segunda-feira, fevereiro 27, 2006

Uma Questão de Mentalidade

“Na sua acção governamental as dissenções são perpétuas. Assim o partido histórico propõe um imposto: porque não há remédio, é necessário pagar a religião, o exército, a lista civil, a diplomacia… - propõe um imposto:
- Caminhamos para a ruína! Exclama o presidente do concelho – O deficit cresce! O País está pobre A única maneira de nos salvarmos é o imposto que temos a honra, etc…
…- Como assim! Exclamam todos, mais impostos!?”

O parágrafo transcrito é uma citação e, normalmente, no fim de o fazer coloca-se o nome do seu autor e o lugar de onde ela foi retirada. No entanto, aquilo que se pretende realçar com este texto, e com o intuito de mais facilmente nos apercebermos do quanto é caricato o momento em que se encontra o País, optei por aguardar para o fim deste texto para fazer a revelação.
Após o 25 de Abril, os governos foram-se sucedendo, os ministros foram-se substituindo, o País foi crescendo, com a melhoria substancial da rede viária, aproximando as populações, com o investimento na Educação, factor indispensável ao desenvolvimento de qualquer País, na saúde, na modernização, etc, tudo isto com vista à melhoria da qualidade de vida das populações.
Quando se esperava um reforço do exercício da cidadania, eis que surge um problema de difícil resolução. Infelizmente, com todas as mudanças que o País sofreu, os habitantes e a sua mentalidade continuam os mesmos. Vejamos então o que isto significa.
A classe política está num processo acelerado de perda de credibilidade, quer os governos quer as oposições. Os dois maiores partidos, PS e PSD, foram-se substituindo, governo institucional após governos institucional, e a cada troca, aparentemente, mais do mesmo.
Os discursos do governo empossado resvalam, invariavelmente, para as críticas ao anterior, ao mesmo tempo que prometem dar um rumo ao País o que, convenhamos, está cada vez mais difícil.
O partido que saiu do governo (passou portanto para a oposição) inicia a sua rota em direcção ao poder através de campanhas de críticas, mais ou menos lógicas, mais ou menos honestas, mais ou menos desprovidas de convicções e valores. A maioria das vezes limitam-se a acompanhar a opinião pública com óbvio interesse de o capitalizar em votos.
O governo em funções avisa a navegação de que é difícil melhorar a situação devido à pesada herança e que vão ser necessários sacrifícios, antes de se conseguir alterar o caminho que estava a ser seguido rumo à perdição.
Entretanto no parlamento, temos as dissenções. O actual modelo de funcionamento é de utilidade questionável. Não se percebe qual o propósito dos debates e muito menos se percebe como alguém pode pensar que estas discussões trazem algum beneficio para o País. Os argumentos utilizados dissolvem-se na intenção com que os aplicam, uma vez que nunca há consenso visível, vislumbrando-se apenas sucessivas acusações de incompetência e de ausência de bom senso.
Aliás, a palavra discussão adquiriu uma conotação pejorativa no parlamento. Em bom rigor, para as coisas terem algum nexo e face a um qualquer problema, deveriam surgir propostas, que seriam debatidas, sobre as quais todos deveriam opinar, no sentido da obtenção do maior consenso possível. Esta é a única forma de impedir que as leis surjam em resultado de uma imposição por maioria de voto, facto que implica que a cada alteração de governo se altere também a legislação.
E assim, de pesada herança em pesada herança, está o povo como o tolo no meio da ponte, sem saber para que lado se virar, porque uns dizem que é assim, outros dizem que é assado apenas porque o comportamento esperado é contradizer em absoluto os adversários políticos. E, porque não acredita nem nuns nem noutros, por desespero por falta de expectativas, dá um mergulho no rio, onde se pode safar sozinho sem ter que ouvir ninguém.
Tudo se resume, portanto, a uma questão de credibilidade. Quem não confia, não age de acordo com o interesse comum, mas reage permanentemente de forma a auto preservar-se. Arranjam-se uns esquemas, foge-se aos impostos, perde-se o sentido comunitário e é cada um por si. Não é egoísmo, é a exteriorização do factor humano. E os esquemas são infindáveis. Se há uma possibilidade de contornar a lei, os portugueses encontram-na. Sejam os empresários que ao formarem uma empresa criam logo várias para diluir os lucros e não pagarem impostos, ao mesmo tempo que contratam o melhor contabilista possível que os ajude a fugir. Sejam os acordos entre patrões e empregados para nunca declarem aquilo que realmente ganham. Sejam os ordenados dos profissionais liberais. Sejam os que estão a receber o fundo desemprego e a trabalhar, ou de baixa e a trabalhar. Sejam as falências fraudulentas onde fecham numa porta e abrem noutra, a lista é interminável.
Para além disso, um português gasta mais do que pode, uma família de portugueses gasta mais do que pode, uma cidade de portugueses gasta mais do que pode e, como seria de esperar, o estado português gasta mais do que pode. Isto não é uma conclusão retórica, é algo cultural, enraizado até ás profundezas na nossa alma.
Assim, o problema não é apenas dos governantes, mas também dos governados, até porque dos últimos são escolhidos os primeiros. Há, claramente, uma questão de mentalidade cultural que exige um esforço concertado para se conseguir uma inversão nos comportamentos. O trabalho para mudar as coisas tem que começar por aqui de maneira a acabar-se com expressões deste género: Quem eu? Não pago os impostos. Vou dar o dinheiro ao Estado, não?
A questão é começar por onde. Provavelmente é tentar perceber qual a influência que o nível de analfabetismo do nosso País tem no que respeita à importância dada ao exercício da cidadania na sua plenitude, principalmente o pagamento dos impostos.
Em primeiro lugar, o incumprimento por este motivo é elevadíssimo. A essência deste problema reside na ignorância existente, em resultado do analfabetismo, cuja consequência é uma visão redutora da sociedade, da vida e do mundo. A génese está, portanto, na incapacidade destas pessoas em vislumbrar numa perspectiva mais abrangente.
Em segundo lugar, há também aqueles que tiveram acesso à Educação escolar e de quem se esperaria algo mais, sobretudo que soubessem o lugar que ocupam na sociedade e cumprissem com as suas obrigações de forma natural. Em vez disso, revelam uma atroz falta de formação cívico a este respeito. Qual o motivo? A construção das suas personalidades foi feita numa matriz cultural pobre, indissociável da ignorância, do qual não se conseguem libertar.
Por um lado, se a percentagem de população que não sabe ler e escrever é cada vez menor, já os que o sabem fazer e não sabem interpretar o que lêem é cada vez maior. São os chamados analfabetos funcionais. O exemplo mais elucidativo que conheço: Quem é que nunca foi a uma agência bancária e o funcionário não colocou uma cruz no local de assinatura. E porquê? Porque a maioria das pessoas não se dá ao trabalho de interpretar o formulário.
Por outro lado, os que não são analfabetos funcionais e optam por não cumprir as suas obrigações, deveria ser cada vez menos mas, ao que parece, não são. O seu comportamento é altamente recriminável, pois agem em consciência. A acção sobre estes deveria ser ainda mais incisiva. No entanto, a leis também têm que mudar. A prescrição das dívidas fiscais é impensável. Quem não cumpre, está a roubar toda a gente. Ao mesmo tempo que beneficia dos direitos que os cumpridores têm, direitos estes que são garantidos pelo dinheiro dos impostos. Vai para tribunal e, através das manobras conhecidas de todos os advogados, continuam a roubar toda a gente, pelos atrasos na Justiça que levam as prescrições. O sentimento de impunidade resultante desta inoperância leva a que, inevitavelmente, o comportamento seja recorrente.
Curioso é que nos Países mais desenvolvidos, para além de todos serem fiscais de todos, a questão do pagamento dos impostos é de uma importância tal que, pelos motivos já referidos, temo nunca venha a ser entendida pelos portugueses. Por exemplo dos E.U.A. a fuga aos impostos é severamente punida. Um dos gangsters mais famosos da época de lei seca, Al Capone, apenas foi apanhado pelo seu némesis, o intocável Elliot Ness, por fuga aos impostos e não pelos seus outros crimes tão sobejamente conhecidos.
É neste ponto que se revela a importância da Educação no desenvolvimento de um País. Em 1900 na Inglaterra existiam cerca de 3% de analfabetos. Hoje, em Portugal, são muito mais que isso. A inteligência colectiva desta matriz populacional é incomparável. O ideal comum, a ideia de nação é muito mais fácil de implementar num País onde é intuitivo acreditar nas instituições, como um valor de todos, porque elas são mais importantes que as pessoas que por vezes as lideram. Todos sabem que sem as instituições seria a anarquia.
Em Portugal, nada disto se passa. O exemplar exercício da cidadania é uma espécie de doença contagiosa de que se foge a sete pés, o País dos esquemas, onde Chico-esperto é valorizado socialmente pela sua capacidade de ludibriar. Tudo o que existe em Portugal é o resultado da contribuição de alguns, dividido por todos, os que podem e contribuem, os que não podem contribuir e os que podem e não contribuem. No entanto, estes últimos, não deixam de se queixar das reformas baixas, dos funcionários públicos, do sistema nacional de saúde, enquanto beneficiam de tudo sem nada contribuírem. Quando se divide o que é pago por poucos por muitos, o resultado não pode ser bom. A realidade está à vista. Um País onde cada palavra é mal interpretada por que é mal entendida ou não entendida de todo, onde por natureza se desconfia de todos os outros é um País sem futuro. Se todos em conjunto não intervierem neste combate pela inversão das mentalidades, única forma de levar o País a bom porto, é inevitável a queda num poço sem fundo, a caminho, lenta e inexoravelmente, de uma situação de caos social. Se calhar é isto que é preciso, cair no fundo para que o que tem de melhor sobressaia, que a solidariedade nas causas menores seja transposta para as grandes causas, que a ousadia, a coragem de outros tempos regresse e assim se possa fazer de Portugal algo grandioso.
Finalmente, voltando à transcrição inicial que serviu de introdução ao texto. Há 135 anos Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão (Farpas Julho de 1871) escreveram aquele parágrafo que, vergonhosa e inacreditavelmente, não perdeu qualquer actualidade. Dá que pensar não dá?

Filipe Pinto.

sábado, fevereiro 25, 2006

Peter Benenson e a AI


Peter James Henry Solomon Benenson nasceu no dia 31 de Julho de 1921, em Londres e morreu no hospital John Radcliffe, em Oxford, faz precisamente um ano, em 25 de Fevereiro de 2005. Neto de um banqueiro judeu de origem russa, Benenson nunca passou por grandes dificuldades materiais. Na escola, preocupava os professores devido às suas “tendências revolucionárias” e aos 16 anos organizou a sua primeira campanha para obter apoios para a causa dos órfãos republicanos da guerra Civil Espanhola.
Quando se candidatou a Oxford, escolheu o curso que acreditava poder dar uma outra dimensão aos seus protestos: Direito. No entanto, quando se viu numa sala de audiências, apercebeu-se de que não seria assim.
Aos 39 anos, ao folhear um jornal, uma notícia chamou-lhe a atenção.

Referia que dois jovens tinham sido presos pelo regime de Salazar por terem gritado “Viva a Liberdade!” na via pública. Ao lê-la, Benenson sentiu-se mais impotente do que nunca. Indignado, lançou um apelo no sentido de se organizar uma ajuda prática às pessoas presas devido às suas convicções políticas ou religiosas, ou em virtude de preconceitos raciais ou linguísticos.
Nessa mesma manhã escreveu um artigo de protesto e apelo, intitulado The Forgotten Prisoners (Os Prisioneiros Esquecidos), que foi publicado na edição de 28 de Maio de 1961 do jornal "The Observer".
O artigo começava assim: “Abra o seu jornal em qualquer dia da semana e encontrará uma notícia que numa parte do mundo alguém foi detido, torturado ou executado, porque as suas opiniões ou religião são inaceitáveis para o governo do seu país... O leitor do jornal sente um mau estar de impotência. Contudo se estas sensações de indignação puderem ser unidas numa acção conjunta, algo de efectivo pode ser feito”.
O seu artigo estava ilustrado com fotografias de seis presos de Angola, Estados Unidos, Grécia, Hungria, Roménia e Checoslováquia, que tinham em comum terem sido presos por dissidência de opinião. O advogado então lançou um “pedido de amnistia”.
Nascia assim a Amnistia Internacional (AI). Uma jovem artista inglesa, Diana Redhouse, desenhou o logótipo do movimento: uma vela cercada por um arame farpado. Em seguida surgiram as ofertas de ajuda e foi confiada a cada militante a missão de adoptar três prisioneiros, um do bloco comunista, um do Ocidente e um do Terceiro Mundo. A neutralidade do movimento era primordial. Depois de um ano de existência, a Amnistia Internacional estava encarregada de 210 prisioneiros. Uma regra sagrada guiava todos seus membros: os “adoptados” não deviam ter empregue a violência, nem tê-la incentivado.
Com o passar dos anos, a lista de presos – e de libertados – amplia-se. Entre eles, há uma multidão de anónimos, mas também são muitos os prisioneiros célebres, como o russo Andrei Sakharov, o dramaturgo checoslovaco e futuro presidente checo Vaclav Havel, o pianista argentino Miguel Angel Estrella, a democrata birmanesa Aung Saan Suu Kyi (que ainda se encontra presa), os dissidentes chineses Wei Jingsheng e Fang Lizhi, da “Primavera de Pequim”, o sul-coreano Kim Dae-Jung, entre muitos outros. O prisioneiro político mais famoso, o sul-africano Nelson Mandela, sempre foi defendido pela Amnistia Internacional, mas jamais foi adoptado porque promoveu a violência como acção política.
A Amnistia Internacional realiza, a nível mundial, campanhas que tentam obter a libertação de prisioneiros de consciência, a realização de julgamentos imparciais para todos os prisioneiros, o fim generalizado da pena de morte, da tortura e de outros tratamentos desumanos, bem como a cessação das execuções extrajudiciais e dos “desaparecimentos”. Situa-se à margem das organizações políticas e económicas, baseando a sua acção na Declaração Universal dos Direitos do Homem.
Tem um voto consultivo junto da Organização das Nações Unidas (ONU), da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), do Conselho da Europa, da Organização dos Estados Americanos (OEA), da Organização da Unidade Africana (OUA).A AI possui 1,8 milhões de membros e delegações em 50 países. Para garantir a imparcialidade da AI, cada grupo ocupa-se de casos ou campanhas relativas a outros países diferentes do seu, escolhidos pela sua diversidade geográfica e política. A investigação sobre as violações dos direitos humanos e sobre as vítimas é conduzida pelo Secretariado Internacional da organização. Em 1977, foi-lhe atribuído o prémio Nobel da Paz.
Para terminar, ficam as palavras de Peter Benenson, proferidas na comemoração do 40º aniversário da Amnistia Internacional: “Quarenta anos passados a Amnistia Internacional obteve muitas vitórias. Os seus ficheiros estão cheios de cartas de antigos prisioneiros de consciência ou de vítimas de tortura agradecendo à Organização por ter “feito” a diferença. A tortura está proibida por acordos internacionais. Todos os anos mais países rejeitam a pena de morte. O mundo terá brevemente um Tribunal Penal Internacional que assegurará que os acusados dos piores crimes no mundo sejam apresentados à justiça. A mera existência do Tribunal será dissuasora de alguns crimes. Mas os desafios ainda são grandes. A tortura está proibida, mas em dois terços dos países do mundo ela ainda é praticada em segredo. Demasiados governos permitem que os seus agentes façam detenções arbitrárias, matem ou façam “desaparecer” pessoas, com total impunidade. Aqueles que hoje ainda sentem um sentimento de impotência podem fazer algo: apoiar a Amnistia Internacional, podem ajudá-la a impor-se pela justiça e liberdade. Em 1961 escrevi, “A pressão da opinião pública há 100 anos teve como consequência a emancipação dos escravos.” A pressão da opinião pública é agora necessária para ajudar a Amnistia Internacional a alcançar o seu objectivo máximo: deixar de ser necessária. Só então quando o último prisioneiro de consciência for libertado, quando a última câmara de tortura for fechada, quando a Declaração Universal dos Direitos Humanos for uma realidade para todo o mundo, o nosso trabalho estará terminado”.

sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Capote, Truman Capote.


O filme “Capote” é um ensaio biográfico sobre uma parte da vida de Truman Capote, mais precisamente, as peripécias porque passou o escritor, para fazer o relato do quádruplo homicídio de uma família do Kansas em 1959, que daria origem ao género de romance documental, com o seu livro “A Sangue Frio”.
Em 15 de Novembro de 1959, o escritor Truman Capote (Philip Seymour Hoffman, que excelente interpretação deste actor!) lê um artigo no New York Times que descreve o homicídio de quatro membros de uma abastada família do Kansas: a família Clutter. Capote pensa que esta é a oportunidade de provar a sua teoria, de que a realidade pode ser tão emocionante como a ficção e convence a revista New Yorker a dar-lhe o caso. Viaja para o Kansas e a acompanhá-lo vai Harper Lee (Catherine Keener), sua amiga desde a infância no Alabama e que irá vencer o Prémio Pulitzer e alcançar a fama com o livro "Por Favor Não Matem a Cotovia".
No Kansas a sua estranha forma de vestir e a sua maneira de ser, dão origem a alguma hostilidade, mas acaba por ganhar a confiança do Agente Alvin Dewey, que é o chefe da polícia e líder da investigação. Pouco tempo depois os homicidas (Perry Smith (Clifton Collins Jr.) e Dick Hickock (Mark Pellegrino) são apanhados em Las Vegas e devolvidos ao Estado do Kansas para serem julgados. Acabam por ser condenados à morte. Capote trava conhecimento com eles e começa a fazer sucessivas visitas à prisão, para tomar conhecimentos de todos os pormenores da factídica noite de 14 de Novembro de 1959. À medida que os vai conhecendo, descobre que aquilo que inicialmente tinha sido pensado como um artigo de revista cresceu e deu lugar a um livro, um livro que poderia tornar-se um dos mais importantes na literatura moderna. O seu tema é agora tão profundo, como qualquer outro tratado, pelos grandes escritores americanos: é o choque entre duas Américas, o país seguro que os Clutter conheciam e o país desenraizado e amoral habitado pelos seus assassinos.
O filme está nomeado para cinco Oscar’s da Academia Cinematográfica de Hollywood: melhor filme, realizador (Bennett Miller), argumento (Dan Futterman), actor (Philip Seymour Hoffman) e actriz (Catherine Keener). A National Society of Film Critics, associação que reúne 45 dos mais destacados críticos de cinema norte-americanos, elegeu este filme, o Melhor Filme de 2005.

Ficha técnica:
Titulo:”
Capote”
Título original: ”Capote”
Realização: Bennett Miller
Elenco: Phillip Seymour Hoffman, Catherine Keener, Clifton Collins,
Jr., Chris Cooper
Género: Biografia/Drama
Origem: Canada/EUA
Ano:2005
Duração: 98 minutos

Truman Streckfus Persons nasceu em Nova Orleães, a 30 de Setembro de 1924, filho de um vendedor e de uma adolescente de 16 anos. Os seus pais divorciaram-se quando Truman tinha quatro anos, pelo que passou a ser criado por familiares próximos, residentes em Monroeville, no estado de Alabama. Quando a sua mãe voltou a casar, Truman mudou-se para Nova Iorque, adoptando o apelido do padrasto. Aos 17 anos desistiu dos estudos e começou a trabalhar na revista The New Yorker, atraindo desde logo as atenções pela sua forma excêntrica de vestir.
Em 1949, Capote viajou para a Europa, onde escreveu ficção e não-ficção e argumentos para cinema e teatro.
Após ter alcançado cedo o sucesso como escritor de prosa brilhante nas histórias de Other Voices, Other Rooms (1948), que retratava uma relação homossexual, e no romance Boneca de Luxo (1958), já de regresso aos EUA, a carreira de Capote decaiu até que o sensacional «romance não ficcional» A Sangue Frio (1965) fez dele uma celebridade.
Entre as suas obras posteriores incluem-se Music for Chameleons (1980) e a obra publicada a título póstumo Answered Prayers (1986), um romance inacabado constituído por escandalosos boatos sobre colunáveis.
A sua bibliografia inclui:A Tree of Night and Other Stories (1949), Local Color (1950), The Grass Harp (1951), Beat the Devil (1954), The House of Flowers (1954), The Muses have Heard (1956), The Innocents (1961), Observations (1959), Selected Writings (1963), A Christmas Memory (1966), The Thanksgiving Visitor (1967), Among The Paths to Eden (1967), Laura (1968), House of Flowers (1968), Trilogy (1969), Experiment in Multimedia (1969), Behind Prison Walls (1972), The Glass House (1972), The Dogs Bark (1973), Crimewatch (1973), Then it all Came Down (1976), One Christmas (1982), Conversations With Capote (1985), Súplicas Atendidas (1986), um retrato dos vícios e da perversão dos intelectuais e artistas que Capote conhecera, A Capot Reader (1987) e Marilyn Monroe: Photographs 1945-1962 (1994).
O escritor faleceu em Los Angeles a 25 de Agosto de 1984, devido a problemas causados pelo consumo exagerado de álcool.

O Pretexto


A determinada altura pensei em escrever algo sobre as caricaturas do profeta Maomé. Reflecti sobre o assunto e o que escrevi pareceu-me insuficiente para tentar enquadrar os acontecimentos à luz da minha avaliação da condição humana nos países muçulmanos. Já nem sei onde coloquei o texto. No entanto, os recentes acontecimentos no Iraque e a iminência de uma guerra civil revelam que os problemas são mais complexos e de difícil, se não mesmo impossível, resolução.
É que, sejamos sérios, os protestos não são apenas contra as caricaturas em si, ou seja apenas de cariz religioso, mas principalmente um reflexo do permanente ressentimento que deriva da incomparável qualidade de vida no ocidente.
O incitamento ao ódio religioso e a existência de uma enorme insatisfação perante as limitações de qualidade de vida destas sociedades são duas faces da mesma moeda. Os conflitos entre xiitas e sunitas são apenas e só uma consequência da conjugação destes elementos, sendo uma forma de extravasar a raiva e o ódio que resulta de um sentimento de impotência permanente perante os poderes vigentes. É uma espécie de libertação de energias acumuladas sob os incontroláveis comportamentos das multidões que potenciam os comportamentos individuais.
Os incompreensíveis discursos de exaltação religiosos a incendiar as massas são artifícios utilizados por alguns utilizando, precisamente, estes poderosos sentimentos latentes. Há coisas que a história ensina aos poderosos, não é necessário nenhum Maquiavel para demonstrar a um príncipe como actuar para manter e reforçar o poder (o poder corrompe – não é verdade?). As elites dirigentes desta zona, de forma a manterem o seus próprio status social, agem de forma a manipularem as pessoas, demonizando o ocidente, numa espécie de criação de um inimigo comum, que definem permanentemente como sendo um retrocesso moral, aproveitando alguma ignorância generalizada e o medo.
Nem de propósito, ontem aprendi uma palavra nova, plutocracia (influência dos ricos e poderosos nos governos), cujo significado, em conjugação com a oligarquia, se aplica e explica o fenómeno das manifestações muçulmanas. A problemática das caricaturas poderá, por tudo isto, revelar-se substancialmente mais grave que o que neste momento podemos pensar. Ao aprofundar o fosso civilizacional numa matriz já de si complicada de gerir, atendendo ao conflito Israel/Palestina, a emergência dos partidos radicais e as diferenças entre classes sociais que, em lugar de se esbaterem estão-se a agravar, poderá este ser o início de um conflito de grandes proporções.
A alteração deste estado de coisas tem que passar por aqui. Senão vejamos.
As diferenças sociais, que nestes países são mais que evidentes, subsistindo uma espécie de sociedade medieval feudal, radical com acesso à tecnologia do século XXI e a toda a sua capacidade destrutiva. Conjugada com a velocidade com que as suas acções são divulgadas em exaltação heróica, gerando o medo nos agredidos e o fervor religioso nos agressores, condiciona de sobremaneira seja quem for que nasça neste ambiente e não lhes seja apresentada a diferença.
Sem falar por desconhecimento, eu estive na Dinamarca e, apesar de ser Europeu e o nosso país apresentar um razoável nível de vida se comparamos com a maioria (salvo erro estamos no lugar 23 dos índices de desenvolvimento), apercebi-me claramente de que aquilo é outro patamar de desenvolvimento social. Mais importante, é um patamar que todos deveriam almejar atingir e não podemos permitir que se faça uma demonização deste modelo social.
Não existe nenhum país muçulmano que, na globalidade, se possa sequer comparar aos índices de desenvolvimento da Dinamarca. Este é um país que apenas se limita a trabalhar continuamente em prol da melhoria do nível de vida dos seus cidadãos e não em castrar o pensamento livre através da imposição de uma conduta pela interpretação que alguns fazem das palavras dos profetas.
É preciso não esquecer que a Cristandade já sofreu dos mesmos problemas. Em determinada fase da história era impossível distinguir religião de Estado, tais eram as estreitas relações entre um e outro. Só que nessa altura as pessoas forçaram a separação entre estas duas componentes da vida e os países evoluíram.
No entanto, a dependência do Ocidente dos recursos petrolíferos da região e o conluio resultante dos interesses instalados, da sede de lucro que rege os destinos da humanidade nesta fase do desenvolvimento da Espécie, não augura o aparecimento de grandes progressos para esta situação.
Finalmente as declarações do nosso ministro dos negócios estrangeiros.Absolutamente descabidas e a resposta do embaixador iraniano são, no mínimo, de uma gritante ausência de noção do valor da vida humana.
A suas palavras, duvidando dos seis milhões de mortos, utilizando a palavra incinerar perpetrada sobre seres humanos, como que em certa medida desculpabilizando aqueles inqualificáveis actos dos Nazis, resumindo a ignomínia e a discussão do holocausto ao número de mortos, diz tudo acerca de indivíduos que estão na iminência de possuir poder nuclear. Não me parece que hesitem em situações de crise em utilizar as suas armas. Estas pessoas não inspiram nenhuma confiança.

Filipe Pinto.

Nota:Dou as boas-vindas ao meu amigo Filipe Pinto, que escreverá semanalmente, à sexta-feira, na Fábrica.Estamos a ultimar uns pormenores para ser ele a postar directamente.

terça-feira, fevereiro 21, 2006

Frida Kahlo


A maior e mais completa exposição realizada nas últimas décadas sobre a pintora mexicana Frida Kahlo abre as portas a 24 de Fevereiro no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. Vinte e seis obras estarão expostas até 21 de Maio. A exposição - que já passou pela Tate Modern de Londres e pela Fundación Caixa Galicia, em Santiago de Compostela - inclui obras do Museu Dolores Olmedo, no México.Do total das 26 obras apresentadas no Grande Hall do Centro de Exposições destaca-se “A Coluna Partida” (1944), “O Camião” (1929), “Hospital Henry Ford” (1932) e “Auto-retrato com macaco” (1945).A exposição fica completa com uma colecção de fotografias e objectos pessoais da pintora, pertencentes ao museu mexicano.

Frida Kahlo é a mais famosa pintora mexicana de sempre. Magdalena Cármen Frida Kahlo y Calderón, conhecida como Frida Kahlo, nasceu em 6 de Julho de 1907, em Coyoacan, no México e teve uma vida que se pautou por acontecimentos trágicos, os quais exerceram uma grande influência na forma de ver o mundo, que a levaram a abraçar a pintura como forma de poder exteriorizar todos os sentimentos que a assolavam por dentro. Aos seis anos, contraiu poliomielite, o que lhe deixou marcas visíveis na perna direita e no pé esquerdo, que Frida tentou esconder passando a usar calças na adolescência e, mais tarde, compridas saias mexicanas. Aos 18 anos, o autocarro em que seguia Frida Kahlo embateu num eléctrico. A jovem Frida sofreu ferimentos na coluna vertebral, de tal modo graves que os médicos questionavam-se se sobreviveria ou não. Passou nove meses na cama de um hospital, completamente privada de liberdade e de movimentos corporais. Foi precisamente neste período que começou a pintar pela primeira vez, como forma de se distrair do sofrimento que a consumia.

Os auto-retratos, “Eu pinto-me porque estou muitas vezes sozinha e porque sou o assunto que conheço melhor”e as representações de cenas do hospital ou de procedimentos médicos foram retratados de forma a fazer o observador partilhar da sua dor. Retratou a lápis a cena do acidente, sem respeito por regras ou perspectivas. Saída do hospital, e postas de lado as hipóteses de vir a tornar-se médica, Frida Kahlo começou a dedicar todo o seu tempo à pintura, afirmando que a sua obsessão era começar de novo e passar a pintar as coisas tais como os seus olhos as viam. Por esta altura, a artista decidiu quebrar os tabus do seu tempo e passou a representar nos seus quadros imagens muito pessoais, intimamente relacionadas com o corpo e sexualidade femininas. A pintora começa igualmente a relacionar-se com artistas e intelectuais do seu tempo e acaba por casar-se com Diego Rivera, um famoso pintor mural mexicano. Quando se casou com Frida, a família dela comparou a união ao casamento de um elefante com uma pomba - ele era imenso e 21 anos mais velho. Mas os dois formaram o casal de artistas mais original da época. Frida amargou muito com os relacionamentos extra-conjugais do marido, seu grande amor e reconhecido mulherengo. No entanto Frida Kahlo, também viveu romances paralelos com mulheres e homens, o mais famoso com o revolucionário russo León Trotski. Apesar das traições do marido, a maior dor de Frida foi a impossibilidade de ter filhos, o que ficou claro em muitos dos seus quadros. Em 1930, viaja para os EUA com o marido. Frida Kahlo, mais mexicana do que nunca, chocava na sociedade americana, com as suas roupas, risos e gestos. Em Detroit, Frida engravida, mas sofre um aborto, facto que mais de uma vez leva embora o seu sonho de ser mãe. Nesse período, Frida começou a produzir telas, a respeito do aborto, do quarto do hospital e dos sentimentos inerentes a estas perdas. De volta ao México, teve de superar ainda a morte da mãe, mais um aborto e algumas crises no seu casamento com Diego Rivera, que a traía com a sua irmã mais nova, Cristina. Em 1939 parte sozinha para Nova Iorque, onde faz a sua primeira exposição individual, na galeria de Julien Levy, que é um sucesso. Em seguida, segue para Paris, onde é hospitalizada com uma infecção renal, mas também entra no mundo da vanguarda artística dos surrealistas. Conhece Pablo Picasso, Wassily Kandinsky, Marcel Duchamp, Paul Éluard e Max Ernst. O museu do Louvre adquire um dos seus auto-retratos. No mesmo ano, divorcia-se de Diego Rivera, com quem volta a casar-se um ano depois. Em 1942 começa a dar aulas de arte numa escola recém aberta na Cidade do México. Entretanto, o seu estado de saúde piorou, e o colete antes de gesso, foi substituído por um de ferro que impedia até a sua respiração. Em 1946 a sua coluna precisou ser operada. Com fortes dores na perna direita, em 1950 é tratada no Hospital Inglês durante todo o ano. Os médicos diagnosticam a amputação da perna e ela entra em depressão. Entre, 1950 e 1951, Frida Kahlo é submetida a sete operações na coluna, que infeccionam, devido ao colete de uso obrigatório. Depois destas operações, Frida Kahlo volta a pintar sendo-lhe montado um cavalete especial na sua cama para que pudesse trabalhar, deitada de costas. Frida Kahlo pintou até à sua morte, que chegou na madrugada de 13 de Julho de 1954. A mexicana sofredora, tinha 47 anos e causa oficial da morte foi uma embolia pulmonar, no entanto a última anotação no seu diário permite aventar a hipótese de suicídio:"Espero alegre a minha partida e espero não retornar nunca mais."

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Robert Edwin Peary


Robert Edwin Peary, explorador norte-americano nascido em Cresson, Pensilvânia, em 6 de Maio de 1856. Em 1881, alistou-se na marinha americana como engenheiro civil e, por vários anos, serviu na Nicarágua, onde trabalhou pesquisando a possibilidade da construção de um canal. Interessou-se pela exploração Árctica, e fez uma viagem ao interior da Groenlândia, em 1886.
Mais tarde, conseguindo uma licença da marinha, liderou uma expedição à Groenlândia para pesquisas científicas e exploração. Foram feitas importantes observações etnológicas e meteorológicas e, numa longa jornada de trenó à costa nordeste da Groenlândia, explorou a “Terra de Peary”, descobriu o fiorde Independência, e comprovou que a Groenlândia era uma ilha.
Estudou a população de esquimós e conquistou a simpatia dos montanheses do Árctico, uma tribo que o ajudou nas excursões. Outras expedições continuaram o trabalho em 1893-5 e em duas viagens, durante os verões de 1896 e 1897, Peary trouxe para os Estados Unidos alguns meteoritos que encontrou. Um relato de suas experiências árcticas apareceu no livro “Northward over the great Ice”.

Conseguindo outra licença da marinha, liderou outra expedição (1898 - 1902), desta vez com o objectivo de alcançar o Pólo Norte. Só conseguiu chegar aos 84º17’N, mas fez importantes pesquisas na “Terra de Ellesmere”, um estudo sobre a superfície e a composição da calote polar. No seu livro “Nearest the Pole” descreveu os eventos da sua expedição de 1905 – 6, quando alcançou o ponto 87 º6’N, que se encontrava a, apenas, 174 milhas (280 km) do seu objectivo.
Em 1908, Peary lançou-se na sua última tentativa de alcançar o Pólo Norte. Partindo da Terra de Ellesmere, acompanhado de Matthew Henson e quatro esquimós, fez uma arrancada final para o Pólo, o qual, afirmou ter alcançado a 6 de Abril de 1909. Anunciou publicamente ter alcançado seus objectivos porém, ao voltar aos Estados Unidos, descobriu que o Dr. Frederick A. Cook, num relato totalmente falso, havia afirmado ter alcançado o Pólo antes dele.
Seguiu-se uma amarga controvérsia. Cook, que havia sido médico da expedição de Peary de 1891 – 2, sustentou a sua conquista até ao fim da vida, no entanto, o Congresso americano reconheceu o feito de Peary, e ofereceu-lhe os seus agradecimentos em 1911, ano em que se retirou da Marinha, no posto de Contra – Almirante.
De qualquer modo e na realidade, Robert Peary não alcançou o Pólo Norte, ficou, sabe-se hoje, a cinco milhas do objectivo.
A esposa de Peary, Josephine Diebitsch Peary (1863 - 1955) acompanhou-o em várias das suas expedições, e deu à luz, no Árctico, à filha dos dois, Marie Ahnighito Peary.
Robert Peary morreu em Washington, D.C. em 20 de Fevereiro de 1920.

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Abu Ghraib


Novas imagens do abuso de prisioneiros iraquianos por soldados americanos na prisão de Abu Ghraib, no Iraque, foram exibidas nesta quarta-feira pela rede de TV pública da Austrália SBS. As fotografias indicam que a tortura e abusos teriam sido ainda piores do que aquilo que já se sabia. As fotos mostram um preso coberto do que parece ser excrementos, outro preso com um corte na garganta e uma suposta sala de interrogatórios banhada de sangue.
“Estas são as fotografias que o governo americano não quer que você veja”, disse o apresentador da TV australiana antes de exibi-las.
Algumas das novas fotos trazem ângulos diferentes das fotos já famosas em todo o mundo, como a de um homem encapuzado com fios amarrados aos dedos, presos nus obrigados a empilhar-se uns sobre os outros e presos a ser ameaçados com cães.
De acordo com a emissora australiana, as novas imagens já haviam sido exibidas em sessões reservadas a membros do Congresso americano.
As imagens fazem parte de um total de mais de 100 fotos e quatro vídeos que foram confiscados a militares em Abu Ghraib e entregues à Divisão de Investigações Criminais do Exército americano.
De acordo com a televisão australiana, estas imagens são motivo de uma disputa judicial nos Estados Unidos, onde o governo americano se esforça para evitar que a imprensa tenha acesso a publicá-las.
A direcção de informação da estação televisiva australiana justificou a transmissão das fotografias e dos vídeos afirmando que eles revelam a verdadeira dimensão dos maus tratos.

terça-feira, fevereiro 14, 2006

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Os protestos no mundo islâmico contra as caricaturas do profeta Maomé levaram muita gente no Médio Oriente a questionar-se porque é que os muçulmanos não costumam agitar-se da mesma forma quando se trata de questões como democracia e direitos humanos.
Numa região predominantemente governada por regimes absolutistas, há pouco incentivo a manifestações contra restrições a liberdades políticas, desemprego ou violações dos direitos humanos, frequentemente relatadas por organizações internacionais.
Nas últimas semanas, milhares de pessoas saíram às ruas do Médio Oriente para protestar contra as caricaturas publicadas originalmente em Setembro na Dinamarca e posteriormente reproduzidas em vários países. Os manifestantes queimaram bandeiras europeias e gritavam palavras de ordem contra o Ocidente. Diversas Embaixadas foram queimadas no Líbano e na Síria e no Irão.
“Por que vemos hoje toda esta solidariedade no protesto às caricaturas, como se só elas tivessem insultado o profeta Maomé?”, questionou Ali Mahdi em carta publicada no jornal libanês As-Safir.
“Vocês não acham que a injustiça, a tortura, o analfabetismo e as restrições às liberdades (no mundo islâmico) são também considerados insultos ao Profeta, que pediu respeito pelos direitos humanos?”
Um relatório divulgado em Setembro pela ONU dizia que o mundo árabe dificilmente atingirá as metas internacionais de redução da pobreza, da fome e do desemprego até 2015, em parte por causa da má distribuição dos rendimentos.
Jihad Al Khazen, influente colunista do jornal Al Hayat, disse que há consenso entre os muçulmanos de que as caricaturas insultaram a sua religião, algo que não ocorre a respeito de temas como democracia e política. “Mais de mil milhões de muçulmanos concordam que tais caricaturas foram um insulto à sua religião e ao Profeta e rejeitam isso”, afirmou.
“(Mas), não há consenso sobre a democracia. Alguns árabes desprezam a democracia como sendo um produto do Ocidente”.
Osama Safa, director do Centro de Estudos Políticos Libaneses, oferece uma perspectiva diferente. “A maioria dos protestos contra as caricaturas foram abençoados, se não organizados, por governos locais, que incentivaram tais actos desde que não toquem em questões domésticas delicadas”. Safa disse que o elevado desemprego na região faz com que os jovens árabes deixem de lado reivindicações como mais democracia e maior participação política.
“As pessoas preferem ventilar a sua ira num protesto que não irrite as autoridades locais a correrem o risco de perderem o que têm, mesmo que seja pouco, caso façam uma manifestação pedindo mais coisas”, disse a activista política libanesa Nora Mourad. Com agências.

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Agostinho da Silva


Chamaram-lhe utópico, mestre, sábio, visionário, subversivo mas gostava de dizer de si mesmo, que era “um paradoxo”. “Considerando-me paradoxal, dirigem-me o maior elogio”. Agostinho da Silva. Cumpre-se hoje 100 anos do seu nascimento. “Teve vários filhos, assim em números redondos oito”, não tinha número de contribuinte nem bilhete de identidade. Espírito livre, não pactuava com nada excepto com a liberdade de pensamento.
George Agostinho Baptista da Silva nasceu no Porto a 13 de Fevereiro de 1906, o emprego do pai, alfandegário, leva-o do Porto Natal para Barca d’Alba, onde viveu parte da sua infância. Aprendeu a ler aos 4 anos com a sua mãe, Georgina do Carmo Baptista Rodrigues da Silva. Em 1915 a sua família regressa ao Porto, onde Agostinho da Silva faz o exame da 4ª classe .

O pai matricula-o na Escola Industrial Mouzinho da Silveira, a fim de seguir uma carreira técnicoprofissional. O insucesso escolar e a falta aproveitamento aconselham uma mudança área. Em 1917 muda-se para o Liceu Rodrigues de Freitas.
Em 1919 com o esmagamento da “monarquia do Norte”, o pai, Francisco José Agostinho da Silva, é preso e demitido da função pública. Em 1924 Agostinho da Silva conclui o curso geral dos liceus com a classificação de 20 valores e ingressa na Faculdade de Letras do Porto, onde, em 1928, conclui a licenciatura em Filologia Clássica com 20 valores, defendendo uma tese sobre o poeta latino Catulo. Insurge-se contra a extinção da Faculdade de Letras do Porto e com um decreto que impõe a separação dos sexos nas escolas em todos os locais onde existisses mais de uma escola. Começa também a colaborar com a publicação Seara Nova.
Em 1929, com apenas 23 anos, conclui a sua tese de doutoramento: o Sentido Histórico das Civilizações Clássicas. Em 1931 uma bolsa de estudo leva-o até à Sorbonne e ao Collège de France. Dois anos mais tarde, regressa a Portugal e passa a leccionar no Liceu José Estêvão, em Aveiro.
Os textos sobre o desenvolvimento cultural e educativo do país, que divulga nas revistas «Labor» e «Seara Nova», inquietavam Salazar. Apenas dois anos depois de entrar para o ensino público, o professor é exonerado, por se recusar a assinar a Lei Cabral. Um documento onde tinha que jurar não pertencer a nenhuma sociedade secreta. Para além de Agostinho da Silva, só houve mais duas pessoas a dizer não: Fernando Pessoa e Norton de Matos.
Desempregado, Agostinho da Silva começa a dar aulas no ensino privado e explicações particulares. Mário Soares, mestre Lagoa Henriques, Manuel Vinhas, os irmãos Lima de Faria foram apenas alguns dos seus pupilos. O professor inicia também uma série de palestras públicas, de Norte a Sul do país. E começa a publicação dos seus famosos cadernos de iniciação cultural, sobre áreas tão diversas como religião ou arquitectura.
No total 120 cadernos foram escritos e editados por Agostinho da Silva, entre 1937 e 1944. Foram os cadernos «O Cristianismo», editado em 1943, e «Doutrina Cristã», 1944, que abriram um fogo-cruzado entre Agostinho da Silva, Igreja e Estado Novo. Mesmo exonerado, Agostinho da Silva incomodava. Depois de muitos duelos travados na imprensa com personalidades como o padre Raul Machado, da Universidade de Lisboa, ou o cardeal patriarca de Lisboa, Agostinho da Silva acaba preso na cadeia do Aljube. A sua biblioteca é confiscada e inventariada.
Cansado de Portugal, Agostinho da Silva parte para o Brasil, onde deu continuidade à sua «missão» de divulgador cultural. No outro lado do Atlântico, participou na fundação de universidades e centros de estudo, sobretudo fora dos centros urbanos: a Universidade Federal de Paraíba, a Federal de Santa Catarina, a Universidade de Brasília, o Centro de Estudos Africanos e Orientais da Universidade Federal da Baía. Um abraço entre o povo português, africano e brasileiro, foi um sonho que despertou em Agostinho desde novo.
É a ideia de uma Comunidade luso-afro-brasileira que partilha no IV Colóquio Internacional de Estudos Luso-brasileiros, em 1959, na universidade da Baía. No colóquio participa Marcelo Caetano (ainda como reitor e ex-ministro).
Contrariando todas as ideias em que assentava a intervenção o homem que viria a suceder a Salazar, Agostinho lança para a mesa aquilo que considera os verdadeiros problemas das colónias africanas.
«O futuro das ideias e das tradições em geral do mundo africano, a dignidade do indivíduo e a liberdade do homem, o impacto da civilização de carácter familiar sobre uma mentalidade fortemente tribal. E outro problema! Sabermos o que pensarão de nós no futuro milhões de africanos».
Como representante do Brasil, cuja cidadania adquiriu em 1958, esteve no Japão, em Macau e em Timor Leste. Viagens, por onde fundou por exemplo, o Instituto de Língua e Cultura Portuguesa, em Tóquio, o Centro de estudos Ruy Cinatti e o Centro de Estudos Brasileiros, ambos Dili. A chegada da ditadura ao Brasil, traz Agostinho de regresso a Portugal, em 1969. Por cá, passa pela direcção do Centro de Estudos Latino-americanos da Universidade Técnica de Lisboa, e foi consultor do Instituto Cultura e Língua Portuguesa (ICALP). Inicia também um grande contacto com a Galiza e com a Catalunha.
Marcando uma posição de certa forma marginal em relação aos grupos da intelectualidade portuguesa, as suas intervenções, por vezes desconcertantes ou provocadoras, e a sua visão utópica e voluntarista tornaram-no uma figura amada do grande público. Da variada temática a que se dedicou, salienta-se o tema do sentido histórico de Portugal e do povo português e seu futuro.
Nos últimos anos de sua vida, Agostinho da Silva tornou-se extremamente popular, quando, no início dos anos noventa, começou a participar no programa “Conversas Vadias” da RTP2. A partir daí, o avozinho de Portugal conquistou milhões de portugueses, eu incluído, que se colavam ao ecrã para ouvir os seus pensamentos.
Morreu em Lisboa no Hospital de S. Francisco de Xavier num domingo de Páscoa, a 3 de Abril de 1994.
A nível literário publicou a obra de poesia Uns Poemas de Agostinho (1989) e os ensaios Sentido Histórico das Civilizações Clássicas (1929), A Religão Grega (1930), Glosas (1934), Conversações com Diotima (1944), Reflexão (1957), Um Fernando Pessoa (1959), As Aproximações (1960), Fantasia Portuguesa para Orquestra de História e de Futuro (1981) e Educação de Portugal (1989).

domingo, fevereiro 12, 2006

Ai Brasil!


(clicar na fotografia para aumentar)
Mais de 6,5 milhões de brasileiros, cerca de 3,5 por cento da população total do país, vivem condições precárias em favelas, maioritariamente nas grandes cidades, revela um estudo divulgado hoje pelo jornal O Estado de São Paulo.
Metade da população das favelas, como são chamados os bairros pobres nos subúrbios das cidades brasileiras, está concentrada nos Estados de São Paulo (2,07 milhões) e Rio de Janeiro (1,38 milhões).
O estudo divulgado pelo jornal O Estado de São Paulo, com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), revela que a população que vive em favelas aumentou 39 por cento nas capitais dos estados, na última década.
As excepções são as capitais Vitória (Espírito Santo), Florianópolis (Santa Catarina) e Campo Grande (Mato Grosso do Sul), onde o número de pessoas que vivem em favelas diminuiu.
Brasília foi a capital que registou o maior aumento, cerca de 400 por cento, da população que reside em favelas, seguida por João Pessoa (Paraíba), com 265 por cento.
Em Belém, a capital do Estado do Pará, na região Norte do Brasil, cerca de 35 por cento do total da população, a maior proporção entre todas as capitais, vive em favelas.
"Em dez anos praticamente se duplicou o número de ocupações irregulares", disse o secretário municipal de Habitação de Belém, Paulo Queiroz, em declarações ao jornal.Eduardo Marques, professor da Universidade de São Paulo (USP), um dos especialistas ouvidos pelo diário, avançou que a pobreza é um dos principais factores responsáveis pelo aumento da população nas favelas.
Outro factor que contribuiu para o aumento do problema é a migração da população pobre do interior do país para as grandes cidades em busca de emprego.Actualmente, a população brasileira é de cerca de 185,6 milhões de habitantes, segundo dados do IBGE.
LUSA

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

World Press Photo


O canadiano Finbarr O´Reilly, da agência Reuters, foi hoje distinguido com o prémio World Press Photo 2005 por uma fotografia que ilustra a fome no Níger, anunciaram em Amesterdão os organizadores deste prestigiado prémio de fotojornalismo.
A imagem, que o júri considerou «ter tudo - beleza, horror e desespero», retrata um bebé com a mão colocada sobre a boca da mãe e foi tirada num centro de emergência alimentar de Tahoua, no noroeste do Níger, em Agosto de 2005.
«Esta imagem deixou-me assombrado desde a primeira vez que a vi, há duas semanas», comentou James Colton, presidente do júri internacional de 12 membros que escolheu esta como fotografia do ano de entre mais de 80.000 fotografias submetidas a concurso por 4.448 fotojornalistas de 122 países.
«Ficou-me na memória, mesmo depois de ter visto os milhares (de fotografias) em competição. Esta imagem é simples, elegante e comovente», disse, em comunicado.
Finbarr O´Reilly vai receber o prémio e os 10.000 euros que lhe correspondem numa cerimónia marcada para 23 de Abril em Amsterdão.
O World Press Photo foi criado em 1995 pela União de fotojornalistas holandeses (NVF), que quis dar uma dimensão internacional ao seu concurso anual.

Link:worldpressphoto.

Ramos-Horta


O ministro dos Negócios Estrangeiros, Freitas do Amaral, garantiu que Portugal apoiará uma eventual candidatura de José Ramos Horta, a secretário-geral da ONU se houver um consenso entre os membros das Nações Unidas. Em entrevista à SIC Notícias, Freitas do Amaral afirmou que Portugal estará «na primeira linha» para apoiar uma candidatura de Ramos Horta e que já deu essa orientação ao embaixador português na ONU, João Salgueiro. O ministro afirmou que a ONU pediu à diplomacia portuguesa uma opinião sobre a possibilidade de Ramos Horta suceder ao ganês Kofi Annan e que o nome do ministro dos Negócios Estrangeiros de Timor-Leste está numa lista de possíveis candidatos, na posse dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança: Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França e China. O nome de José Ramos Horta já foi citado pelo antigo embaixador norte-americano na ONU Richard Holbrooke como um dos diplomatas com possibilidade de ser o próximo secretário-geral da organização, ressalvando que o facto de Timor-Leste ser um país «muito pequeno» pode prejudicar as suas hipóteses.O próprio Ramos Horta já admitiu, em entrevista a um diário de Macau, que «em política nunca se deve dizer nunca», mas frisou que, por enquanto, não é um concorrente formal ao lugar.
José Luís Ramos-Horta, nasceu em Díli, a 26 de Dezembro de 1949, filho de mãe timorense e pai português, e foi educado numa missão católica em Soibada, fazendo depois estudos superiores nos EUA, onde concluiu o mestrado em relações internacionais, especializando-se em estratégia política em Haia e Oxford. Exerceu várias funções na área da imprensa, rádio e TV em Timor Leste, participando activamente na tomada de consciência política no território, o que lhe valeu o exílio em 1970-71, em Moçambique. A sua actividade política activa remonta a 1974, ano em que fundou a Associação Social-Democrata Timorense (ASDT), de que foi secretário para as relações externas e informações. Viria a desempenhar funções idênticas na Fretilin. Aquando da invasão de Timor pela Indonésia, encontrava-se fora do país, pelo que passou a dirigir, do exterior, a luta do povo timorense, movendo-se nos meios diplomáticos internacionais, procurando a sensibilização para a sua causa e, nomeadamente, o enfraquecimento da posição indonésia junto ao governo dos EUA, país onde residiu até 1989. Passou a chefiar a delegação da Fretilin junto à ONU, tornando-se o representante pessoal de Xanana Gusmão após a prisão deste. Simultaneamente, prosseguiu os seus estudos, concluindo, em 1984, um mestrado em estudo da paz. Dirige, desde 1990, o centro de estudos diplomáticos da Universidade de Nova Gales (Sidney) onde é também professor. O seu trabalho em prol da defesa da causa timorense valeu-lhe, em 1995, o prémio «Activista Internacional do Ano - 94» (da fundação norte-americana Gleitsman) e, em 1996, o Prémio Nobel da Paz, que compartilhou com D. Ximenes Belo, bispo de Timor, prémio este que muito contribuiu para o reavivar das esperanças quanto ao reconhecimento da questão dos direitos humanos e da autodeterminação do povo de Timor-Leste. Em Dezembro de 1999, Ramos-Horta conseguiu finalmente pisar o solo timorense, depois de 24 anos de exílio. Depois da independência de Timor Leste, Ramos-Horta tornou-se ministro dos Negócios Estrangeiros, cargo que ocupa actualmente.

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Pensamento com Cafeína

...Ou politicamente incorrecto.
A esmagadora maioria dos muçulmanos não são fundamentalistas, a maioria dos fundamentalistas não são terroristas, mas a maioria dos terroristas são muçulmanos.

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Pensamento Descafeinado

Com esta espiral de violência nos países islâmicos, é desejável para o mundo, que os hindus não se revoltem contra os cristãos e muçulmanos, por estes andarem a comer uma das suas divindades: a vaca.

Último Post Sobre as Caricaturas


A revista satírica francesa Charlie Hebdo publicou hoje uma série de caricaturas do profeta Maomé, entre elas as 12 divulgadas em Setembro pelo jornal dinamarquês Jyllands-Posten, que provocaram a onda de violência no mundo islâmico.
"A Charlie tenta analisar a polémica e as suas consequências. Queremos mostrar que a liberdade de expressão deve ser mais forte do que a intimidação", afirma a revista no seu editorial.
A primeira página do jornal, (na foto) com o título “Maomé ultrapassado pelos fundamentalistas”, mostra uma caricatura que representa o profeta Maomé, com as mãos no rosto, chorando e dizendo: “É duro ser adorado por idiotas”.

terça-feira, fevereiro 07, 2006

Concurso de Caricaturas sobre Holocausto


O jornal mais vendido do Irão, o Hamshahri, lançou um concurso internacional para encontrar a melhor caricatura sobre o Holocausto e os crimes dos Estados Unidos, sob o título "Onde está o limite da liberdade do Ocidente?".
O jornal faz este concurso, num gesto de retaliação pela publicação em jornais europeus das caricaturas do profeta Maomé.
O diário Hamshahri disse que o concurso foi pensado para testar os limites da liberdade de expressão—motivo dado por muitos jornais europeus para publicar as caricaturas de Maomé.Reuters.
O presidente iraniano (na foto), Mahmoud Ahmadinejad, foi condenado internacionalmente no ano passado, quando declarou que o Holocausto era um “mito” e que Israel deveria ser “riscado do mapa”.
Tenho a certeza que ninguém na Europa vai queimar bandeiras iranianas, nem fazer manifestações contra a caricatura vencedora.


Reacção da presidência austríaca da UE:

O presidente em exercício da União Europeia criticou hoje a "espiral de provocações" traduzida no lançamento de um concurso e na publicação de caricaturas sobre o Holocausto em resposta à publicação das caricaturas de Maomé na Europa."Essas caricaturas (sobre o Holocausto) põem em causa factos que até agora nunca foram contestados pela maioria do mundo islâmico.

Peço a todos os envolvidos que ponham fim à espiral de provocações e insultos recíprocos", afirmou o chanceler austríaco, Wolfgang Schuessel, num comunicado hoje divulgado pela presidência austríaca."
A publicação de caricaturas depreciativas de Maomé e a negação ou a troça do Holocausto não têm lugar num mundo em que as culturas e as religiões devem viver lado a lado num espírito de respeito mútuo", acrescenta o texto.Schuessel referia-se à publicação na página Internet da Liga Árabe Europeia - uma organização muçulmana de acompanhamento dos imigrantes com sede em Antuérpia (Bélgica) - de uma caricatura mostrando Hitler na cama com Anne Frank e outra em que "especialistas" se interrogam sobre o número e a confissão dos mortos de Auschwitz.
O chanceler austríaco referia-se também ao lançamento, segunda- feira, pelo jornal Hamshahri, o mais importante diário iraniano, de um concurso internacional de caricaturas sobre o Holocausto dos judeus pelo regime nazi na II Guerra Mundial.
Na terça-feira, a presidência austríaca da União Europeia pediu ao Alto Representante da UE para a Política Externa, Javier Solana, que medeie o conflito gerado pelas caricaturas de Maomé junto da Organização da Conferência Islâmica, OCI.
Segundo um comunicado oficial, a ministra dos Negócios Estrangeiros austríaca, Ursula Plassnik, pediu a Solana que viaje para Jeddah, na Arábia Saudita, para conduzir o diálogo com a OCI sobre medidas a tomar para reduzir as tensões suscitadas pelas caricaturas.
Segundo a ministra, Ekmeleddin Ihsanoglu, o secretário-geral da OCI, uma organização que reúne 57 países islâmicos, manifestou claramente o seu descontentamento com os recentes ataques contra representações diplomáticas europeias em países muçulmanos e considerou que actos de violência desse género "ultrapassam os limites dos protestos legítimos", pelo que "não devem repetir-se".
Plassnik sublinhou que, numa situação delicada como esta, é mais importante do que nunca chegar a "um consenso internacional contra a violência" e encorajar todas as partes moderadas a dialogarem.
O presidente do Parlamento Europeu, Josep Borrell, pediu por seu lado aos 'media' europeus que exerçam "com responsabilidade" o direito à liberdade de expressão e evitem uma escalada da tensão.Lusa.

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Bob Marley


Ele cantou o desejo de uma África unida, protestou contra o racismo e a opressão colonial, proclamou a necessidade dos negros lutarem pela sua libertação.
Nas ruas da Cidade do Cabo, é mais conhecido que Elvis Presley. No Rio de Janeiro, rivaliza com os Beatles. Em Moscovo, os olhos tristes e os longos cabelos em "dreadlocks" são tão conhecidos como a barba e boina de Che Guevara. Em Londres, a iconografia "rasta" que popularizou continua presente em todo lado. Na Jamaica é Deus. Herói da música reggae e símbolo do movimento rastafari, Bob Marley completaria hoje 61 anos se fosse vivo.
Bob Marley, de seu verdadeiro nome, Robert Nesta Marley, nasceu a 6 de Fevereiro de 1945 em S.Ann, na Jamaica. Nos finais dos anos cinquenta a sua família muda-se para Trench Town, um subúrbio de Kingston.
A sua estreia em disco aconteceu em 1962, tinha então 17 anos, com o single "One Cup of Coffee". Dois anos mais tarde surgiram os Waillers cuja a formação inicial era composta por Bob Marley, Peter Tosh, Bunny Livingston, Junior Braithwaite e Beverley Kelso. Bob Marley parecia decidido a devolver o Rock ao ritmo seu inspirador e gravou então um tema ska "Simmer down", que foi um hit na Jamaica. Alterou entretanto a formação dos Wailers, mas nem por isso terminaram os êxitos. Bob Marley aspirava a ultrapassar fronteiras.O salto começa a ser dado em 1969 quando o cantor e o grupo gravam dois álbuns, "Soul Rebel" e "Soul Revolution".Vem o ano de 1970 e Bob Marley e os Waillers começam a pregar a doutrina do rastafarianismo.Como símbolos da sua fé na filosofia de Ras começam a usar cores vermelhas, verdes e cor de laranja e a usar cabelos entrelaçados, moda que ficou conhecida em Inglaterra com o nome de "dreadlocks". O ideário é plenamente assumido pelo grupo - a luta armada é encarada como inevitável. A violência que oprime também há-de servir para libertar. É disto que Bob Marley e os Waillers, em canções cada vez mais politizadas, começam a falar. A música assume assim a dimensão de religião. Dois trabalhos testemunham esta profissão de fé : "African Herbsman" e "Rasta Revolution". Em 1973 a Island Records, a que o grupo se tinha entretanto ligado, permite a gravação do sofisticado "Catch a Fire". Ainda no final de 1973 grava "Burnin'". Este trabalho seria um fracasso, compensado no entanto, por Eric Clapton que inclui no seu álbum "461 Ocean Boulevard" o tema de Marley "I Shot the Sheriff". Esta composição depois editada em single, alcançaria o top de vendas nos EUA e em Inglaterra. "Natty Dread", gravado em 1975 e que assinala a saída de Peter Tosh e Bunny Livingston dos Waillers, contém algumas das composições mais memoráveis de Bob Marley: "Lively Up", "Yourself" "Them Belly Full", "Natty Dread" e "No Woman, No Cry". Todas as atenções ficam viradas para Bob Marley e uma digressão triunfante pela Inglaterra e Estados Unidos fazem dele um novo ídolo.Um single gravado ao vivo contendo "No Woman, No Cry", gravado no Lyceum, em Londres, assinala a chegada de Bob Marley e dos Waillers ao lugar só alcançado pelas grandes estrelas. A fama de Marley no exterior crescia, mas na Jamaica já era um mito, com as vantagens e desvantagens que daí advêm. O seu poder gera também receios e, talvez por isso sofre em 1976 uma tentativa de assassinato.Exila-se 18 meses em Londres, e em 1977 é-lhe detectado um cancro, exactamente na altura em que lança o seu álbum mais festejado " Exodus", de onde foram retirados sucessos como "Jamming", ou "One Love, People get Ready".
Em 1978 foi agraciado com a Medalha da Paz das Nações Unidas."Uprising", de 1979 foi o seu último disco lançado em vida.
Bob Marley faleceu em 11 de Maio de 1981, apenas com 36 anos de idade, em Miami, depois de sete meses de luta contra um cancro no pulmão. Para a história ficam um punhado de discos fundamentais para compreender a história da música popular do século XX.

domingo, fevereiro 05, 2006

Betty Friedan


Betty Friedan, uma das fundadoras do movimento feminista nos Estados Unidos, morreu ontem, no dia do seu 85º aniversário. A família informou que morreu em consequência de uma crise cardíaca. Betty Friedan ganhou notoriedade ao escrever o livro “A Mística Feminina”, que combatia a ideia então amplamente aceita de que as mulheres deveriam apenas cuidar das suas casas, filhos e maridos. O texto teve uma profunda influência na visão que os americanos tinham sobre o papel das mulheres na sociedade e ajudou a mudar as leis do país em relação aos direitos das mulheres.
Betty Goldstein, Friedan mais tarde, nasceu em Peoria, Illinois, a 04 de Fevereiro de 1921, no seio de uma família judia, começou por frequentar círculos radicais marxistas e judeus. Licenciou-se em Psicologia e Sociologia, em 1942. Encorajada pela mãe seguiu jornalismo. Defensora dos direitos das mulheres denunciou o modelo tradicional de sociedade remetendo a mulher para a área restrita da casa. Casou em 1947 com Carl Friedan e tiveram três filhos.
Publicou em 1963 o importante livro com o título «The Feminine Mystic» (A Mística Feminina). Este livro sobre a mulher foi o mais vendido no mundo, na altura, e faz parte da trilogia dos livros fundamentais sobre feminismo que, além deste, são «A Room of One’s Own» de Virgínia Woolf (1929), e «O Segundo Sexo» (1949), de Simone de Beauvoir .
As ideias defendidas em “A Mística Feminina", soaram como proclamações revolucionárias aos ouvidos conservadores dos Estados Unidos ideias, como a ideia, de que ter marido e filhos não era tudo na vida de uma mulher.
Em 1966, fundou e foi a primeira presidente da, National Organization for Woman (NOW, à frente da qual tomou posições, então acolhidas como “extremas”, em matérias como o aborto, actividade laboral (trabalho igual salário igual), licença de parto, oportunidades iguais para homens e mulheres, entre outras.
Fundou também, em 1968, a Conferência nacional de rejeição das leis sobre o aborto, que se transformaria depois na Liga nacional de acção pelo direito ao aborto. Longe de ter unanimidade no movimento feminista, apesar de ser uma figura mítica, Betty Friedan foi duramente questionada, nos anos 70, por não querer levantar as bandeiras dos direitos sexuais, tendo dificuldade para compreender a inclusão das mulheres lésbicas, no movimento.
Também foi criticada por ser elitista e não considerar os recortes de raça e classe social. Betty Friedan admitiria mais tarde ter sido sempre um tanto “rígida” em relação à homossexualidade.
Este não foi, no entanto, obstáculo a que aprovasse, na Conferência nacional das mulheres realizada em 1977, em Houston, uma resolução destinada a proteger os direitos das lésbicas. Deu aulas em várias universidades e participou activamente, em vários pontos do globo, em conferências sobre os direitos das mulheres, actividade que a consagrou como uma das mais influentes feministas do século XX.
Para muitos admiradores, boa parte das conquistas femininas das últimas décadas teriam sido impossíveis sem as contribuições de Betty Friedan.

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Caricaturas Satânicas ou Liberdade de Expressão?


O mundo muçulmano está em alvoroço e a revolta espalha-se rapidamente com manifestações a sucederem-se um pouco por todo mundo, do Paquistão à Indonésia, da Palestina à Arábia Saudita, tudo, por causa da publicação de caricaturas do profeta Maomé por jornais europeus. As caricaturas foram publicadas, em primeira mão a 30 de Setembro último pelo diário dinamarquês “Jyllands-Postan”. As 12 caricaturas do profeta Maomé, nomeadamente,esta do lado esquerdo, em que o profeta é caricaturado, com um turbante em forma de bomba com um rastilho aceso, provocou a cólera do mundo muçulmano e um boicote aos produtos dinamarqueses em numerosos países. A religião muçulmana proíbe a representação do profeta. Numa atitude de solidariedade e para defender a liberdade de expressão, jornais europeus decidiram publicar os referidos desenhos satíricos incluindo o, diário francês “France-Soir”, que alegavam pretender desta forma defender a liberdade de expressão. A tradição islâmica exclui qualquer imagem do profeta para prevenir a idolatria.
Para minimizar os efeitos com que o seu país está a ser atingido, o primeiro-ministro da Dinamarca, Anders Fogh Rasmussen, deu uma entrevista à rede de televisão árabe al-Arabiya, numa tentativa de conter os protestos no mundo islâmico. Rasmussen pediu desculpas aos que se sentiram ofendidos, mas repetiu que o seu governo não é responsável pelo que é publicado nos jornais.
Novos protestos devem ocorrer hoje em vários países. Grupos egípcios, palestinianos e iraquianos convocaram manifestações durante as orações dos muçulmanos nesta sexta-feira. O grupo radical palestiniano Hamas convocou uma grande manifestação contra as caricaturas em Gaza. Os governos de vários países cuja a população é de maioria islâmica criticaram ontem a republicação, por jornais da França, Espanha, Itália e Alemanha, das caricaturas consideradas ofensivas ao profeta fundador do islamismo. O presidente do Egipto, Hosni Mubarak, advertiu que a decisão de alguns jornais de publicar as caricaturas pode “encorajar terroristas”. O presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, qualificou as imagens como um insulto aos muçulmanos do mundo.
O governo da Indonésia disse que a liberdade de expressão não deveria ser um pretexto para insultar uma religião. Centenas de estudantes saíram em protesto pelas ruas das cidades paquistanesas de Lahore e Multan, queimando bandeiras e retratos do primeiro-ministro da Dinamarca. Palestinianos armados cercaram brevemente o escritório da União Europeia na Cidade de Gaza. A Noruega fechou sua missão na Cisjordânia para o público em resposta a ameaças de dois grupos militantes contra noruegueses, franceses e dinamarqueses.
Vários consumidores muçulmanos continuam a boicotar alguns produtos fabricados na Europa, levando o comissário da União Europeia para o Comércio, Peter Mandelson, a acusar jornais que publicaram as caricaturas na quarta-feira de jogar gasolina no fogo.
Um jornal na Jordânia, Al-Shihan, tornou-se a primeira publicação árabe a divulgar as caricaturas, alegando que as pessoas precisam ver o contra o que estão protestando. Na quarta-feira, o editor de um jornal francês que publicou uma caricatura na primeira página foi demitido por “ofender os muçulmanos”. Jacques Lefranc foi demitido pelo dono do France Soir, após o seu jornal ter sido envolvido na crescente polémica entre os muçulmanos e a imprensa europeia.
O dono do jornal, Raymond Lakah, disse em um comunicado à agência France Presse que decidiu “demitir Jacques Lefranc como director-geral da publicação “como um poderoso sinal de respeito pelas crenças e convicções pessoais de todos os indivíduos”. “Expressamos nossas desculpas à comunidade muçulmana e a todas as pessoas que ficaram chocadas com a publicação”, disse ele.
Aparentemente, chegou-se a um impasse civilizacional, se por um lado os países ocidentais consideram como um direito inalienável a liberdade de expressão e a imprensa livre, por outro lado, os muçulmanos jamais permitirão, a caricatura do que eles consideram sagrado.
Fica uma pergunta: A publicação de um texto ou imagem que fira os sentimentos religiosos de um grupo de pessoas é compatível com a liberdade de imprensa?
LINK:
skender.be/supportdenmark.

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Munique


O realizador Steven Spielberg regressa ao grande ecrã com o filme «Munique».
O thriller, nomeado para 5 Óscares, trata de forma ficcional a caçada empreendida por agentes da Mossad para assassinar os palestinianos acusados de organizar o sequestro dos atletas de Israel nos Jogos Olímpicos de Munique (1972), que resultou na morte de 11 deles.
"Munique", tem sido alvo de críticas tanto de israelitas, como de palestinianos, que destacam imprecisões históricas na história.
O filme lida com duas questões fundamentais:

responder ao terrorismo com violência é algo justificável?
Ou apenas alimenta mais terrorismo, como sugere a obra de Spielberg?
A estreia decorre hoje nas salas de cinema do País.
Ficha técnica:
Titulo:« Munique».

Título original:«Munich» .
Realização: Steven Spielberg.
Elenco: Eric Bana, Daniel Craig, Ciarán Hinds, Mathieu Kassovitz, Hanns Zischler, Geoffrey Rush.
Género: Drama.
Origem: EUA.
Ano:2005.
Duração: 164 minutos.

Os factos por trás do filme:
No dia 5 de Setembro de 1972, o mundo acordou atordoado. Os brilhantes recordes e as sete medalhas de ouro do nadador americano Mark Spitz foram ofuscados pela terrível acção terrorista, de uma organização palestiniana contra a delegação israelita, deixando atónita grande parte da população mundial.Eram 4h30 da manhã de 5 de Setembro, durante a última semana dos Jogos, quando cinco terroristas usando roupas desportivas escalaram a grade que cercava a vila olímpica. Já dentro da vila onde os atletas estavam alojados, encontraram-se com mais três que já haviam entrado com credenciais. No espaço de 24 horas, 11 israelitas, 5 terroristas e um polícia alemão morreriam, manchando de sangue a até então tranquila Olimpíada alemã e a para sempre a memória dos Jogos Olímpicos. Pouco antes das 5h da manhã, os terroristas já estavam no sector da delegação israelita, que havia formado um grande esquema de segurança para os jogos. Mesmo com as intensas medidas de segurança, o grupo armado não encontrou dificuldade para realizar a acção. Assim que chegaram ao andar da delegação, bateram na porta do quarto do técnico Israelita Moshe Weinberg que imediatamente a abriu, percebeu que havia algo de errado e começou a gritar. Weinberg e o halterofilista Joseph Romano tentaram segurar a porta enquanto outros atletas escapavam, mas ambos foram mortos. Logo depois, os terroristas cercaram nove israelitas e fizeram-nos reféns. Às 9h30, os terroristas anunciaram que eram palestinianos pertencentes ao desconhecido grupo “Setembro Negro”. Em troca dos reféns, exigiam a libertação de 234 prisioneiros árabes em prisões israelitas e de dois terroristas alemães que estavam detidos em Frankfurt. Também exigiram um avião para deixarem o país.O governo israelita não quis negociar com os terroristas. Assim, quem deveria zelar pela vida dos reféns eram os alemães, que organizavam os jogos. Foram horas de negociações e de uma tensão que envolveu até os demais participantes daquelas Olimpíadas. Alguns atletas judeus, como o norte-americano Mark Spitz, maior recordista da história da natação até aquele momento, resolveram antecipar a volta para casa. As delegações inteiras da Noruega e da Holanda também se retiraram. Para tentar salvar a vida dos reféns, a polícia de Munique resolveu simular uma concessão. Foi combinado que os terroristas iriam de helicóptero até a base aérea da NATO em Firstenfeldbruck e depois embarcavam num avião para o Cairo, onde supostamente seriam recebidos sem nenhuma punição. Atiradores de elite do exército alemão foram posicionados na base com ordens de matar todos os terroristas mesmo antes de entregar os reféns.Os terroristas pousaram na base às 22h30. Era o início da tragédia: os palestinianos perceberam a emboscada e lançaram uma granada para o helicóptero onde estavam os nove reféns. Todos foram mortos, dando início a um terrível tiroteio, em que cinco terroristas, um dos cinco atiradores alemães e o piloto de um dos helicópteros morreram. Três palestinianos foram capturados e levados para uma prisão alemã. Tudo levaria a crer que ali se encerrariam os Jogos Olímpicos de Munique, mas o Comité Olímpico Internacional (COI) resistiu e manteve o andamento dos jogos, realizando uma cerimónia dedicada à memória dos atletas. As Olimpíadas desenrolaram-se até ao fim. Mas nada conseguiu apagar aquele acontecimento, o mais trágico nos 110 anos de história dos Jogos Olímpicos na era moderna. Na época, os orgãos de informação internacionais,l responsabilizaram de certa forma as autoridades alemãs, que não tiveram calma para negociar com o grupo e optaram por tentar matá-los mesmo sem ter garantias de vida para os atletas israelitas. A polícia de Munique disse que não teve outra alternativa, pois o governo israelita negou-se a atender as exigências dos terroristas. Mais de 20 anos depois, o único terrorista ainda vivo culpou a então primeira-ministra de Israel, Golda Meir, e os serviços secretos israelitas, Mossad, alegando, que foi a intransigência do governo de Israel em negociar que levou às mortes.
Quem eram os terroristas de Munique?
O grupo que perpretou o ataque dizia ser pertencente ao "Setembro Negro". Uma organização dissidente da OLP de Arafat supostamente criada após um conflito em Setembro de 1971 entre soldados jordanos e palestinianos em Aman e em outras cidades da Jordânia.A Mossad e outras organizações israelitas afirmam que foi o líder da OLP, Yasser Arafat, quem forjou o grupo para poder lançar ataques terroristas sem sujar o nome da Organização.O envolvimento de Arafat no massacre de Munique continua indefenido.O único terrorista de Munique sobrevivente, Abu Daoud, disse na autobiografia "Memórias de um Terrorista Palestiniano", lançada em 1999, que Yasser Arafat ordenou o ataque à vila olímpica de Munique e escreveu ainda que o grupo não tinha intenção de matar os israelitas. Além disso, Daoud disse que o ataque foi perpetrado pela Fatah, de Arafat e que o nome "Setembro Negro" foi usado para proteger a imagem internacional da Fatah e os interesses políticos da OLP. "Não havia a organização Setembro Negro.A Fatah anunciou a operação sob esse nome para o grupo não aparecer como responsável directo da operação", disse.Daoud, recebeu o Prémio Palestiniano da Cultura em 1999 pela sua obra.Arafat negou sempre, veementemente, o seu envolvimento no ataque e disse que tais acusações faziam parte da estratégia israelita de desmoralizá-lo.O facto é que até hoje não há nenhuma evidência a mais do seu envolvimento no ataque.

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Pinochet


O Tribunal de Apelação de Santiago confirmou hoje o processo contra o ex-ditador chileno Augusto Pinochet como co-autor do sequestro qualificado de três opositores no âmbito da Operação Colombo, anunciou o tribunal.
O tribunal, numa decisão adoptada por unanimidade, não aceitou o recurso da defesa, que alegava estar a saúde de Pinochet, de 90 anos, demasiado deteriorada para enfrentar um julgamento.Desta forma, os juízes confirmaram o processo contra o antigo general decidido a 05 de Dezembro pelo juiz Víctor Montiglio, quando os exames neurológicos, psiquiátricos e psicológicos realizados a Pinochet ditaram que está mentalmente apto para enfrentar julgamento.
A Operação Colombo foi uma montagem da polícia secreta da ditadura (1973-1990) para encobrir em 1975 o desaparecimento (morte) de 119 opositores do regime.No acórdão, os magistrados afirmam que a partir dos exames não se pode concluir que o militar não está em condições de comparecer em tribunal e lembram que o juiz Montiglio pôde interrogar Pinochet normalmente durante a fase de instrução do processo.Além disso, escrevem os juízes, depois do interrogatório, "existe a convicção" de que os sequestros dos militantes de esquerda Juan Carlos Perelman, Héctor Garay e Antonio Cabezas aconteceram realmente e que Pinochet teve neles participação.
Na versão oficial difundida pelos jornais controlados pelos militares, as autoridades anunciaram em Julho de 1975 a descoberta no Brasil e Argentina dos cadáveres de 119 membros do MIR (Movimento da Esquerda Revolucionária) e de outras organizações opositoras em consequência de disputas internas.O termo "desaparecido" continua a ser usado na América do Sul para definir as vítimas da ditadura cujos corpos nunca foram recuperados pelas famílias.
Pinochet é acusado na Operação Colombo, bem como por fraude fiscal num outro caso, que diz respeito às contas secretas no estrangeiro em seu nome e no dos seus familiares mais directos.No final de 2004, princípio de 2005, chegou a ser decretada a sua prisão domiciliária durante 49 dias, sendo libertado depois de pagar uma fiança de 20 mil dólares.Lusa.
Os homens de boa vontade de todo o Mundo, esperam há mais de uma década, pelo julgamento deste carniceiro. Vamos a aguardar, para ver, se é desta vez que a justiça chilena é cega.

Promover a Leitura


A Associação de Professores de Português (APP) convida professores e escolas, em Portugal e nas comunidades portuguesas no estrangeiro, a organizarem sessões de leitura nas aulas de português, no âmbito do projecto «Ler Consigo».
Nesta iniciativa, pessoas exteriores à escola - encarregados de educação, antigos alunos ou personalidades relevantes - são convidados para lerem um texto numa sala de aula, de 27 a 31 de Março próximo, «promovendo assim junto dos alunos, da escola e da sociedade a ideia de que ler é importante», explica a APP.

Segundo uma nota informativa da associação, este projecto deve proporcionar «aprendizagens eficazes» nos alunos e, na sociedade, o desenvolvimento de uma ideia favorável à leitura. «Muitos professores enviaram relatos que nos incitam a continuar este projecto», destaca a APP, apelando ainda a todos os professores de português para que desenvolvam esta acção educativa.
Em 2004, a primeira edição do «Ler Consigo» envolveu cerca de 350 turmas em 60 concelhos portugueses e nas escolas portuguesas de quatro países, «em centenas de leituras nas salas de aula e bibliotecas das escolas participantes», acrescenta a associação. No ano passado, os números foram semelhantes, «mas aumentaram no estrangeiro», destaca a APP.
Autarcas, vizinhos, empresários, encarregados de educação, militares, ministros, membros do clero, diplomatas, deputados e eurodeputados, antigos alunos e estudantes voltaram à escola para ler os textos que escolheram e para transmitir o gosto pela leitura.
Link: http://www.app.pt/lc/index.html.