiram a toneladas de batatas fritas e de gordura reciclada, podem rezar as últimas orações. Todos os que cozinhavam em casa e forneciam diariamente, aos cafés e restaurantes do bairro, sopas, doces, compotas, rissóis e croquetes, podem sonhar com outros negócios. Os artesãos que comercializam produtos confeccionados à sua maneira vão ser liquidados.
A solução final vem aí. Com a lei, as políticas, as polícias, os inspectores, os fiscais, a imprensa e a televisão. Ninguém, deste velho mundo, sobrará. Quem não quer funcionar como uma empresa, quem não usa os computadores tão generosamente distribuídos pelo país, quem não aceita as receitas harmonizadas, quem recusa fornecer-se de produtos e matérias-primas industriais e quem não quer ser igual a toda a gente está condenado. Estes exércitos de liquidação são poderosíssimos: têm Estado-maior em Bruxelas e regulam-se pelas directivas europeias elaboradas pelos mais qualificados cientistas do mundo; organizam-se no governo nacional, sob tutela carismática do Ministro da Economia e da Inovação, Manuel Pinho; e agem através do pessoal da ASAE, a organização mais falada e odiada do país, mas certamente a mais amada pelas multinacionais da gordura, pelo cartel da ração e pelos impérios do açúcar.
Em frente à faculdade onde dou aulas, há dois ou três cafés onde os estudantes, nos intervalos, bebem uns copos, conversam, namoram e jogam às cartas ou ao dominó. Acabou! É proibido jogar!
Nas esplanadas, a partir de Janeiro, é proibido beber café em chávenas de louça, ou vinho, águas, refrigerantes e cerveja em copos de vidro. Tem de ser em copos de plástico.
Vender, nas praias ou nas romarias, bolas de Berlim ou pastéis de nata que não sejam industriais e embalados? Proibido.
Nas feiras e nos mercados, tanto em Lisboa e Porto, como em Vinhais ou Estremoz, os exércitos dos zeladores da nossa saúde e da nossa virtude fazem razias semanais e levam tudo quanto é artesanal: azeitonas, queijos, compotas, pão e enchidos.
Na província, um restaurante artesanal é gerido por uma família que tem, ao lado, a sua horta, donde retira produtos como alfaces, feijão verde, coentros, galinhas e ovos? Acabou. É proibido.Embrulhar castanhas assadas em papel de jornal? Proibido.
Trazer da terra, na estação, cerejas e morangos? Proibido.
Usar, na mesa do restaurante, um galheteiro para o azeite e o vinagre é proibido. Tem de ser garrafas especialmente preparadas.
Vender, no seu restaurante, produtos da sua quinta, azeite e azeitonas, alfaces e tomate, ovos e queijos, acabou. Está proibido.
Comprar um bolo-rei com fava e brinde porque os miúdos acham graça? Acabou. É proibido.
Ir a casa buscar duas folhas de alface, um prato de sopa e umas fatias de fiambre para servir uma refeição ligeira a um cliente apressado? Proibido.
Vender bolos, empadas, rissóis, merendas e croquetes caseiros é proibido. Só industriais.
É proibido ter pão congelado para uma emergência: só em arcas especiais e com fornos de descongelação especiais, aliás caríssimos.
Servir areias, biscoitos, queijinhos de amêndoa e brigadeiros feitos pela vizinha, uma excelente cozinheira que faz isto há trinta anos? Proibido.
As regras, cujo não cumprimento leva a multas pesadas e ao encerramento do estabelecimento, são tantas que centenas de páginas não chegam para as descrever.
Nas prateleiras, diante das garrafas de Coca-Cola e de vinho tinto tem de haver etiquetas a dizer Coca-Cola e vinho tinto.
Na cozinha, tem de haver uma faca de cor diferente para cada género.
Não pode haver cruzamento de circuitos e de géneros: não se pode cortar cebola na mesma mesa em que se fazem tostas mistas.
No frigorífico, tem de haver sempre uma caixa com uma etiqueta “produto não válido”, mesmo que esteja vazia.
Cada vez que se corta uma fatia de fiambre ou de queijo para uma sanduíche, tem de se colar uma etiqueta e inscrever a data e a hora dessa operação.
Não se pode guardar pão para, ao fim de vários dias, fazer torradas ou açorda.
Aproveitar outras sobras para confeccionar rissóis ou croquetes? Proibido.
Flores naturais nas mesas ou no balcão? Proibido. Têm de ser de plástico, papel ou tecido.
Torneiras de abrir e fechar à mão, como sempre se fizeram? Proibido. As torneiras nas cozinhas devem ser de abrir ao pé, ao cotovelo ou com célula fotoeléctrica.
As temperaturas do ambiente, no café, têm de ser medidas duas vezes por dia e devidamente registadas.
As temperaturas dos frigoríficos e das arcas têm de ser medidas três vezes por dia, registadas em folhas especiais e assinadas pelo funcionário certificado.
Usar colheres de pau para cozinhar, tratar da sopa ou dos fritos? Proibido. Tem de ser de plástico ou de aço.
Cortar tomate, couve, batata e outros legumes? Sim, pode ser. Desde que seja com facas de cores diferentes, em locais apropriados das mesas e das bancas, tendo o cuidado de fazer sempre uma etiqueta com a data e a hora do corte.
O dono do restaurante vai de vez em quando abastecer-se aos mercados e leva o seu próprio carro para transportar uns queijos, uns pacotes de leite e uns ovos? Proibido. Tem de ser em carros refrigerados.
Tudo isto, como é evidente, para nosso bem. Para proteger a nossa saúde. Para modernizar a economia. Para apostar no futuro. Para estarmos na linha da frente. E não tenhamos dúvidas: um dia destes, as brigadas vêm, com estas regras, fiscalizar e ordenar as nossas casas. Para nosso bem, pois claro.

domingo, novembro 25, 2007

Ramalho Eanes


António dos Santos Ramalho Eanes, filho de Manuel dos Santos Eanes e Maria do Rosário Ramalho, nasceu em Alcains, concelho de Castelo Branco a 25 de Janeiro de 1935, no seio de uma família modesta, mas desafogada. A formação académica teve início em 1942, quando entra para o Liceu de Castelo Branco.
Após completar os estudos liceais, abandona o sonho de ser médico e segue a carreira militar entrando para o exército em 1952, onde concluiu, em 1956, o curso da Escola do Exército, sendo promovido a alferes no ano seguinte. Militar de carreira, foi sucessivamente promovido a: tenente (1959); capitão (1961); graduado a major (1970); major (1973); tenente-coronel (1974); coronel (1976); graduado general (1975) e general (1976).
Durante a guerra colonial prestou serviço no Estado Português da Índia (1958-1960) e em Macau (1962). Esteve também em Moçambique (1964 e 1966-1968), na Guiné (1969-1971) e em Angola (1971 até Abril de 1974).
Nomeado para a Comissão Ad-hoc para os Meios de Comunicação Social, foi director de programas e presidente do conselho de administração da RTP entre 1974 e 1975.No período conturbado que se seguiu à revolução de 25 de Abril de 1974, Ramalho Eanes comandou as operações militares de 25 de Novembro de 1975.
Ao longo de todo o Verão e começo do Outono de 1975, confrontaram-se duas concepções de modelo de sociedade para Portugal. Uma, de matriz europeia, sustentada numa democracia representativa; e uma segunda, importada da União Soviética, para a “sovietização” do país.
Os militares, no poder desde o 25 de Abril de 1974, dividiram-se entre os dois apelos e tornaram-se nos principais protagonistas de uma disputa que terminou com a vitória das forças moderadas, precisamente no dia 25 de Novembro de 1975, quando uma revolta iniciada por tropas pára-quedistas, que contariam, numa segunda fase, com o apoio de unidades do Exército e da Armada, foi sustida e derrotada. O detonador involuntário do 25 de Novembro foi Vasco Lourenço.
No dia 20 de Novembro tinha sido nomeado pelo Conselho da Revolução para comandante da Região Militar de Lisboa. A sua nomeação foi prontamente contestada pelos sectores político-militares influenciados quer pelo PCP quer pela extrema-esquerda. Posto em causa, o então capitão, exigiu ser reconfirmado, o que sucedeu na reunião de 24 de Novembro do Conselho da Revolução. Sem demora e sem formalidades, Vasco Lourenço tomou posse do cargo na manhã de 25 e instalou-se no Palácio de Belém.
Nesta altura, durante a madrugada, já os pára-quedistas da Base Escola de Tancos, tinham ocupado o Comando da Região Aérea de Monsanto e seis bases aéreas, na sequência de uma decisão do General Morais da Silva, CEMFA, que dias antes tinha mandado passar à disponibilidade cerca de 1000 pára-quedistas de Tancos. Detêm o general Pinho Freire e exigem a demissão de Morais da Silva.
O golpe estava na rua, logo de seguida o contra-golpe estaria em marcha.Este acto é considerado pelos militares ligados ao Grupo dos Nove, (grupo militar liderado por Ramalho Eanes e composto por Garcia dos Santos, Gabriel Teixeira, Rocha Vieira, Loureiro dos Santos, Aurélio Trindade, Tomé Pinto, José Pimentel e José Manuel Barroco), como o indício de um golpe de estado vindo de sectores mais radicais, da esquerda.
Esses militares apoiados pelos partidos políticos moderados PS e PPD, depois do Presidente da República, General Francisco da Costa Gomes ter obtido por parte do PCP a confirmação de que não convocaria os seus militantes e apoiantes para qualquer acção de rua, decidem então intervir militarmente para controlar inequivocamente o destino político do país, recorrendo às poucas forças verdadeiramente operacionais de que o país dispunha, ou seja, o Regimento de Comandos da Amadora, comandado pelo então coronel Jaime Neves; a Força Aérea, que deslocou para a Base de Cortegaça os principais meios, a Região Militar do Norte, comandada pelo então brigadeiro Pires Veloso, que enviou para Lisboa três companhias.
Os focos de resistência foram sendo neutralizados ao longo do dia sem grande oposição dos revoltosos, verificando-se um confronto armado apenas na calçada de acesso ao Regimento de Polícia Militar, em Lisboa, em que morreram dois militares do Regimento de Comandos - o tenente José Coimbra e o aspirante José Ascenso. Testemunhos da época garantem que foram baleados pelas costas por civis armados. Na troca de tiros, foi também atingido mortalmente o furriel Joaquim Pires.
Numa mensagem ao país, feita pelo telefone e transmitida através dos estúdios do Porto da Emissora Nacional, cerca das 22 horas, o presidente da República decretou estado de sítio parcial na região de Lisboa, uma medida que restringia o direito de liberdade de reunião. Os bancos encerraram e os jornais de Lisboa não se publicaram. No resto do país, a situação foi sempre menos tensa. A emissão da RTP passou igualmente a ser assegurada do Porto, depois de uma tentativa de um dos revoltosos em falar ao país, a pedir apoio para os revoltosos.
O clima de radicalização inerente ao PREC , chegou ao fim com o 25 de Novembro de 1975, o dia em que o país esteve a um pequeno passo da guerra civil.
O 25 de Novembro trouxe a Ramalho Eanes um grande prestígio. Nomeado Chefe do Estado-Maior do Exército nesse mesmo mês, manteve-se no cargo até 1976, para logo de seguida ocupar o de chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas até 1981.
Devido ao seu desempenho, Ramalho Eanes facilmente reuniu em torno da sua candidatura a presidente da República, em 1976, o apoio de três dos quatro partidos principais de então: o Partido Socialista (PS), o Partido Social Democrata (PSD) e o Centro Democrático Social (CDS).
Sá Carneiro e o PPD anunciaram o apoio a 28 de Abril e o PS a 12 de Maio, dois dias antes da apresentação da candidatura. Ramalho Eanes era o candidato presidencial dos que defendiam o fim do PREC (processo revolucionário em curso), batendo-se, sobretudo, contra Otelo Saraiva de Carvalho e Octávio Pato.
A garantia de estabilidade e segurança que representava, depois de momentos tão agitados na história política portuguesa, garantiu-lhe a vitória, com 61,6% dos votos. Após a vitória, fez a declaração que os seus sucessores adoptaram, no discurso de vitória: "Sou Presidente de todos os portugueses".
Ao longo do primeiro mandato, empossou um governo minoritário do PS, outro de coligação do PS com o CDS e três de iniciativa presidencial. Acusando-o de deriva esquerdista, Sá Carneiro cria a AD e proclama a máxima "uma maioria, um Governo, um Presidente".
Entretanto, na conferência de Imprensa da apresentação da sua recandidatura, Eanes tenta "namorar" o eleitorado da AD, quando já tinha o apoio expresso do PS e tácito do PCP. No entanto a AD, apresenta o seu candidato, o General Soares Carneiro. Mário Soares, abrindo a crise com o Secretariado, que iria repercutir-se na história do partido, ao não conseguir convencer o PS, retira-lhe o seu apoio pessoal.
Ramalho Eanes venceria as eleições presidenciais de 1980, à primeira volta, com 56,44% do eleitorado, derrotando o General Soares Carneiro, que recebeu 40,23% dos votos.
Em 1985, impulsionou a criação de um novo partido, o PRD (Partido Renovador Democrático), chefiado a princípio por Hermínio Martinho, mas do qual ele próprio veio a assumir a liderança, entre 1986 e 1987. O PRD alcançou 17,9% dos votos nas eleições legislativas de 1985, a primeira vez que participou nas eleições para a Assembleia, tornando-se o terceiro partido a seguir ao PSD e ao PS.
Em 1987, a aprovação de uma moção de censura, apresentada pelo PRD na Assembleia, provocou a queda do governo minoritário do PSD. O presidente Mário Soares convocou eleições em que o PRD não passou dos 4,9%. Mais tarde, nas eleições de 1991, já dirigido por Pedro Canavarro, o PRD perdeu a representação parlamentar.
Ramalho Eanes é General de quatro estrelas desde 1978 e passou à reserva em Maio de 1986.
Recebeu vários louvores e condecorações militares, entre os quais a Cruz de Guerra e a Medalha de Prata de Serviços Distintos com Palma. Detém ainda a Ordem da Torre e Espada. Actualmente, é por inerência (como todos os Presidentes, que tenham já cumprido os seus mandatos, e tenham sido eleitos na vigência da actual Constituição) conselheiro de Estado vitalício (desde 18.3.1986). Em 2000, Ramalho Eanes recusou, por razões ético-políticas, a promoção a Marechal.
No dia 15 de Novembro de 2006, o General António Ramalho Eanes, defendeu a sua tese de Doutoramento em Ciência Política, intitulada Sociedade Civil e Poder Político em Portugal, na Universidade de Navarra, em Pamplona. O ex-presidente da República foi aprovado por unanimidade e com nota máxima ‘Suma cum laude’ nesta prova de doutoramento. Fonte principal, página oficial da Presidência da República e DN.

quinta-feira, novembro 22, 2007

Luiz Felipe Scolari


Luiz Felipe Scolari nasceu a 9 de Novembro de 1948, em Passo Fundo, no Estado brasileiro do Rio Grande do Sul. Apelidado de “Felipão” pelos seus compatriotas, Scolari iniciou a sua carreira desportiva aos 19 anos, como defesa central da equipa Aymoré, de São Leopoldo, seguindo os passos do seu pai, Benjamim Scolari, um dos melhores defesas centrais brasileiros da época.
A carreira de Scolari enquanto jogador foi marcada pela sua forte presença, distinguindo-se pelo espírito de liderança, nunca sendo um jogador tecnicamente muito dotado, foi, no entanto, consistentemente titular e capitão das equipas em que jogou.
Após a sua estreia no Aymoré, Scolari, transferiu-se em 1973 para o Caxias, clube de maior importância, em que haveria de permanecer durante sete anos. Passou, ainda, pelos clubes Juventude, Novo Hamburgo e, finalmente, CSA, de Alagoas, clube que assistiu ao fim da sua carreira enquanto jogador, em 1982, e que o acolheu na sua primeira experiência enquanto treinador. Entretanto formou-se em Educação Física na Universidade de Porto Alegre, com especialização em futebol e voleibol.
No início da sua carreira como treinador, conseguiu alguma notoriedade à frente do Grêmio Esportivo Brasil, conseguindo o título de Campeão do Interior do Rio Grande do Sul e o segundo lugar no Campeonato Gaúcho. Após passar pelo Al Sabbab, na Arábia Saudita, Scolari treinou o Criciúma, clube com o qual conquistou o seu primeiro título nacional, a Copa do Brasil de 1991.
Em 1993, iniciou um percurso triunfante de quatro anos durante os quais alcançou Copa do Brasil, Campeonato Brasileiro, Taça dos Libertadores, Recopa Sul Americana, Taça Mercosul à frente do plantel do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense.
Em 1997, foi convidado para treinar o Palmeiras e, durante a sua permanência neste clube, conquistou, novamente, tanto o título nacional como a Copa dos Libertadores da América. Após uma breve passagem pelo Cruzeiro, Luiz Felipe Soclari tornou-se o treinador da selecção brasileira em 2001, pegando no «escrete» numa fase difícil na qual até o apuramento para o Mundial da Coreia e do Japão parecia posto em causa. O seu carisma impôs-se e Luiz Filipe Scolari tornou o Brasil Penta Campeão Mundial, em 2002.
Luiz Felipe Scolari foi por duas vezes considerado o melhor treinador da América do Sul, em 1999 e 2002, e nesse mesmo ano, recebeu o Prémio de Melhor Treinador do Mundo.
Luiz Felipe Scolari foi o seleccionador escolhido para assumir o comando técnico da equipa portuguesa depois do desaire lusitano no Mundial de 2002, na Coreia. "Felipão" chegou a Portugal em fins de 2002 com o título mundial como maior trunfo do seu currículo e conseguiu que a selecção portuguesa se sagrasse vice-campeã no Euro 2004, do qual Portugal foi o país anfitrião.
Neste Campeonato Europeu, Portugal conseguiu a sua melhor classificação de sempre, tendo chegado à final, onde perdeu contra a Grécia, a única equipa que venceu, por duas vezes, a selecção nacional.
Em 2006, após uma magnífica fase de apuramento, Luiz Felipe Scolari, leva a Selecção Portuguesa às meias-finais do Mundial, onde Portugal acabou por ser afastado da final pela França. Na disputa do terceiro e quarto classificados, Portugal voltou a perder, desta vez com Alemanha, o que não invalidou, de ter sido considerada uma excelente classificação, o meritório quarto lugar.
Neste Campeonato do Mundo, Luiz Felipe Scolari tornou-se o primeiro treinador da história dos Mundiais a obter 11 vitórias consecutivas: sete pelo “Escrete” durante o Mundial da Coreia - Japão, em 2002, e quatro “pela Selecção das Quinas” no Mundial da Alemanha.
No decorrer da fase de apuramento para o Euro 2008, Luiz Felipe Scolari, esteve momentaneamente ausente do banco da selecção portuguesa. Em 12 de Setembro de 2007, no fim do jogo Portugal - Sérvia, para a fase de apuramento do Euro 2008, a realizar-se na Aústria e Suiça, na sequência de um incidente com o defesa sérvio Dragutinovic, uma tentativa de agressão de Scolari, a Comissão de Controlo e Disciplina da UEFA puniu o treinador da selecçaõ nacional com três jogos de suspensão e 12.000 euros de multa.
Este castigo impediu Felipe Scolari de se sentar no banco em três importantes jogos de apuramento para o Euro 2008 – visitas ao Azerbaijão e Cazaquistão (13 e 17 de Outubro 2007) e na recepção à Arménia (17 de Novembro 2007).
No último jogo da fase de apuramento, entre a Selecçaõ Portuguesa e a Finlândia, realizado em 21 de Novembro de 2007, no Estádio do Dragão, no Porto, Luiz Felipe Scolari, comandou a Selecção das Quinas, a mais um apuramento para a fase final do Campeonato da Europa de Futebol. Portugal terminou em segundo lugar no seu grupo atrás da Polónia, somando vinte sete pontos, menos dois que o primeiro classificado. Este apuramento, foi a quarta classificação consecutiva de Portugal para Europeu e a quinta em todo o seu historial.
Depois de uma carreira inteiramente ligada ao desporto-rei, Luiz Felipe Scolari tornou-se um treinador de topo a nível internacional. Excelente condutor de homens e metódico, Luiz Felipe Scolari, deixa trabalho feito por onde passa. Com fama de duro e disciplinador dentro do grupo de trabalho, é paradoxalmente, idolatrado por jogadores, colaboradores e mesmos dirigentes. Primeiro defensor dos jogadores, não se coíbe a ter querelas públicas com jornalistas ou dirigentes de clubes, se para tal for necessário. Figura polémica para uns e incontestada para outros, "Felipão" é, na realidade, um dos melhores treinadores do mundo.

Luiz Felipe Scolari

O seleccionador português de futebol abandonou ontem energicamente a sala de imprensa do estádio do Dragão, depois de ter conseguido a qualificação para o Euro2008, e repudiou todas as críticas feitas pela comunicação social nos últimos jogos. “Portugal consegue a qualificação e o burro sou eu? O ruim sou eu? E Portugal qualificou onde? Na baía das almas? Ou vocês estão mal acostumados ou então não sei”, atirou Luiz Felipe Scolari, visivelmente irritado com as perguntas dos jornalistas.
O seleccionador explicou que Portugal esteve 11 jogos sem perder, conseguiu nova qualificação num “grupo complicado” e fez hoje, no empate com a Finlândia, uma “exibição boa” dentro daquilo que tinham planeado. “Porque não fizemos nenhum golo? Se não estivesse lá o guarda-redes, se calhar teríamos feito. Não percebo como vocês dizem que a Finlândia é ruim, a Sérvia é ruim, a Polónia é ruim ou a Bélgica é ruim. Mas pronto, acho que fomos maus. Se querem, fomos maus. Peço desculpa, mas não preciso de estar aqui”, voltou a responder Scolari.
O seleccionador, que conseguiu estar presente na final do Europeu de 2004 e atingiu o quarto lugar no Mundial da Alemanha em 2006 ao serviço de Portugal explicou que é sempre “preciso sofrer para atingir qualquer qualificação” e aplaudiu o comportamento dos jogadores e também do público que lotou o Dragão.
“Pelo amor de Deus, vou-me sentir desiludido por me qualificar? Eu estou é muito feliz. Alguns entendiam que a torcida do Porto não nos apoiava, mas hoje deram um grande exemplo. Foram espectaculares, como são sempre. Este foi o melhor estádio, pelo público, que jogámos nos últimos três anos. Será que vocês não conseguem ver nada de bom naquilo que nós fazemos?”.
Luiz Felipe Scolari questionou ainda os jornalistas: “Será que só tem porcaria e ruindade no nosso trabalho?”. Sobre o jogo, o treinador brasileiro explicou que Portugal conseguiu uma “exibição muito boa” dentro daquilo que estava planeado e lembrou que não poderia atacar-se muito, já que um “erro poderia ser fatal”. “Tivemos algumas precauções, é certo. Mas criámos muitas oportunidades de golo, ainda que não tantas como em outras ocasiões. Mas sabíamos que seria preciso sofrer. Agora, Portugal tem-se qualificado desde 1996, mas temos de perceber que a selecção sofreu uma reformulação e tivemos muitas lesões”, explicou também.
Luiz Felipe Scolari saudou ainda o primeiro jogo de Pepe – “óptima estreia, com óptima personalidade” - e justificou algumas alterações feitas no “onze” base.
“Estava a chover e o campo estava pesado. Depois, a Finlândia tem oito jogadores muito altos e que batalham muito. Contra a Arménia abrimos o meio-campo e foi por isso que o seleccionador da Finlândia mudou a equipa. Mas porque me massacram a mim e não ao treinador finlandês. Eles fizeram alguma coisa?”.
Antes de abandonar a sala, Luiz Felipe Scolari afirmou ainda que faz “mais por Portugal do que alguma vez” fez pelo Brasil, seu país Natal. “Ninguém me defendeu. Eu faço mais por Portugal do que alguma vez fiz pelo Brasil. Não compreendo”, concluiu.

EURO 2008


A Selecção portuguesa empatou, sem golos, com a Finlândia e garantiu o apuramento para o Europeu de 2008, organizado pela Áustria e Suíça, em jogo disputado no Estádio do Dragão, no Porto.
Portugal necessitava apenas de um empate, e para sofrimento dos portugueses foi exactamente isso que aconteceu. Noventa minutos de sofrimento, mas valeu a pena sofrer. Com este apuramento, a Selecção Nacional vai estar pela quinta vez na fase final de um Campeonato da Europa, a quarta consecutiva.
Dia: 21 de Novembro 2007
Estádio do Dragão, no Porto
Árbitros: Lubos Michel (Eslováquia), Roman Slysko e Roman Csabay.
Treinador: Luiz Felipe Scolari
PORTUGAL – Ricardo; Bosingwa, Pepe, Bruno Alves e Caneira; Fernando Meira, Maniche (Raul Meireles, 72 m) e Miguel Veloso; Ricardo Quaresma (Nani, 84 m), Nuno Gomes (Makukula, 76 m) e Cristiano Ronaldo.
Treinador: Roy Hodgson
FINLÂNDIA – Jasaslelainen; Pasanen, Hyypia, Tihinen e Kallio; Kolkka (Johansson, 74 m), Tainio (Yeremenko, 68 m) Heikkinen e Sjolund; Forssell e Litmanen (Vavrynen, 67 m).
Resultado final: 0-0
Cartão amarelo a Sjolund, Hyypia, Forssell, Caneira, Pasanen e Makukula.

quarta-feira, novembro 21, 2007

Amílcar Cabral


O “pai” das independências da Guiné-Bissau e Cabo Verde, Amílcar Cabral, foi “um fazedor de utopias”, que enfrentou muitas contradições pessoais e no movimento de libertação que liderou, acabando por morrer precisamente por causa delas.
A convicção é do antropólogo e antigo jornalista angolano António Tomás, ao comentar à Agência Lusa a figura de Amílcar Cabral, dias antes de lançar, em Lisboa, a biografia que escreveu sobre o nacionalista cabo-verdiano nascido na Guiné-Bissau, intitulada “O Fazedor de Utopias”. Recusando o “politicamente correcto” – “por uma questão de rigor e de factualidade” –, o autor do livro, a lançar hoje na Casa Fernando Pessoa, apontou, “entre muitas”, quatro contradições na vida e obra de Amílcar Cabral, geralmente caracterizado como um dos idealistas mais importantes da história recente do continente africano.
“Não se pode falar em erros, mas em contradições. Há muitas mas a mais importante talvez seja a relacionada com a sua própria identidade, pois formou-se profissional e culturalmente em Portugal e pensava como português”, sublinhou.
No entender de António Tomás, a ideia de Cabral, assassinado em Janeiro de 1973 (um crime que nunca foi totalmente esclarecido), oito meses antes da declaração unilateral da independência da Guiné-Bissau, a ideia da “reafricanização dos espíritos” esbarrou na “verdadeira cultura africana”. “Da teoria à prática foi muito duro, pois sempre pensou que a mística africana fora apagada pela colonização, o que não se verificou”, sustentou o antropólogo, dando como exemplos os casos, ainda hoje actuais, da “excisão feminina” e da “dominação masculina”.
A lógica da “guerra anti-colonial”, por si só, é, segundo os valores defendidos por Cabral, outra das contradições importantes entre a teoria e a prática de um homem que “tentou um meio termo entre o ideal comunista de Mao Tsé Tung - o poder da classe camponesa - e de Ernesto Che Guevara - o poder da revolução de quadros”.
“Errou, aí sim, ao tentar expandir a guerra para Cabo Verde, embora não o tenha conseguido, apesar do sonho irrealista de defender a unidade entre guineenses e cabo-verdianos”, sustentou António Tomás, natural de Luanda, onde nasceu a 11 de Abril de 1973.
Outra “contradição” é de “cariz mais pessoal”, apontou, dando como exemplo, “um humanista que acabou por defender a guerra (1963/74) como meio para alcançar a independência”, em que foi “obrigado a tomar medidas drásticas e contrárias” aos seus próprios ideais.
“Amílcar Cabral tinha um lado ingénuo muito grande. Entregou-se generosamente à causa da independência, na qual depositava uma grande esperança. Acreditou até ao fim, mesmo quando começaram algumas traições dentro do próprio PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde)”, defende o autor do livro que, apesar de tudo, o considera como “um grande pensador e nacionalista”.
Os elogios a Amílcar Cabral feitos por António Tomás, actual doutorando em Antropologia pela Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, onde reside desde 2004, sobem de tom quando fala sobre o seu lado prático. “Era um homem muito prático, embora agarrado à teoria. Tentou resolver as contradições mas não conseguiu. A guerra não se faz com um homem só. Tentou tudo, mas era o único que pensava e esqueceu-se do resto: que há outros que também pensam”, sublinhou o autor, licenciado em Comunicação Social, pela Universidade Católica de Lisboa e colaborador do Jornal de Angola e Angolense.
“Tentou sobretudo conciliar as revoluções campesinas (de Mao Tsé Tung) com as de quadros (de Che Guevara). Foi o primeiro a colocar grande parte do esforço de guerra ao serviço da organização das zonas libertadas e, paralelamente, a travar o conflito com Portugal nas frentes interna e diplomática”, advogou o autor. No primeiro caso, promoveu a educação, saúde e os armazéns do povo nas zonas libertadas e, no segundo, privilegiou os contactos internacionais, sustentou António Tomás, deixando no ar a questão sobre se havia mesmo a necessidade de se partir para o conflito com o regime colonial de Lisboa.
Quanto à morte de Amílcar Cabral, abatido em Conacri a 20 de Janeiro de 1973, afirmou que as dúvidas sobre os mandantes e executantes “são muitas”, mas defendeu que o assassinio foi “consequência” de não ter conseguido resolver as contradições do movimento de libertação que liderou durante mais de década e meia.
“A história do homem que liderou a independência das colónias portuguesas em África”, tal como o autor definiu no livro, é considerada pelo escritor angolano José Eduardo Agualusa uma obra importante.
“Tenta devolver ao grande público essa figura maior de África. Fá-lo numa linguagem jornalística, apoiada numa investigação rigorosa. O facto de o seu autor ser angolano não me parece irrelevante. Trata-se de dar a ver um pensador e combatente africano numa perspectiva africana. Algo que teria certamente agradado a Amílcar Cabral”, sustenta Agualusa num pequeno texto publicado no livro. Lusa.

terça-feira, novembro 20, 2007

Nadine Gordimer


Nadine Gordimer nasceu na cidade de Springs, uma pequena cidade mineira situada na periferia de Joanesburgo, em 20 Novembro de 1923. Os pais, Isidore e Nan Gordimer, eram emigrantes judeus. O pai era joalheiro, proveniente da Lituânia, e a mãe originária da Inglaterra. A mãe de Nadine impressionada com o modo como eram tratadas as crianças negras, abriu uma creche, para dar apoio gratuito a essas crianças. Apesar da origem judaica da família, Nadime Gordimer, estudou numa escola de orientação cristã. Começou a escrever com 9 anos e a sua primeira história, Come Again Tomorrow, foi publicada na secção infantil da revista sul-africana Forum quando Nadine tinha apenas 14 anos.
Passou pela Universidade de Witwaterstrand de Joanesburgo, onde estudou apenas um ano, desistindo de tirar um curso superior. A sua escrita caracteriza-se pelas belas evocações da ruralidade do Transvaal, pelas eficazes interpretações da sexualidade e pela interacção de personagens de origens raciais diferentes, onde é possível imaginar, o que poderia ser a vida na África do Sul, se não existisse o apartheid.
O primeiro romance da autora, The Lying Days, surgiu em 1953, e teve como cenário a cidade mineira onde nasceu.
Toda a sua obra, assume uma frontal oposição e denúncia do apartheid e à censura, o que levou que alguns dos seus livros, fossem banidos da África do Sul, até à queda do regime. Ficou conhecida, apesar das suas posições anti-apartheid, por nunca ter querido deixar o seu país, nem durante os anos de violenta repressão política.
Em 1974 recebeu o Booker Prize, pelo seu livro O Conservador e no ano seguinte, o prémio francês Grand Aigle d'Or. Em 2002 ganhou o Commonwealth Writer's Prize para África, com o seu livro O Engate.
Foi fundadora do Congresso dos Escritores Sul-Africanos e é vice-presidente do PEN Club Internacional.
Em 1991 a Real Academia Sueca, ao atribuir-lhe o Prémio Nobel da Literatura, explicou que este Prémio foi '' Atribuído a alguém que, através da sua obra épica, trouxe um grande benefício à humanidade.”
Entre as suas obras, que incluem contos e romances, destacam-se Face to Face (1949), The Soft Voices of the Serpent (1952), The Lying Days (1953), Six Feet of the Country (1956), Um Mundo de Estranhos (1958), Friday’s Footprint and Other Sttories (1960), Occasion for Loving (1963), Not for publication (1965), O Fim dos Anos Burgueses (1966), South African Writing Today (1967), Guest of Honour (1970), Livingstone’s Companions (1971), The Black Interpreters (1973), O Conservador (1974), Some Monday For Sure (1976), A Filha de Burger (1979), No place Like (1979), A Soldier’s Embrace (1980), Town and Country Lovers (1980), A Gente de July (1981), Something Out There (1984), Lifetimes: Under Apartheid (1986), Um Capricho da Natureza (1987), The Essential Gesture (1988), A História de Meu Filho (1990), Crimes of Conscience (1991), Jumps and Other Stories (1991), Why Haven’t you Written? (1992), Ninguém me Seguirá (1994), Writing and Being (1995), In The House Gun (1998) e The O Engate (2001) e Loot and Other Stories (2003), Get a Life (2005).
Está traduzida em mais de trinta línguas e recebeu numerosos doutoramentos Honoris Causa, entre os quais se destacam: Universidades de, Yale, Harvard, Columbia e New School for Social Research, (EUA); Universidade de Leuven, Bélgica, Universidade de York (Inglaterra), Universidades da Cidade do Cabo e de Witwatersrand de Joanesburgo (África do Sul) e a Universidade de Cambridge (Inglaterra).

Magda Szabo


A escritora húngara Magda Szabo faleceu ontem, aos 90 anos, quando lia um livro em sua casa, informou hoje fonte editorial.
Romancista, dramaturga, ensaísta e poetisa, Magda Szabo, nascida em 5 de Outubro de 1917 em Debrecen no seio de uma família burguesa, começou a publicar antes da II Grande Guerra.
A escritora estava actualmente a trabalhar no segundo volume da sua autobiografia "Für Elise".
Licenciou-se em Latim e Húngaro pela Universidade de Debrecen, em 1940, onde começou a leccionar, e casou-se em 1947 com o também escritor Tibor Szobotka, falecido em 1982.
Mais tarde funcionária do Ministério da Educação e Religião, vê as suas obras proibidas pelas autoridades comunistas depois de 1948, chegando os seus títulos às livrarias só em finais da década de 1950.
Magda Szabó tornou-se uma figura maior da literatura húngara e recebeu vários prémios literários, entre eles, os prémios Baumgarten (1949) e Lajos Kossuth (1978), tendo as suas obras sido publicadas em várias línguas.
A Porta, publicado em 1987, (que as Publicações D. Quixote editaram no ano passado em Portugal), alcançou grande sucesso internacional, tendo-lhe sido atribuído o Prix Betz Corporation, nos Estados Unidos e o Prix Femina Étranger, em França.
Em comunicado, o primeiro-ministro húngaro, Ferenc Gyurcsany, sublinhou que o país "perdeu não só uma pessoa reconhecida em toda a Hungria, mas, mais importante do que isso, sobretudo amada por todos".Com a agência Lusa.

sexta-feira, novembro 16, 2007

José Saramago


A vida de José Sousa começa às duas horas da tarde de 16 de Novembro de 1922, na pequena aldeia de Azinhaga, concelho da Golegã. A vida de José Saramago, começará dois dias mais tarde no Registo Civil da Golegã, “…indo o meu pai declarar no Registo Civil da Golegã o nascimento do seu segundo filho, sucedeu que o funcionário (chamava-se ele Silvino) estava bêbado (por despeito, disso o acusaria sempre meu pai), e que, sob os efeitos do álcool e sem que ninguém se tivesse apercebido da onomástica fraude, decidiu, por sua conta e risco, acrescentar Saramago ao lacónico José de Sousa que meu pai pretendia que eu fosse. E que, desta maneira, finalmente, graças uma intervenção por todas as mostras divina, refiro-me, claro está, a Baco, deus do vinho e daqueles que se excedem a bebê-lo, não precisei de inventar um pseudónimo para, futuro havendo, assinar os meus livros.” (As Pequenas Memórias).
Filho de José de Sousa e de Maria da Piedade, ambos camponeses (o seu pai seria anos mais tarde polícia), viveria os primeiros tempos na aldeia ribatejana que o viu nascer. Seus pais emigraram para Lisboa quando ele ainda não tinha dois anos de idade. A maior parte da sua vida decorreu em Lisboa, embora até ao princípio da idade adulta, passase prolongadas estadias na sua aldeia natal, superiormente contadas no livro, As Pequenas Memórias.
Em 1929 iniciou a escola primária, na escola Morais Soares. Em 1933, matricula-se no Liceu Gil Vicente, onde estudaria dois anos. Vem-lhe dessa altura o gosto pela leitura: sem acesso a livros, passava a pente fino as páginas do “Diário de Notícias”, que o pai levava todos os dias para casa, oferecido por "algum amigo ardina". Em 1934 as dificuldades económicas fazem-se sentir e José transita para a Escola Industrial Afonso Domingues, concluindo o curso de Serralharia Mecânica em 1939.
No seu primeiro emprego foi serralheiro mecânico, passando de seguida a desenhador, logo de seguida, obtém emprego nos Hospitais Civis de Lisboa. Por meio da leitura, procura melhorar a sua formação intelectual, frequentando a biblioteca do palácio das Galveias. É aí que inicia o seu contacto com a literatura.
Em 1942 é transferido para os serviços administrativos do Hospital Civil de Lisboa e no ano seguinte passa a trabalhar na Caixa de Abono de Família da Indústria da Cerâmica.
Em 1944 casou-se com a pintora Ilda Reis, de quem se divorciaria em 1970.
Em 1947, nasce a filha Violante e, a Minerva publica um romance seu, intitulado A Viúva, pelo autor e transformado em Terra de Pecado, pela editora.
Depois dessa primeira experiência, Saramago interrompe a escrita, que só retomará em 1966, ao publicar Os Poemas Possíveis. Em 1949, o apoio à campanha de Norton de Matos à Presidência da República leva-o a perder o emprego na caixa de Abono de Família da Indústria da Cerâmica. No ano seguinte conseguiu ingressar na Caixa de Previdência da Companhia Indústrias Metálicas Previdente, onde permanecerá até 1959. Em 1955 começou a colaborar com a Editorial Estúdios Cor, à qual se dedicou em exclusivo desde 1959 até 1971, como editor literário.
Em 1966 retomou a actividade literária, publicando o seu primeiro livro de poesia, Os poemas possíveis. Daí em diante a escrita tornou-se uma actividade permanente. Em 1968 iniciou a actividade jornalística, publicando textos de crítica literária na revista “Seara Nova” e, em 1972, começou a trabalhar no “Diário de Lisboa”, passando, no ano seguinte, a dirigir o suplemento literário do jornal.
Colaborou também com a revista Arquitectura (1974). Entretanto, em 1969, aderiu ao Partido Comunista Português, ao qual permaneceu fiel até hoje. No entanto, em 1988 foi um dos subscritores do “documento da terceira via”.
Após o 25 de Abril chegou a trabalhar no Ministério da Comunicação Social, como assessor. Também nessa altura chegou a coordenar uma equipa de dinamização cultural no Fundo de Apoio aos organismos Juvenis (FAOJ).
Em 1975 é nomeado director-adjunto do “Diário de Notícias”, mas é dispensado após o 25 de Novembro. Que o levaria a dizer que como escritor, é um produto do 25 de Novembro: “Como escritor, sou um produto do 25 de Novembro. Com o 25 de Novembro, fiquei sem trabalho e com pouca esperança de conseguir um sítio onde o encontrar. Eu estava muito marcado. Decidi, aos 53 anos, que seria “agora ou nunca”. Se as circunstâncias me retiraram a possibilidade de trabalhar, iria escrever. Não foi fácil. Durante uns anos vivi de traduções. Eu já não estava no circuito, ninguém pensou mais em mim e ainda bem. Fechei-me em casa a traduzir para ganhar a vida e para escrever”. (Diário de Notícias, 2005-11-09).
A partir de 1976 passou a viver exclusivamente do seu trabalho literário, primeiro como tradutor, depois como autor.
Em 1982 edita a sua obra mais emblemática, O Memorial do Convento. O livro apresenta duas histórias paralelas: reescreve a história de Portugal através da construção do Convento de Mafra por D. João V; e paralelamente conta a história de amor entre Baltazar Mateus, o Sete-Sóis e Blimunda Sete-Luas.
A primeira história, irónica e crítica, revela episódios da história portuguesa no tempo da construção do Convento de Mafra. D. João V, persuadido pelo clero, oferece a obra a Deus para que a rainha engravide e lhe dê um herdeiro. Saramago satiriza e ridiculariza os hábitos da realeza, desnudando o poder exercido pela elite e pelo clero sobre o povo oprimido.
A segunda história, com a qual a primeira se entremeia, é a história de amor, entre Blimunda e Baltazar; ambos pessoas humildes do povo, que se unem ao Padre Bartolomeu Lourenço no seu sonho de voar, através da construção de uma máquina, a qual chamam de Passarola.
Blimunda tem poderes especiais, consegue ver as pessoas por dentro e torna-se a responsável por captar as vontades das pessoas moribundas. As vontades são recolhidas e servem de combustível para a passarola, uma espécie de metáfora de liberdade. O Padre Bartolomeu, Baltazar e Blimunda conseguem fazer com que a máquina voe, porém, o padre passa a ser perseguido pela Inquisição, e foge para Toledo, onde acaba por morrer.
Baltazar e Blimunda cuidam da passarola que foi escondida. Baltazar durante a manutenção da máquina acaba por voar nela e nunca mais volta. Blimunda procura-o durante nove anos por todas as partes do país, até que em Lisboa, durante um auto de fé, reconhece Baltazar a caminho da fogueira. Quando Baltazar está para morrer, desprendeu-se a sua vontade e é recolhida dentro do peito de sua amada Blimunda.”
Fez parte da primeira direcção da Associação Portuguesa de Escritores (APE) e, entre 1985 e 1994, foi presidente da Assembleia Geral da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA). Em 1988 casou com a jornalista espanhola Pilar del Rio.
Em 1991 publicou a sua obra mais polémica o Evangelho Segundo Jesus Cristo, obra incómoda para os sectores mais tradicionais da sociedade portuguesa, tendo o Subsecretário de Estado da Cultura, Sousa Lara, vetado em 1992 a sua candidatura ao Prémio Literário Europeu. Quando perguntaram a Sousa Lara porque é que o romance de José Saramago foi cortado da lista dos concorrentes ao Prémio Literário Europeu, Sousa Lara afirmou, “Porque não representa Portugal. Esta minha atitude nada tem a ver com estratégias de venda, nem sequer com opções literárias. E muito menos com as escolhas políticas de Saramago. Não entrou em linha de conta o facto de ele ser comunista ou pertencer à Frente Nacional para a Defesa da Cultura”.(Público, 25 de Abril de 1992). Reafirmando dias mais tarde, em plena Assembleia da República que, “A obra atacou princípios que têm a ver com o património religioso dos portugueses. Longe de os unir, dividiu-os.” Esta polémica, levou o escritor a ir viver definitivamente para Lanzarote, nas ilhas Canárias, corria o ano de 1993.
O romance “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” foi mal recebido pelos círculos religiosos, em quase todos os países católicos, mas na Rússia, foi alvo de um apelo especial. A 11 de Dezembro de 1998, os participantes da conferência “Segurança Espiritual da Rússia”, realizada em Moscovo, lançaram um apelo ao Presidente, Governo, Parlamento e Procuradoria-Geral da Rússia, no qual, entre outras coisas, se afirmava: “Consideramos absolutamente inadmissível a publicação na Rússia do livro “Versículos Satânicos” de Salman Rushdie, que ofende até ao fundo da alma os sentimentos religiosos dos muçulmanos, do filme de Scorsese “A Última Tentação de Cristo” e do livro de José Saramago “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”, que é um insulto aos sentimentos de todos os cristãos da Rússia”. Foi publicado à mesma, com um relativo sucesso.
Em 9 de Outubro de 1998, a Real Academia Sueca comunicou a atribuição do Prémio Nobel da Literatura a José Saramago “que, com parábolas portadoras de imaginação, compaixão e ironia, torna constantemente compreensível uma realidade fugidia”.Com esta justificação, a referida Academia destacava pela primeira vez, não só um escritor português, mas também a Língua Portuguesa.
José Saramago reagiu com humildade quando soube da atribuição do Prémio Nobel da Literatura: “Sou português, não quero nem posso ser outra coisa, mas por circunstâncias várias a minha Pátria cresceu, que é o que mais podemos desejar. ... Não nasci para isto... O facto de ser Prémio Nobel não significa que seja o único que o merecia em Portugal. Fernando Pessoa merecia mil prémios Nobel.”
A 3 de Dezembro de 1998, o Presidente da República, Jorge Sampaio, concedeu-lhe, a título excepcional, o Grande Colar da Ordem de Santiago da Espada, distinção reservada tradicionalmente a chefes de estado.
Depois de José Saramago receber o Nobel da Literatura, a Fundação Círculo de Leitores, decidiu criar em sua homenagem o “Prémio Literário José Saramago” destinado a promover a divulgação da cultura e do património literário em língua portuguesa, através do estímulo à criação e dedicação à escrita por jovens autores de grande qualidade. O Prémio com periodicidade bienal e no valor de €25 000,00, distingue uma obra literária no domínio da ficção, romance ou novela, escrita em língua portuguesa, por escritor com idade não superior a 35 anos, cuja primeira edição tenha sido publicada em qualquer país lusófono, excluindo as obras póstumas.
Em 29 de Junho de 2007, José Saramago criou uma fundação com o seu nome que irá preservar e estudar a sua obra literária e espólio e ainda tomar partido, “por grandes e pequenas causas”. Na declaração de princípios escrita pelo autor, determina este, que a fundação deve assumir nas suas actividades, como norma de conduta, “tanto na letra como no espírito”, a Declaração Universal dos Direitos Humanos e que mereçam particular atenção os problemas do meio ambiente e do aquecimento global do planeta, “os quais atingiram níveis de tal gravidade que já ameaçam escapar às intervenções correctivas que começam a esboçar-se no mundo”. (Lusa/JL).
O percurso literário de sucesso de José Saramago, é acompanhado e recheado com diversas polémicas, de entre as quais se destaca a posição crítica em relação a Israel, no conflito eterno com os palestinianos. Numa entrevista ao jornal Globo, afirmou “que os Judeus não merecem a simpatia pelo sofrimento por que passaram durante o Holocausto... Vivendo sob as trevas do Holocausto e esperando ser perdoados por tudo o que fazem em nome do que eles sofreram parece-me ser abusivo. Eles não aprenderam nada com o sofrimento dos seus pais e avós. (Wikipédia).
A sua mais recente polémica foi espoletada, por uma entrevista ao jornal Diário de Notícias em 15 de Julho de 2007, o Nobel português defendeu, que Portugal deveria tornar-se uma província de Espanha e integrar um país que passaria a chamar-se Ibéria para não ofender as susceptibilidades dos portugueses. O escritor considera que Portugal, "com dez milhões de habitantes", teria "tudo a ganhar em desenvolvimento" se houvesse uma "integração territorial, administrativa e estrutural" com Espanha. Portugal tornar-se ia assim, mais uma província de Espanha: "Já temos a Andaluzia, a Catalunha, o País Basco, a Galiza, Castilla La Mancha e tínhamos Portugal. Provavelmente (a Espanha) teria de mudar de nome e passar a chamar-se Ibéria. Se Espanha ofende os nossos brios, seria uma questão a negociar" disse o escritor.(Lusa).
José Saramago tem uma extensa obra publicada, desde de poesia, Os Poemas Possíveis, 1966, Provavelmente Alegria, 1970, O Ano de 1993, 1975, também tem editado livros de Crónicas, e Memórias, Deste Mundo e do Outro, 1971, A Bagagem do Viajante, 1973, As Opiniões que o DL teve, 1974, Os Apontamentos, 1976, A Estátua e a Pedra, 1966, Folhas Políticas (1976-1998), 1999, Saramago na Universidade, 1999, Aquí soy Zapatista, 2000, Andrea Mantegna. Un’etica, un’estetica, 2002, El Nombre y la Cosa, 2006, As Pequenas Memórias, 2006, passando por livros de viagens, Viagem a Portugal, 1981, continuando com o Teatro, A Noite, 1979, Que Farei com Este Livro?, 1980, A Segunda Vida de Francisco de Assis, 1987, In Nomine Dei, 1993, Don Giovanni, ou o Dissoluto Absolvido, 2005.
Escreveu também um diário em 5 partes, Cadernos de Lanzarote - I, 1994, Cadernos de Lanzarote - II, 1995, Cadernos de Lanzarote - III, 1996, Cadernos de Lanzarote - IV, 1997, Cadernos de Lanzarote - V, 1998, alguns contos, Objecto Quase, 1978, Poética dos Cinco Sentidos – O Ouvido, 1979, O Conto da Ilha Desconhecida, 1997, A Maior Flor do Mundo, 2001.
No entanto é a sua obra romanesca a mais importante. José Saramago tem editado uma extensa lista de romances:Terra do Pecado, 1947, Manual de Pintura e Caligrafia, 1977, Levantado do Chão, 1980, Memorial do Convento, 1982, O Ano da Morte de Ricardo Reis, 1984, A Jangada de Pedra, 1986, História do Cerco de Lisboa, 1989, O Evangelho Segundo Jesus Cristo, 1991, Ensaio sobre a Cegueira, 1995, Todos os Nomes, 1997, A Caverna, 2000, O Homem Duplicado, 2002, Ensaio Sobre a Lucidez, 2004, As Intermitências da Morte, 2005. (Editorial Caminho).
Os livros de José Saramago encontram-se publicados em 53 países e em 42 idiomas.
O seu romance Memorial do Convento foi adaptado a ópera pelo compositor italiano Azio Corghi, com o título Blimunda. A estreia mundial, com encenação de Jerôme Savary, realizou-se no Teatro alla Scala, Milão, em 20 de Maio de 1990. Também da peça In Nomine Dei foi extraído um libreto, o da ópera Divara, estreada em Munster (Alemanha), em 31 de Outubro de 1993, com música de Azio Corghi e encenação de Dietrich Hilsdorf. Igualmente de Azio Corghi é a música da cantata A Morte de Lázaro sobre textos de Memorial do Convento, O Evangelho Segundo Jesus Cristo e In Nomine Dei, interpretada pela primeira vez em Milão, na igreja de San Marco, em 12 de Abril de 1995. Ainda de Azio Corghi é a música da cantata sobre O Ano de 1993, interpretada pela primeira vez em Florença, em 8 de Junho de 1999. Da sua obra teatral Don Giovanni, ou o Dissoluto Absolvido foi extraído o libreto da ópera de Azio Corghi Il Dissoluto Assolto, estreada em Lisboa, em 18 de Março de 2006, no Teatro Nacional de São Carlos. O seu romance A Jangada de Pedra foi adaptado ao cinema pelo realizador holandês George Sluizer em 2002, com o título de Het Stenen Vlot Spoorloos (Caminho).
Obras de José Saramago recebeu ao longo da sua carreira muitos prémios, de entre os quais se destacam:
Prémio da Associação de Críticos Portugueses “A Noite”, 1979, Prémio Cidade de Lisboa “Levantado do Chão”, 1980, Prémio PEN Clube Português “Memorial do Convento”, 1982, “O Ano da Morte de Ricardo Reis”, 1984, Prémio Literário Município de Lisboa “Memorial do Convento”, 1982, Prémio da Crítica (Associação Portuguesa de Críticos) “O Ano da Morte de Ricardo Reis”, Prémio Dom Dinis “O Ano da Morte de Ricardo Reis”, 1986, Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”, 1992, Prémio Consagração SPA (Sociedade Portuguesa de Autores), 1995, Prémio Camões, 1995, Prémio Grinzane-Cavour “O Ano da Morte de Ricardo Reis”, 1987, Prémio Internacional Ennio Flaiano (Levantado do Chão), 1992, Prémio do jornal The Independent “O Ano da Morte de Ricardo Reis”, 1993, Prémio Internacional Literário Mondello (Palermo), 1992 (Conjunto da Obra), Prémio Literário Brancatti (Zafferana/Sicília), 1992 ( pelo conjunto da obra), Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores (APE), 1993, Prémio Consagração SPA (Sociedade Portuguesa de Autores), 1995, Prémio Nobel da Literatura, 1998, Prémio Europeu de Comunicação Jordi Xifra Heras (Girona) 1998, Prémio Nacional de Narrativa Città di Pienne (Itália) 1998, Prémio Canárias Internacional, 2001).
Em reconhecimento do seu trabalho literário foram atribuídas a José Saramago as seguintes distinções honoríficas: Comendador da Ordem Militar de Santiago de Espada 1985); Grande Colar da Ordem Militar de Santiago de Espada (1998). Cavaleiro da Ordem das Artes e Letras ( França 1991); Oficial da Legião de Honra (França), Grã-Cruz da Ordem «Ilhas Canárias» (Espanha), Medalha Guayasamin-UNESCO; Medalha Rumiñahui (Equador) ; Grã-Cruz ao Mérito Cultural e Literário do Congresso Nacional (Equador) ; Grã-Cruz ao Mérito Educativo e Cultural «Juan Montalvo» (Equador), Medalha Isidro Fabela da Faculdade de Direito da UNAM (México).
José Saramago é Doutor «Honoris Causa» pelas Universidades de Turim (Itália), Sevilha (Espanha), de Manchester (Reino Unido), de Castilla -La Mancha (Espanha), de Brasília (Brasil), de Évora (Portugal), de Rio Grande do Sul (Brasil), de Minas Gerais (Brasil), de Las Palmas de Gran Canaria (Espanha), Politécnica de Valência (Espanha), Fluminense (Brasil), de Nottingham (Reino Unido), de Santa Catarina (Brasil), Michel de Montaigne – Bordéus (França), de Massachussets, Dartmouth (Estados Unidos da América), de Salamanca (Espanha), de Santiago (Chile), de la República del Uruguay (Uruguai), de Roma Tre (Itália), de Granada (Espanha), Carlos III (Espanha), Universitá per Stranieri di Siena (Itália), de Alberta (Canadá), Autónoma do Estado de México Toluca (México), de Tabasco (México), de Buenos Aires (Argentina), Charles-de-Gaulle – Lille 3 (França), de Alicante (Espanha), de Coimbra (Portugal), Autónoma de Madrid (Espanha), de El Salvador (São Salvador), Nacional (Heredia - Costa Rica), de Estocolmo (Suécia), Nacional de Irlanda (Dublin).
Membro «Honoris Causa» do Conselho do Instituto de Filosofia do Direito e de Estudos Histórico-Políticos da Universidade de Pisa (Itália); Membro correspondente da Academia Argentina de Letras; Membro do Patronato de Honra da Fundação César Manrique, Lanzarote (Canárias); Membro da Academia Europeia de Yuste (Espanha); «Beca de Honor» da Residência de Estudantes da Universidade Carlos III (Espanha); Sócio Honorário da Academia de Ciências de Lisboa; Membro da Academia Internacional de Humanismo (Amherst, Estados Unidos da América); Membro Honorário do Instituto Caro Y Cuervo, de Bogotá (Colômbia); Membro titular da Academia Europeia das Ciências, das Artes e das Letras, de Paris (França); Membro do Conselho do Futuro (UNESCO), Paris; Membro da Academia da Latinidade; Membro da Academia do Mediterrâneo; Sócio Honorário da Associação Provincial de Sevilha de Amizade com o Povo Sahauri (Espanha); Professor Coordenador Honorário do Instituto Politécnico de Leiria (Portugal); Presidente Honorário de Son Latinos (Espanha); Presidente Honorário da Fundación Alonso Quijano (Málaga); Académico Honorário da Academia Canaria de la Lengua (Canárias); Presidente Honorário da Fundação Centro José Saramago (Castril – Espanha); Membro do Comité de Honor da Fundação Rafael Alberti; Membro do Conselho Supremo das Academias de Colômbia; Membro Honorário do Centro Nacional de Cultura (Lisboa); Membro Honorário do Conselho Consultivo do Brussels Tribunal.

quarta-feira, novembro 14, 2007

Astrid Lindgren


Cumpre-se hoje 100 anos do nascimento de Astrid Lindgren, mundialmente famosa pela criação da personagem Pipi das Meias Altas.
Astrid Anna Emilia Ericsson, depois do casamento Lindgren, nasceu a 14 de Novembro de 1907, em Vimmerby, Smaland, filha de agricultores, pôde crescer em liberdade na quinta dos pais, que mantinham o costume de contar histórias aos quatro filhos, encorajando possíveis esforços literários. Em muitos dos seus livros, a escritora descreve lugares e aventuras que experimentou na sua infância.
Aos dezoito anos de idade engravidou e, face à reacção da família, optou por se mudar para Estocolmo. Fez estudos técnicoprofissionais para poder vir a tornar-se administrativa, tendo conseguido uma colocação no Real Automóvel Clube da Suécia. Em 1931, casou com Sture Lindgren.
Astrid Lindgren tornou-se conhecida internacionalmente como a criadora da Pippilotta Viktualia Rullgardina Krusmunta Efraemsdotter Laangstrump, ou seja, Pipi das Meias Altas, uma rapariga órfã, de sardas irreverentes, meias altas e tranças ruivas que vive sozinha com um macaco e um cavalo, dona de uma árvore que dá chocolates e limonadas e de uma mala cheia de ouro.
Astrid Lindgren começou a criar as suas histórias quando a sua filha Karin ficou doente aos 7 anos e pediu que lhe contasse as histórias de Pipi das Meias Altas. Na época em que foram publicadas (1945), as suas aventuras divertiram os mais novos, mas chocaram alguns críticos que temeram o efeito adverso na educação das crianças. A sua abordagem fantástica, desconcertante para alguns, do universo infantil, nascia, segundo a autora, "de uma tentativa de divertir a criança que havia em si e, através dela, outras crianças".
Apesar de ter sido um grande sucesso, Astrid Lindgren não encontrou receptividade para editar imediatamente as suas histórias. A sua primeira tentativa fracassou pois o editor não queria ter responsabilidade por histórias que mostravam crianças brincando e desarrumando tudo à sua volta. Felizmente, Astrid Lindgren procurou outro editor, que com os contos de Astrid Lindgren se salvou a si mesmo da falência. Graças a ele, o mundo pode conhecer as lindas histórias de Astrid Lindgren.
As aventuras de Pipi das Meias Altas, foram passadas para uma série de televisão nos anos sessenta que obteve um sucesso estrondoso em todo o mundo. A série passou em Portugal nos anos setenta.
Na década de 60 Astrid Lindgren protestou contra a Guerra do Vietname e, em 1976, resolveu empreender uma campanha contra a injustiça nos impostos do governo sueco, quando chegou à conclusão que lhe eram cobrados cento e dois por cento dos seus rendimentos. Foi também a responsável pela aprovação de uma lei em 1988, em favor dos direitos dos animais, que ficou conhecida como Lex Astrid.
Astrid Lindgren escreveu mais de cem obras, entre romances, contos adaptados ao cinema e televisão, livros de canções e poesia - e recebeu importantes distinções, nomeadamente os prémios literários Hans Christian Andersen, em 1958, Lewis Carrol, em 1973, o International Book Award, da Unesco, e o Right Livelihood Award, também conhecido como “Prémio Nobel Alternativo” em 1993 . Astrid Lindgren, foi traduzida para 86 línguas e vendeu mais de 80 milhões de livros.
Os seus livros têm quase sempre como cenário o campo e como personagens principais crianças, reflectindo a sua própria experiência. As suas histórias diferem muito dos clássicos infantis da época. Nos seus artigos de 1939 e 1949, Astrid Lindgren defendia os direitos das crianças a serem tratadas como seres humanos sem serem oprimidos. Na sua época Astrid Lindgren revolucionou a literatura infantil da mesma maneira que antes fizera Lewis Carrol e agora o faz J.K. Rowling.
Astrid Lindgren faleceu em Estocolmo, após doença prolongada, em 28 de Janeiro de 2002.
Para honrar a sua memória, e fomentar a literatura infantil e juvenil a nível mundial, o Governo Sueco estabeleceu um prémio internacional em sua memória: O Prémio de Literatura em Memória de Astrid Lindgren (ALMA – Astrid Lindgren Memorial Award).
O Prémio no valor de cinco milhões de coroas suecas é o maior prémio internacional de literatura infantil e juvenil, e o segundo maior prémio de literatura do mundo. O Prémio é atribuído todos os anos a um ou a mais premiados, independentemente do idioma ou nacionalidade. As obras deverão ser de alta qualidade artística e marcadas pelo humanismo profundo que caracterizava Astrid Lindgren.

terça-feira, novembro 13, 2007

Luís Sepúlveda


Luís Sepúlveda, nascido a 4 de Outubro de 1949 na cidade de Ovalle, província de Limarí, é mundialmente conhecido como escritor, apesar de ser também, jornalista, activista político e realizador de cinema. Membro da Juventude Comunista a partir de 1964, licenciou-se em Santiago do Chile em encenação teatral.
Em 1969 ganha uma bolsa de estudo de cinco anos, na Universidade Lomonosov de Moscovo. No entanto só ficaria cinco meses na capital soviética, pois foi expulso da Universidade por “atentado à moral proletária”, causado, segundo a versão oficial, por Luís Sepúlveda manter contactos com alguns dissidentes soviéticos.
De regresso ao Chile é expulso da Juventude Comunista, adere ao Partido Socialista Chileno e torna-se membro da guarda pessoal do presidente Salvador Allende. No golpe militar do dia 11 de Setembro de 1973, que levou ao poder o ditador general Augusto Pinochet, Luís Sepúlveda encontrava-se no Palácio de La Moneda a fazer guarda ao Presidente Allende.
Depois do golpe de Estado, foi preso por dois anos e meio, mas a pressão da secção alemã da Amnistia Internacional conseguiu que Luís Sepúlveda deixasse a prisão de Temuco e fosse colocado em prisão domiciliária. Conseguiu escapar da prisão domiciliária e durante um ano viveu no Chile clandestinamente. Com a ajuda de um amigo formou um grupo de teatro que se converteu no primeiro foco de resistência cultural, à propaganda fascista do General Pinochet.
A polícia secreta conseguiu descobrir o paradeiro de Luís Sepúlveda levando-o novamente à prisão. Desta vez foi condenado a prisão perpétua, por traição e subversão. No entanto a pena foi imediatamente reduzida para 28 anos de prisão.
Mais uma vez a secção alemã da Amnistia Internacional o ajudou e a sentença de prisão foi convertida em 8 anos de exílio. Em 1977 a ditadura chilena autoriza a partida de Luís Sepúlveda para a Suécia, para ensinar literatura espanhola.
Na viagem para a Suécia, durante uma paragem técnica em Buenos Aires, escapou-se do avião e foi para o Uruguai. Depois de uma passagem fugaz pelo Brasil e pelo Paraguai, instalou-se em Quito, capital do Equador. Nesta cidade dirigiu o teatro da Aliança Francesa e fundou uma companhia teatral. Viveu durante sete meses no seio da comunidade dos índios Shuar, participando numa missão de estudo da UNESCO, que tinha como objectivo estudar o impacto da colonização na forma de vida deste povo.
Em 1979 alistou-se nas fileiras sandinistas, na Brigada Internacional Simon Bolívar, que lutava contra a ditadura de Anastácio Somoza. Depois da vitória da revolução sandinista, trabalhou como repórter.
A partir de 1982 Luís Sepúlveda instalou-se em Hamburgo na Alemanha, por causa da admiração que tinha pela literatura alemã. Nesta cidade trabalhou durante algum tempo como motorista. Entretanto a revista alemã Der Spiegel contratou-o como correspondente de guerra em Angola, de onde narrou a intervenção cubana e a derrota das tropas de elite da África do Sul. Por esta altura começa também a sua ligação activa ao Greenpeace, que duraria até 1987.
Esta actividade na Greenpeace será pano de fundo de muitas das obras de Luís Sepúlveda nomeadamente o seu maior sucesso, "O Velho que Lia Romances de Amor" (1989), que Luís Sepúlveda dedica ao seu amigo Chico Mendes, o grande defensor da floresta amazónica.
Em 1996, muda de país e instala-se em Gijón, Espanha, onde vive actualmente. Nesta cidade fundou o Salão do livro ibero-americano, destinado a promover o encontro de escritores, editores e livrarias latino-americanas com os seus homólogos europeus.
Luís Sepúlveda já vendeu mais de 15 milhões de exemplares na Europa e é um dos autores hispano-americanos mais traduzidos das últimas décadas.
À sua primeira obra narrativa, “Crónicas de Pedro Nadie” (1969) seguiu-se um longo silêncio resultante do seu empenhamento político durante o breve Governo de Salvador Allende e dos problemas com a ditadura chilena. Em 1986 publicou a colectânea de contos “Los Miedos, las Vidas, las Muertes y Outras Alucinaciones”, e a partir de então, a sua produção literária não parou de crescer.
De entre inúmeros títulos, são de mencionar O Velho Que Lia Romances de Amor 1989), O Mundo do Fim do Mundo (1989), Encontro de Amor Num País em Guerra, (1997), Nome de Toureiro (1994), Diário de um Killer Sentimental (1999), História de uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar (1996), Patagónia Express (1996), As Rosas de Atacama (2000), O General e o Juiz (2003), Uma História Suja (2004), O Poder dos Sonhos (2006).
Luís Sepúlveda já recebeu vários prémios, entre eles, "Prémio Gabriela Mistral de Poesia" (1976), "Prémio Rómulo Gallegos de Novela"(1978), "Primer Prémio de Novela Corta Juan Chabás" (1990), "Prix France de Culture" (1992) e "Prémio Internazionale Ennio Flaiano"(1993).
 

domingo, novembro 11, 2007

Norman Mailer


O escritor norte-americano Norman Mailer, (nascido em Long Branch, Nova Jersei, a 31 de Janeiro de 1923), morreu, ontem, no Hospital de Mount Sinai, em Nova Iorque, Estados Unidos, de insuficiência renal, informou J. Michael Lennon, o seu executor literário e biógrafo oficial. Contava 84 anos.
Duas vezes vencedor do Prémio Pulitzer, Norman Mailer ganhou cedo o epíteto de "enfant terrible" da literatura norte-americana do pós-guerra.
Com opinião formada sobre quase todos os assuntos, o escritor combinou um formidável talento para a escrita com uma atitude de lutador de rua. Ligado à contracultura, autor de 11 romances e vários ensaios e peças de teatro, o autor de "Os nus e os mortos" foi um dos intelectuais mais famosos dos Estados Unidos.
Com escritores como Gore Vidal, Tom Wolfe e John Updike, fez parte de um clube único de novelistas e ensaístas que desafiaram e, muitas vezes, ultrajaram os leitores, com as suas reflexões sobre a vida, história e moralidade norte-americanas.
Co-fundador da revista alternativa nova-iorquina "Village Voice", Norman Mailer é também um dos pais do "novo jornalismo", que ajudou a divulgar a partir dos anos 60, com artigos em dezenas de jornais e revistas.
"O fantasma de Hitler" é a sua obra mais recente lançada em Portugal, onde estão também editados "Os nus e os mortos", "O canto do carrasco" (Prémio Pulitzer em 1979), "Os duros não dançam", "O exército da noite" (Prémio Pulitzer em 1968) e "Um sonho americano".
Elogiado e criticado ao mesmo tempo e com a mesma veemência, a primeira obra significativa de Norman Mailer foi o já referido "Os nus e os mortos", de 1948."Deaths for the Ladies and Other Disasters" é o livro de poesia, lançado em 1962.
Dirigiu, ainda, quatro filmes, entre 1967 e 1987 "Wild 90", "Beyond the Law", "Maidstone" e "Tough Guys Don't Dance".
No final dos anos 40, trabalhou em Hollywood como argumentista e o seu terceiro romance, "O Parque dos Veados", é sobre a corrupção dos valores naquele meio cinematográfico. Em 1973, escreveu "Marilyn", sobre a loura estrela de cinema.
Candidato independente a "mayor" de Nova Iorque em 1969, Norman Mailer foi sempre muito crítico da autoridade institucional do seu país.
Apesar de, quando atingiu a meia idade, ter abandonado muitos dos vícios que ostentava (nos quais não faltavam as drogas e o álcool), para muitos críticos, Norman Mailer permaneceu como a autêntica e ultrajante voz de toda uma geração.
"Norman Mailer revolucionou o grande jornalismo do século XX e, como consequência, o próprio romance de actualidade", declarou o jornalista e escritor Fernando Dacosta.
"De maneira muito habilidosa, Mailer parte de factos concretos, de acontecimentos e figuras reais e depois conta a história disso usando as técnicas da grande ficção". O resultado é a construção de "textos que são, ao mesmo tempo, obras-primas do jornalismo e da literatura".
Para Dacosta, chavões como objectividade empobrecem o jornalismo e Mailer "fica na história como uma figura de charneira" dessa corrente que, nos Estados Unidos, rompeu com preconceitos existentes no jornalismo, como Truman Capote e Ernest Hemingway.
Em Portugal, o escritor José Cardoso Pires, "fascinado pelo 'novo jornalismo', escreveu dentro dessa linha a 'Balada da Praia dos Cães'", disse.
Por seu lado, o também jornalista e escritor Baptista-Bastos considerou Norman Mailer um "grandessíssimo e importantíssimo escritor, que saiu da linha da grande tradição liberal norte-americana, cujos valores não são os mesmos dos actuais, e é quem mais se aproxima de Ernest Hemingway".
Acrescentou que Mailer era igualmente um "homem violentíssimo", que tinha um enorme "peso por ser judeu" e que interveio sempre de forma "extremamente violenta" na sociedade norte-americana.
Baptista-Bastos, recorda, a propósito, o livro "Os exércitos da noite", publicado em Portugal pela D. Quixote antes do 25 de Abril de 1974 e que foi "imediatamente apreendido pela PIDE"."
Apesar de ser acusado pelas feministas de ser um machista do piorio, e era-o porque até batia nas mulheres, Mailer era um escritor fenomenal", frisou.Fonte: JN.