A 10 de Março de 1959, o Dalai Lama foi convidado a assistir a um espectáculo no acampamento militar chinês nos arredores da capital tibetana, Lhasa. O convite especificava que devia vir sem escolta e os tibetanos acreditaram que os chineses queriam raptar o seu líder espiritual. Saíram em massa à rua num dia que ficou até hoje como um símbolo da revolta tibetana, que Pequim reprimiu violentamente nos dias seguintes.
A 17 de Março, a residência de Inverno do Dalai Lama era bombardeada pelos chineses. Tenzin Gyatso, então com 23 anos, decidiu deixar Lhasa. Disfarçado de soldado tibetano, com uma arma ao ombro, saiu do palácio de Norbulingka e passou pela multidão que rodeava o edifício.
Esperava-o uma caminhada de 13 dias através do Himalaia até à fronteira com a Índia, onde o Governo de Jawaharlal Nehru lhe daria asilo. Mas quando partiu, ainda não tinha escolhido um destino. "Se deixasse Lhasa, para onde iria, quem me daria asilo? Não sabíamos aonde a jornada nos conduziria nem como terminaria", escreveu na sua autobiografia. Mas a fuga não foi improvisada: uma parte do tesouro do palácio de Potala tinha sido previamente embalada para a viagem. Após deixar o palácio, o grupo de 20 pessoas, incluindo os familiares próximos do Dalai Lama, atravessou o rio Kyichu e viajou sob a protecção dos guerrilheiros Kampa, apoiados pelos EUA. Mas ninguém sabia da fuga, dentro e fora do Tibete, sustenta o governo tibetano no exílio.
Os chineses deram pela falta do Dalai Lama dois dias depois: a vigilância apertou, obrigando o grupo a viajar de noite, apesar das temperaturas negativas. Flechas disparadas por arqueiros transportavam mensagens sobre os desfiladeiros, avisando os aldeões para prepararem animais e guias para os fugitivos. As pontes de bambu foram cortadas e todos os caminhos foram bloqueados, excepto o que conduzia ao desfiladeiro de Khenzimana, na fronteira com a Índia, onde o Dalai Lama chegaria a 31 de Março. (Público).
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