sexta-feira, março 31, 2006

Jetlag


Estou de volta, mas este complicado sujeito, conhecido por Jetlag, não me deixa criar nada.
A nossa relação, terminará no fim de semana.
O jetlag ocorre devido à mudança dos fusos horários, por um desfasamento entre o relógio biológico interno humano e os indicadores de tempo externo. O jetlag surge quando o relógio biológico do organismo choca com um novo fuso horário. A gravidade do jetlag encontra-se frequentemente associada ao número de fusos horários cruzados durante as viagens de avião (no meu caso foram oito fusos horários).

Cerca de noventa por cento dos passageiros de voos de longo curso revelam, em média, sintomas de jetlag. O jetlag afecta o lado mental, emocional e físico das pessoas. Entre os seus sintomas, incluem-se sonolência ou letargia, tendência para dormir durante o dia e insónias à noite, perda da memória cefaleias, insegurança, impaciência, irritabilidade, ansiedade, distúrbios digestivos, desorientação, tosse seca, olhos e pele secos, dor de ouvido, fadiga, membros inferiores dormentes, náuseas. A dormência nos pés é causada pela baixa pressão do ar a bordo e pela falta de circulação do sangue devido a longos períodos sem movimentação.
A sonolência diurna(muita) é um sintoma muito habitual e piora quando se viaja de oeste para este, onde os fusos horários dificultam o despertar pela manhã e a conciliação do sono à noite. Os desvios ambientais em viagens longas, como a mudança no clima, a diversidade cultural e o ar viciado e húmido do avião, também contribuem para os sintomas de jetlag.
O jetlag não afecta todas as pessoas da mesma forma. As crianças com menos de três anos de idade, geralmente, não apresentam sintomas de jetlag, porque a sua capacidade de adaptação é maior do que a dos adultos. Os indivíduos que adormecem facilmente e os indivíduos cuja vida diária envolve rotinas muito variadas, ajustam-se bem a variações dos ritmos circadianos e adaptam-se facilmente a padrões diferentes de comer e dormir. Por outro lado, os adultos cuja vida se faz de horários rígidos, são os que sofrem mais com as consequências do jetlag. Esta situação também afecta mais os passageiros do que os profissionais das companhias aéreas, não só porque os passageiros estão menos habituados aos factores que provocam o jetlag, mas também porque se encontram confinados a um espaço minúsculo durante longos períodos de tempo. É possível evitar o jetlag, mas a prevenção deve ser feita ainda antes da partida, através do controlo da ansiedade e de exercício físico. Os medicamentos para dormir, usados habitualmente pelos passageiros para aliviar o jetlag, constituem uma forma perigosa de o combater. Um estudo efectuado durante três anos no Aeroporto de Heathrow, Inglaterra, revelou que cerca de dezoito por cento das 61 mortes súbitas registadas em passageiros de longo curso que passaram naquele terminal tinham sido provocadas pela formação de coágulos nos pulmões. Os medicamentos para dormir induzem um estado de letargia em que não existem praticamente movimentos do corpo, facto que pode predispor à formação deste tipo de coágulos. Podem ser necessários muitos dias para o organismo se reajustar ao fuso horário. A NASA calcula que é necessário cerca de um dia para o relógio biológico recuperar cada fuso horário cruzado durante a viagem. Adaptado de várias fontes.

sábado, março 25, 2006

O significante da vida

Estive doente. Não vou escrever sobre nenhum assunto em particular, mas a minha convalescença provocou uma ligeira crise existencial que me levou a reflectir sobre a minha vida. Vou aproveitar para, neste espaço, partilhar alguns dos pensamentos que me assolaram o espírito. Estes devaneios incidiram sobre a nossa coexistência neste magnífico Planeta e sobre as nossas obrigações enquanto seres humanos.
A abordagem a estas questões não poderia deixar de começar pelo enquadramento do fenómeno Vida no contexto cósmico e, necessariamente, pelas condições ocorridas que permitiram o aparecimento de um ser com capacidade intelectual para raciocinar e, com isso, consciencializar-se da sua existência.
Num dos capítulos do livro “Breve História de Quase Tudo”, Bill Bryson, retrata a ténue linha que proporcionou o surgimento de Vida. Utilizarei as palavras do autor, mantendo a sua a inigualável eloquência, que faz uma descrição bastante elucidativa desta temática. Seguem-se então algumas transcrições, que merecem ser repetidas até à exaustão, para que os mais distraídos interiorizem estas noções, funcionando estas como catalizadores e impulsionem movimentos que tragam as mudanças necessárias:
“… a Terra não é o lugar mais fácil para se ser um organismo, mesmo sendo o único possível. Uma pequena porção da superfície do planeta é suficientemente seca para podermos lá viver, há uma quantidade espantosamente grande que é, ou quente, ou fria, ou seca ou íngreme ou alta de mais para nos servir. Em parte, há que admitir a culpa é nossa. Em termos de adaptabilidade, os seres humanos não são grande coisa.”
Diz ainda:
“… Vários observadores conseguiram identificar cerca de duas dúzias de períodos particularmente propícios à vida na Terra, …, vamos resumi-los aos principais. São Eles:
Localização excelente. Nós estamos, a um ponto quase assustador, à distância certa do tipo certo de estrela, ou seja, suficientemente grande para irradiar grandes quantidades de energia, mas não tão grande que se esgote rapidamente. ... Se o nosso Sol fosse dez vezes maior, ter-se-ia esgotado ao fim de dez milhões de anos em vez que de Biliões e não estaríamos aqui agora. Também tivemos sorte com a órbita em que estamos. Se estivéssemos demasiado perto, tudo na terra se teria evaporado. Se estivéssemos mais longe, ficaria tudo gelado”.
O Planeta do tipo certo. … O facto de viver num Planeta com um interior em fusão, mas é praticamente certo que se não fosse este magma movediço por baixo de nós, não estávamos agora aqui. Para além de tudo mais, o nosso dinâmico interior criou as fugas de gases que ajudaram a construir a atmosfera e nos fornece o campo magnético que nos protege das radiações cósmicas. Também nos proporciona placas tectónicas que renovam e enrugam constantemente a superfície. Se a Terra fosse completamente lisa, estaria uniformemente coberta de água com uma altura de quatro quilómetros.
Somos um Planeta gémeo. Poucos de nós pensam na Lua como um Planeta, mas é isso mesmo que ela é. … Sem a influência estabilizadora da Lua, a Terra cambalearia como uma pião quase sem parar, sabe Deus que consequências para o clima e para o estado atmosférico do tempo. A sólida influência gravitacional da Lua faz com que a Terra rode sobre si própria à velocidade e no ângulo certos para fornecer o tipo de estabilidade necessária a um desenvolvimento duradouro e eficaz de vida.
Cronologia. O universo é um lugar extremamente inconstante e cheio de actividade, e a nossa existência no meio de tudo isto é um milagre. … Não temos bem a certeza, porque não temos mais nada com que possamos comparar a nossa existência, mas parece evidente que, se nos quisermos considerar como resultado de uma sociedade pensante e moderadamente avançada, teremos fatalmente de estar na extremidade de uma longa cadeia de acontecimentos que incluam períodos razoáveis de estabilidade entremeadas de quantidades certas de desafios e pressões … marcada pela ausência quase total de cataclismos.” Ao tomar conhecimento da realidade transmitida por estas palavras, parece-me óbvio que seria necessário um condicionamento genético na abordagem a alguns problemas fundamentais. A mensagem “erro fatal”, como em qualquer programa de computador, deveria invalidar as opções erradas logo na base. Por ser evidente que somos o resultado da conjugação de uma série de factores e que se as coisas tivessem sido ligeiramente diferentes, as consequências ter condicionariam o surgimento da vida inteligente, tudo deveria ser visto na devida perspectiva. Este facto merece uma reflexão, sobretudo na abordagem que temos tendência a fazer aos nossos problemas, ou melhor, na incapacidade por vezes demonstrada de os relativizar. Com efeito, cada ser humano atribui aos seus problemas a dimensão personalizada, o que o condiciona automaticamente. Este comportamento é recorrente, principalmente naqueles que têm uma visão simplista do mundo e que revelam em permanência uma indiferença absoluta perante os problemas que ultrapassam a esfera da sua existência. Os grandes problemas da Humanidade, onde temos de incluir a sua sobrevivência a longo prazo, são os verdadeiros dilemas que têm que ser enfrentados.
Assim, como resultado desta interiorização de quão ténue é a linha em que a Vida se sustenta, do precário equilíbrio de que depende e das coincidências que a tornou possível (coincidências que para alguns, por não as considerarem como tal, constituem prova da existência de Deus), deveria imbuir a Humanidade, num espírito comunitário na defesa dessa preciosidade cósmica (até prova em contrário).
Além disso, a consciencialização, à luz da descrição de Bryson, de que há muita coisa que tem que ser alterada se queremos continuar a ser a espécie dominante do Planeta, atribui-nos especiais e acrescidas responsabilidades. A luta pela melhoria das condições de vida das pessoas deve ser levada a sério numa base, se possível, diária. Devemos tentar não deixar assuntos que podem ser agora resolvidos pendentes para as gerações futuras, principalmente quando estes não o são por manifesta falta de vontade política para o fazer. Se o problema for transgeracional, mais tarde ou mais cedo, terá que ser enfrentado. Não adianta fechar os olhos ou fingir que não existe.

Todos sabemos que nada disto sucede. O mundo e a sociedade apresentam-nos diariamente situações de tal modo chocantes, cujas injustiças inerente ás mesmas são tal forma monumentais, que se por um lado vamos criando anticorpos que vão reduzindo progressivamente o impacto emocional, por outro lado nos vão confrontando com a nossa própria inércia existencial. Falando, falando mas nada fazendo. Pelo menos até há pouco tempo atrás e ainda não na medida correcta.
Certo dia introduziram-me no mundo dos blogs. Um mundo onde circulam muitos espíritos livres e que exercem aí o seu direito à indignação. A disponibilidade demonstrada é digna de ser realçada. Porque não têm voz para o manifestar publicamente, porque era necessário exorcizarem os seus demónios, porque não conseguem ficar calados, porque são inteligentes e porque sentem a responsabilidade de preparar um mundo melhor que o que receberam para as gerações futuras, dedicam-se, numa espécie de irmandade nascida do espírito da Democracia, a lutar contra aquilo que aos seus olhos configuram injustiças, Não esperam, pelos governos para promover a mudança, insurgem-se e fazem-no.
Parece-me, por tudo isto, que o vazio existencial e a estagnação do ser, inevitavelmente, colar-se-ia à alma de cada um dos que se enquadram neste perfil, não fosse esta possibilidade que emana dos blogs, onde ultimamente li alguns dos textos mais bem escritos e fundamentados no exercício da contestação ao status quo. Estas pessoas dão-me esperança no futuro. São a prova cabal de que a pena é mais forte de que a espada, estão presentes na primeira linha de um processo irreversível para fomentar a inversão de mentalidades que o país precisa, fenómeno que espera se propague com uma enorme vitalidade para forma deste universo ainda pequeno.
Recentemente li uma frase de Oscar Wilde – “Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe.” Desde que me indicaram este caminho sinto-me mais vivo, graças a quem me apontou esta direcção, aos que já andam nisto há muito, aos que criticam o que escrevo, em concordância ou não, aos que apenas lêem, mas andam por cá em busca de ordem nos seus pensamentos e de não sentirem a solidão que muitas vezes se apodera de quem não é compreendido pelos que se renderam ao sistema.

terça-feira, março 21, 2006

Até Já!


Nos próximos dias, este blog fica entregue aos engenheiros: ao Filipe, ao Gaspar e ao Luz.
Deixo-vos uma fotografia da Monica Belluci, para vos inspirar.
Um abraço e até já!

Massacre de Inocentes


Faltam 7 dias, para começar o massacre das focas bebés, no Canadá.As imagens cruas documentam o maior e mais cruel massacre de animais que temos que assistir no nosso planeta: o massacre das focas bebés, no Canadá.
O tipo de caça mais bárbara já que as focas bebé são mortas à cacetada e muitas vezes a pele é retirada com o animal ainda vivo, deixando na neve um rasto vermelho de sangue. Depois de ter autorizado em 2004 a morte de 350 mil focas bebé, o número mais alto dos últimos 50 anos, o Canadá autorizou no ano passado o extermínio de 300 000 focas bebés. O massacre para este ano, é de 325 000 focas, que começarão a ser exterminadas dentro de 7 dias.
As autoridades daquele país justificam este número dizendo que a população triplicou desde a década de 1970 e que existem hoje no Canadá mais de cinco milhões de focas.
Segundo os pescadores, este número de focas está a afectar a pesca do bacalhau, já que cada foca adulta consome por ano cerca de uma tonelada de comida.
No entanto, estes argumentos não convencem as organizações de defesa dos animais, lembrando que a maioria das focas bebés são mortas com menos de um mês de vida sendo que nesta fase ainda não aprenderam a nadar e por isso não têm como escapar aos caçadores.
Estudos científicos sérios, provaram que a diminuição da população de peixes, devem-se em exclusivo, à excessiva actividade piscatória, perpetuado pela indústria pesqueira, a mesma que atribui a falta de pescado às focas.
Os ambientalistas, estão numa campanha internacional para parar o massacre das focas no Canadá, ameaçando realizar protestos mundiais para boicotar os produtos e o turismo no Canadá.


Não pactue com a barbárie:

http://www.stopthesealhunt.ca/site/apps/ka/ct/contactcustom.asp?c=dhKPI1PFIqE&b=453621

sexta-feira, março 17, 2006

Confissão de um Engenheiro Idealista*


Vede, senhor Niceta – disse Baudolino-, quando eu não era presa das tentações deste mundo, dedicava noites a imaginar outros mundos. Um tanto com ajuda do vinho e outro tanto com a do mel verde. Não há nada melhor que imaginar outros mundos – disse – para esquecer como é doloroso este em que vivemos. Pelo menos era o que eu pensava na altura. Ainda não tinha percebido que a imaginar outros mundos se acaba por mudar até este.
Umberto Eco, Baudolino.


Certamente Umberto Eco não estaria a pensar na Engenharia e nos Engenheiros quando escreveu esta frase. No entanto, a sua universalidade bem patente é transversal a todas as áreas de actividade da Humanidade enquanto espécie integrante deste fantástico acontecimento cósmico que é a vida.
A alusão ao facto de que a imaginação é o motor metafísico do mundo revela uma das mais fundamentais características do ser humano. A sua capacidade para imaginar é inigualável em importância, qualquer que seja a comparação que se estabeleça com outras capacidades que todos possuímos. A esperança num futuro melhor reside nesta potencialidade, inerente à existência, e muitas vezes desvalorizada.
É precisamente esta interpretação, refira-se pessoal, que me levou a reflectir sobre o papel da Engenharia, enquanto arte de criar e, consequentemente, dos engenheiros, enquanto criadores, independentemente da sua área de especialização.
Quem ainda não passou horas a tentar conceber (imaginar) uma solução para um problema, independentemente da sua dimensão e importância? É neste ponto, na minha óptica, que se estabelece a relação. Cada solução encontrada mais não é do que uma forma de “imaginar outros mundos … para esquecer como é doloroso este em que vivemos”.
Durante a minha formação académica, e subjacente à mesma, esteve sempre uma vontade de mudar o mundo. Assim, a profundidade deste pensamento fez-me recordar e dar substância a algumas das motivações que me levaram a enveredar por esta carreira. Na verdade, considero que a Engenharia para além da componente eminentemente pura das ciências exactas tem, também, uma ligação estreita com as ciências sociais. Bem vistas as coisas, a própria democracia, na sua implantação e consolidação como melhor modelo coexistência social tem, na sua génese, um contributo incontornável da engenharia e dos engenheiros.
Carl Sagan diz no seu livro Um Mundo Infestado de Demónios que “os valores da ciência e os da democracia são coincidentes e, em muitos casos, impossíveis de distinguir” ao que eu acrescento que esta aproximação se deve, em grande parte, a uma ramo da ciência, uma espécie de braço executor dos princípios científicos, responsável pela implantação dos valores da democracia através da evolução tecnológica.
Em todos os ramos da ciência e em todos as vertentes da sociedade que vão desde a concepção dos sistemas de saneamento básico, sistemas de protecção do meio ambiente, automóveis, computadores, hardware e software, sistemas de diagnósticos médico, armas, aviação até ao desenvolvimento dos mais elaborados e complexos sistemas das viagens espaciais, as equipas multidisciplinares que as executam e põe ao serviço da humanidade, integram necessariamente engenheiros na sua concepção.
Não é necessário uma dissertação demasiado elaborada para se compreender este raciocínio. Atentemos pois aos valores traduzidos pelo lema da revolução francesa e ás relações que existem entre todos. Égalité, fraternité et liberté.
A engenharia tornou possível a disseminação de meios para melhorar a qualidade de vida das pessoas, como resultado da criação de infra-estruturas que garantissem as suas necessidades básicas, por sucessiva melhoria das técnicas de execução e dos respectivos materiais. O acesso a bens, à cultura, à educação, à saúde foram sucessivamente melhorando e sendo massificados, ao ponto de em algumas partes do globo (não podemos também ser ingénuos) qualquer um ter acesso a estes serviços fundamentais independentemente da sua condição social.
A fraternidade significa harmonia entre os homens, que só é possível se estes coabitarem numa sociedade igualitária que mais não é do que o resultado das conquistas cientificas referidas anteriormente. Esta evidente evolução é uma consequência da incessante procura da Humanidade de apurar a percepção da realidade com os obstáculos que lhe são inerentes e, através do intelecto, criar sistemas cada vez mais sofisticados e engenhosos para os ultrapassar. Só garantidas todas estas condições se pode falar definitivamente em liberdade de facto.
A expansão da cultura, a aproximação do conhecimento entre os povos e o acesso a este foram os factores fundamentais de desenvolvimento da humanidade. Na sua origem estiveram em primeiro lugar a invenção da escrita, que por si só não era suficiente, e em segundo lugar a criação do processo de impressão com caracteres móveis - "a tipografia" por Gutenberg. Se atentarmos à definição apresentada, a engenharia está intimamente relacionada com o boom cultural que se seguiu a esta invenção, que mais não é do que uma “utilidade”. E que utilidade.
A dimensão humana surgida deste acontecimento ganhou contornos extraordinários com o acesso à cultura de um cada vez maior número de pessoas, o que motiva e promove a evolução da inteligência colectiva e, principalmente, de uma consciência social e humanitária. Foi nesta fase que se lançaram as sementes de uma sociedade verdadeiramente universal que, embora nos dias de hoje ainda não o seja inteiramente, vai ganhando consistência e, um dia será uma realidade no planeta Terra e não só.
Tudo isto permitiu ao ser humano desenvolver-se a um ritmo alucinante, sem paralelo na sua história e num curto período de tempo, chegando-se então ao momento ao extremo em que é virtualmente impossível acompanhar a evolução das técnicas que surgem quase diariamente. O engenho humano em movimento. É aqui, como já referi anteriormente, que reside a esperança da espécie humana, na sua enorme curiosidade pelo conhecimento, na sua infinita capacidade de imaginar e sonhar que, conjugadas com a perseverança, nos levam a imaginar outros mundos [e] se acaba por mudar até este.
No cerne de tudo, a Engenharia, a criar condições físicas para que o sonho se mantenha vivo, para que o desenvolvimento seja efectivamente sustentável, para que a espécie humana ultrapasse esta fase a que já chamaram de adolescência tecnológica sem se autodestruir, de maneira a que algum dia, na realidade, a bordo da nave espacial Enterprise, como Jean Luc Picard ou James T. Kirk, alguém possa dizer: Space: the final frontier!
Filipe Pinto.
*O título foi dado por mim.

quinta-feira, março 16, 2006

Julgamento de Saddam


O ex-presidente iraquiano Saddam Hussein começou a sua defesa no julgamento em que é acusado por crimes contra a humanidade dizendo que o tribunal é “uma comédia” e prosseguiu afirmando-se Presidente do Iraque e apelando aos iraquianos para que resistam às forças da ocupação, afirmações que levaram o juiz presidente, Rauf Abdel Rahamn, a ordenar que a sessão continuasse à porta fechada.
Saddam Hussein, que juntamente com sete dos seus colaboradores esta a ser julgado pelo massacre de 148 xiitas na aldeia de Dujail em 1982, exortou ainda os iraquianos a deixarem «de se matar entre si».
O julgamento de Saddam Hussein prossegue a 5 de Abril, depois da audiência de hoje em que mais uma vez Saddam Hussein desafiou os juízes apresentando-se como o presidente legítimo do Iraque e que por isso mesmo, nem devia ser julgado. O julgamento do ex-presidente do Iraque Saddam Hussein, corre o risco de se tornar o”reality show do ano” caso o tribunal não zele para evitar isso.
Já na primeira sessão do julgamento, em Julho de 2005, Saddam Hussein tinha recorrido ao teatro para classificar o julgamento. “Eu não quero fazer com que vocês fiquem desconfortáveis, mas vocês sabem que isto é tudo um teatro montado por Bush”.

Saddam Hussein parece bem preparado para fazer o papel principal nesta peça, adoptando a táctica de Slobodan Milosevic, para fazer estender o julgamento de forma interminável.
Os ventos que sopram no Iraque, parecem estar à feição de Saddam Hussein, com a continuada ocupação estrangeira e uma iminente guerra civil a dar-lhe argumentos, não hesitará em representar o seu dramático papel, para desacreditar a forma como este julgamento foi e está, a ser realizado.
O julgamento de crimes de guerra normalmente ocorrem no fim de um período de trauma quando a sociedade está pronta a enfrentar os seus fantasmas, após um período de ausência de violência e de retribuição extrajudicial. O julgamento do ex. ditador iraquiano não cumpre nenhum destes requisitos.
Cabe ao Tribunal Especial Iraquiano trabalhar duro para dar credibilidade ao julgamento, correndo o risco se isso não acontecer, do julgamento vir a ser desacreditado pelas instâncias internacionais e este julgamento, precisa e muito, da força legitimadora das instâncias internacionais. Este julgamento será recordado ou como o maior julgamento da história recente ou como um espectáculo que desacreditou as novas autoridades iraquianas e toda a Administração Bush, pondo em risco os alicerces de um Estado de direito no Iraque.

terça-feira, março 14, 2006

Albert Einstein


Albert Einstein nasceu em Ulm (Württemberg, sul da Alemanha) no dia 14 de Março de 1879.O seu pai, Hermann Einstein, possuía uma oficina electrotécnica e tinha um grande interesse por tudo que se relacionasse com invenções eléctricas.Foi em Munique que Albert recebeu a sua educação primária e secundária. Quando criança, não apresentava nenhum sinal de genialidade; muito pelo contrário, o seu desenvolvimento deu-se de modo bastante moroso até a idade de nove anos. No entanto, a sua paixão em contemplar os mistérios da Natureza começou muito cedo - aos quatro anos - quando ficou maravilhado com uma bússola que ganhara de presente do pai. "Como é que uma agulha pode se movimentar, flutuando no espaço, sem auxílio de nenhum mecanismo?" - perguntava a si mesmo.Na escola, Albert sentia grande dificuldade para se adaptar às norma rígidas do estudo.
Os professores eram muito autoritários e exigiam que os alunos soubessem tudo de cor. Geografia, História e Francês era os seus grandes suplícios; preferia mais as matérias que exigiam compreensão e raciocínio, tal como a matemática.Fez seus estudos superiores na Escola Politécnica de Zurique e, em 1900, graduou-se em Matemática e em Física. Durante esse período, não chegou a ser um excelente aluno - sobretudo pelo facto de já estar fascinado por algumas questões que o absorviam completamente enquanto que o curso exigia um estudo mais superficial devido ao grande número de matérias que eram ministradas.Nas suas notas autobiográficas, Einstein conta que nessa época ficou tão enfastiado das questões científicas que, logo depois de se formar, passou um ano inteiro sem ler nenhuma das revista especializadas que eram publicadas.
Depois de se formar, Einstein procurou emprego durante muito tempo. Enquanto isso, dedicava algumas horas do dia leccionando numa escola secundária. O emprego que mais queria, o de professor-assistente na sua Universidade, havia-se malogrado.Então, em 1902, Grossmann, um colega de faculdade, consegue-lhe um emprego como técnico especializado no Departamento Oficial de Registro de Patentes de Berna, onde Einstein permaneceu até 1909, quando a Universidade de Zurique convida-o para o cargo de professor.
Em 1907, Einstein tenta obter a Venia Legendi (direito para leccionar em faculdades) na Universidade de Berna. Como dissertação inaugural, apresentou o artigo de 1905 intitulado "Electrodinâmica dos Corpos em Movimento", trabalho que o professor de física experimental recusou e criticou violentamente. Einstein ressentiu-se com o facto que adiava novamente seu ingresso no magistério universitário. No entanto, meses mais tarde, por insistência de seus amigos, tenta novamente e, desta vez é admitido.
Como professor, não era eloquente nas suas exposições, em parte porque não dispunha de tempo para se preparar, e em parte porque não apreciava desempenhar o papel de dono da sabedoria. Alguns alunos sentiam-se atraídos pela sua figura, devido à extrema simplicidade e modéstia que possuía.
Em 1913, o grande físico Max Planck e o celebre físico-químico Walter Nernst visitaram-no pessoalmente, convidando-o para cargo de director de Física do Kaiser Wilhelm Institute, em Berlim. Einstein aceitou! Começa então uma nova fase de realizações na vida de Einstein. A proximidade com Planck, Laue, Rubens e Nernst teve efeito electrizante. As suas pesquisas sobre os fenómenos gravitacionais, puderam ser finalizadas e apresentadas à Academia prussiana de Ciências em 4 de Novembro de 1915, sob o título de Teoria da Relatividade Geral.
Einstein solucionara o problema da harmonia celeste. Segundo ele, todas as tentativas anteriores para esclarecer a estrutura do Universo tinham-se baseado numa suposição falsa: os cientistas julgavam que o que lhes parecia verdadeiro, quando observavam o Universo de sua posição relativa, devia ser verdadeiro para todos os que observam o Universo de todos os outros pontos de vista. Para Einstein, não existia essa verdade absoluta. A mesma paisagem podia ser uma coisa para o transeunte, outra coisa totalmente diferente para o motorista, e ainda outra coisa para o aviador.
A verdade absoluta somente podia ser determinada pela soma de todas as observações relativas.Em oposição à doutrina Newtoniana, Einstein declarava que tudo se achava em movimento (e não que tendem a permanecer em repouso). E explicava que as velocidades dos diversos corpos em movimento no Universo são relativas umas às outras. A única excepção a essa relatividade do movimento, era a velocidade da luz, a maior que conhecemos, constituindo o factor imutável de todas as equações da velocidade relativa dos corpos em movimento.
Além da velocidade a lei da relatividade aplicava-se também à direcção de um corpo em movimento. Por exemplo, ao deixar cair uma pedra do alto de uma torre ao solo, para nós parecerá que caiu em linha recta; para um observador hipotético (pessoa ou instrumento registador) situado no espaço a pedra descreveria uma linha curva, porquanto se registaria não só o movimento da pedra sobre o nosso planeta em redor do eixo; e para um terceiro observador; em outro planeta sujeito a um movimento diferente do da Terra, a pedra descreveria outra linha diferente.
Todas as trajectórias, ou direcções, de um corpo em movimento eram, pois, relativas aos pontos de onde se observava o deslocamento desse corpo. Ainda havia um terceiro factor na relatividade: o tamanho do corpo em movimento. Todos os corpos se contraem ao mover-se: para um observador num comboio em grande velocidade, o comboio é mais comprido que para um observador que o vê da margem férrea; a contracção de um objecto em movimento aumentaria proporcionalmente à velocidade. O espaço, pois, era relativo. E o mesmo se podia dizer do tempo: o passado, o presente e o futuro não passariam de três pontos no tempo, como os três pontos do espaço ocupados, por exemplo, por três cidades.
Segundo Einstein, cientificamente falando, era tão lógico viajar de amanhã para ontem como viajar de Boston para Washington. Se um homem pudesse deslocar-se com uma velocidade superior à da luz, alcançaria o passado e teria data do seu nascimento relegada para o futuro; veria os efeitos antes das causas, e presenciaria os acontecimentos antes que eles sucedessem realmente. Cada planeta possui o seu sistema cronométrico próprio, diferente de todos os outros.
O sistema da Terra, longe de constituir uma medida absoluta do tempo para toda a parte, não passa de uma tabela de movimento do nosso planeta ao redor do Sol. O dia é uma medida de movimento através do espaço. A nossa posição no tempo depende inteiramente da nossa situação no espaço. A luz que nos traz a imagem de uma estrela distante, pode ser a estrela de milhões de anos atrás; um acontecimento ocorrido na Terra há milhares de anos só agora poderia estar sendo presenciado por um observador em outro planeta, que, por conseguinte, o considera como um episódio actual.
O que é hoje no nosso planeta, pode ser ontem num outro planeta, e amanhã em um terceiro, pois o tempo é uma dimensão do espaço, e o espaço é uma dimensão do tempo. Para Einstein, o Universo era uma continuidade espaço-tempo; um dependia do outro. Ambos deviam ser encarados como aspectos coordenados da concepção matemática da realidade.
O mundo não era tridimensional - consistia nas três dimensões do espaço e numa quarta dimensão adicional: o tempo.Mais tarde, concluiu ainda Einstein, sobre os fenómenos gravitacionais, que não existe em baixo nem em cima no Universo, no sentido de que os objectos caíam por serem puxados para baixo na direcção de um centro de gravitação. "O movimento de um corpo deve-se unicamente à tendência da matéria para seguir o caminho de menor resistência".
Os corpos, no espaço escolheriam os caminhos mais fáceis e evitariam os mais difíceis; não havia mais motivo para admitir a existência de uma força de gravitação absoluta. Einstein provou, por meio de uma série de fórmulas matemáticas, a curvatura do espaço, cujo ponto principal da teoria é: a distância mais curta entre dois pontos não é uma linha recta, mas uma, linha curva, pois que o Universo consiste numa série de colinas curvas, e todos os corpos do Universo caminham em redor das ladeiras curvas dessas colinas. Na verdade, não existe movimento em linha recta em nosso Universo.
Um raio de luz, que viaje de uma estrela remota em direcção à Terra, é desviado ao passar pela ladeira do espaço que rodeia o Sol. Einstein calculou matematicamente o ângulo recto desse desvio, que foi revelado correcto no eclipse de 1919. Esse trabalho, fruto de anos intensos de pesquisas, acabou por reafirmar o seu reconhecimento por parte da comunidade científica de mundo todo. A sua influência fez-se sentir em praticamente todos os campos da Física.
Nessa mesma época começavam a se organizar na Alemanha grupos nacionalistas extremistas. O facto de Einstein ser judeu, somado à sua posição contrária à toda forma de nacionalismo e militarismo, e ainda à sua fama mundial, aumentaram a inveja e o ódio dos nazistas, que se organizaram contra ele, sob a égide do físico ultra nacionalista Phillip von Lenard. E as acções desse grupo tornaram-se ainda mais ofensivas após 1921, quando Einstein recebeu o prémio Nobel.
Ele foi ficando cada vez mais alarmado, principalmente após o assassinato de Walter Rathenau, ministro das Relações Exteriores da Alemanha e seu amigo íntimo.Apesar de ter possibilidades de mudar para qualquer outro lugar fora da Alemanha, decidiu permanecer em Berlim para não se afastar do excelente clima científico que lá existia. No entanto, a vitória do partido nazista em 1933, compeliu-o a desistir de continuar em seu país natal. Demitiu-se da Academia Prussiana de Ciências através de carta datada de 28 de Março de 1933. Os seus bens foram confiscados e a cidadania alemã (da qual ele já havia renunciado voluntariamente) foi-lhe retirada.
Durante o ano de 1921, Einstein viajara aos Estados Unidos, onde foi recebido com inigualável entusiasmo. Nenhum monarca reinante havia sido recebido com tão pompa. Milhares de pessoas tinham comparecido às ruas de Nova Iorque para saudá-lo, enquanto desfila num carro aberto, pelas ruas de Nova Iorque. Dez anos mais tarde, as mesmas cenas repetiram-se em Los Angeles, quando Charles Chaplin foi à estação fazer-lhe a recepção e levá-lo através das ruas de Hollywood.
Entre 1925 e 1928, Einstein foi presidente da Universidade Hebraica de Jerusalém. Depois da chegada de Hitler ao poder em 1933, Einstein instala-se definitivamente nos Estados Unidos e aceitou uma posição no Instituto de Estudos Avançados de Princeton. Foi professor de física teórica. Nunca voltaria a viver na Europa.Tornou-se cidadão americano em 1940.
A sua participação no projecto Manhattan foi inteiramente acidental e muito lamentada mais tarde, se bem que o projecto se teria concretizado mesmo sem a sua participação. Em 1939, foi persuadido a escrever uma carta ao presidente Roosevelt, recomendando a aceleração das pesquisas que levariam à criação da bomba atómica. O contexto histórico praticamente o obrigou a tal atitude: os alemães estavam também desenvolvendo idêntico projecto e, se viessem a produzir a bomba antes, os efeitos poderiam ser ainda mais trágicos, do que aquilo que foram. A destruição de Hiroshima pela bomba atómica, porém, constituiu-se no pior dia de sua vida. Em 1945, Einstein reforma-se da carreira universitária.
Em 1952, Ben Gurion, então o primeiro-ministro de Israel, convida Albert Einstein para Presidente do estado de Israel. Einstein agradece mas recusa, alegando que não está à altura do cargo. Uma semana antes da sua morte assinou uma carta, endereçada a Bertrand Russel concordando que o seu nome fosse incluído numa petição exortando todas as nações a abandonar as armas nucleares. Uma posição totalmente diferente da que possuía em 1939, quando defendeu o desenvolvimento da bomba atómica.Einstein sempre pareceu mais velho do que realmente era. A efervescência intelectual esgotou prematuramente suas reservas físicas.
Em 1954, o rápido declínio de suas forças físicas manifestaram-se de forma alarmante. Quando, em Abril de 1955, ele foi transferido para o hospital de Princeton, sentiu que o fim havia chegado. Na manhã de 18 de Abril de 1955, a sua vida extinguiu-se. O seu corpo foi cremado e o seu cérebro (roubado?) doado ao cientista Thomas Harvey, patologista do Hospital de Priceton.

segunda-feira, março 13, 2006

Einstein:Ícone Pop!


Irreverentemente com a língua de fora, Einstein surge nesta fotografia a brincar com todos nós. Na altura, a 14 de Março de 1951, já ocupava o panteão dos famosíssimos e uma foto destas só podia estar destinada à galeria das mais célebres.
A história por trás desta imagem, tirada faz amanhã 55 anos, revela que não foi encenada. Einstein, tinha ido à noite comemorar os 72 anos ao Princeton Club, na cidade de Princeton, em Nova Jérsia, Estados Unidos da América.
No fim da festa, um amigo ofereceu-se para o levar a casa, à porta do clube, um batalhão de jornalistas esperava Einstein. “Para “bater uma última chapa”, Art Sasse, da International News Photos, deixou que os colegas passassem à sua frente e, quando Einstein já estava sentando no interior do automóvel, com a porta aberta, gritou: “Ei, professor, sorria para a sua foto de aniversário, sim?” “Num relâmpago, Einstein virou-se para ele - e mostrou-lhe a língua. A máquina disparou e o carro partiu...”
Os colegas de Art Sasse nunca pensaram que a foto fosse publicada. Na verdade, não foi nada pacífica a decisão de publicá-la. Publicar a foto da rebeldia inesperada do físico acabou por traduzir-se na expressão máxima de Einstein enquanto ícone Pop.
Einstein gostou tanto da foto que pediu nove provas para si e autografou outra, que ofereceu a Sasse. E todos puderam ver uma parte do génio que até aí não se tinha visto. Era divertido, simpático e tinha sentido de humor.
Adaptado da Pública.

sábado, março 11, 2006

Slobodan Milosevic


Slobodan Milosevic nasceu em Pozarevac, na Sérvia, no dia 20 de Agosto de 1941, filho de professores de Teologia. Advogado de formação, foi administrador da companhia nacional sérvia de gás e banqueiro nos EUA, antes de enveredar pela política.
Até Abril de 1987, Slobodan Milosevic não passava de um obscuro protegido de Ivan Stambolic, o ex. Presidente da República Sérvia. Mas quando a polícia de choque da província do Kosovo atacou uma série de Sérvios que se preparavam para participar num encontro político nesse dia de Abril, Milosevic assistiu a tudo numa varanda perto do local e declarou: "Ninguém tem o direito de vos bater. Ninguém vos vai voltar a bater; nunca mais!" As suas palavras transformaram - se num grito de batalha para os Sérvios, a nacionalidade maioritária nas duas repúblicas Jugoslavas. Cinco meses mais tarde, Milosevic derrubou Stambolic, o seu ex – amigo e mentor. Em 1989 assumiu as funções de presidente. Pouco tempo depois retirou ao Kosovo o seu estatuto de autonomia.
O seu objectivo aparente era a criação de uma Jugoslávia dominada pela Sérvia, consigo na liderança. Assumiu o controlo firme dos meios de comunicação social e assumiu uma posição intolerante relativamente às críticas que lhe são dirigidas. Mas à medida que o comunismo se enterrava em toda a Europa de Leste, as repúblicas Jugoslavas iniciaram os seus próprios processos independentistas.
Os esforços brutais de Milosevic de continuar a reinar sobre essas províncias agira independentes, acenderam conflitos sangrentos na Bósnia e na Croácia, e garantiram - lhe a alcunha de "O Carniceiro dos Balcãs". Muitos especialistas especulam que Milosevic- cujos pais e um tio cometeram suicídio - pode ter distúrbios mentais. A pressão internacional através da aviação da NATO e das sanções forçou Milosevic a aceitar as repúblicas, participando inclusivamente nas conversações de paz que, em 1995, puseram termo ao conflito.Mas durante os três anos sem guerra, o líder Sérvio viu que a sua base de apoio diminuía a olhos vistos. Diversos protestos estudantis tiveram início em Novembro de 1996, após Milosevic ter ordenado a anulação das eleições ganhas pela oposição.
Depois, em Fevereiro de 1998, nova guerra étnica explodiu no Kosovo, motivada pelo desejo dos Kosovares em retomarem a sua autonomia e à exigência de reformas diversas. Milosevic foi diversas vezes acusado de apoiar acções de "limpeza étnica", pelo menos 2000 pessoas foram mortas e mais de 400 mil obrigadas a abandonar as suas casas. Após a recusa de Milosevic em cumprir as exigências da NATO e dos Estados Unidos, as duas forças lançaram diversos ataques aéreos contra a Jugoslávia em Março de 1999. Extremamente popular entre os Sérvios, Milosevic parecia não ter qualquer intenção em alterar o seu modo de agir e muito menos de abandonar o poder.
Mas em Outubro de 2000, dá – se a reviravolta, na sequência da derrota eleitoral que Milosevic não quer aceitar, um levantamento popular provoca o afastamento de Milosevic do poder. O ex- presidente retira - se para a sua luxuosa "villa" em Belgrado. O Presidente Kostunica, que lhe sucede, recusa - se a entregar Milosevic ao Tribunal Internacional de Crimes de Guerra, em Haia. A 1 de Abril de 2001, Milosevic é detido pelas autoridades Sérvias, sob acusações de abuso do poder e peculato. Durante a noite, é entregue a militares Holandeses da ONU que o levaram para Haia, para ser julgado, sobre a acusação de ter praticado, crimes de guerra, crimes contra a humanidade e genocídio pelo seu papel nas guerras na Croácia e Bósnia (1991-1995) e no Kosovo (1998-1999) e nomeadamente, o massacre de
Srebrenica*, considerado o pior massacre ocorrido na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.
O julgamento de Milosevic no Tribunal Penal Internacional, começou em 12 de Fevereiro de 2002 e a sua conclusão vinha sofrendo vários atrasos por causa dos problemas de saúde do ex-presidente.
Morreu hoje, 11 de Março 2006, na prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia. O Tribunal afirmou que ele foi encontrado morto na sua cela na manhã deste sábado, não se sabendo ainda, qual foi a causa da morte.O TPI ordenou a abertura de um inquérito para apurar as circunstâncias da sua morte.

*O Massacre de Srebrenica


Quando em 11 de Julho de 1995, Srebrenica foi conquistada pelas forças sérvias comandadas por Ratko Mladic (um dos mais procurados suspeitos do conflito na Bósnia, acusado pelo Tribunal Penal Internacional para a ex. Jugoslávia de genocídio e outros crimes contra a humanidade), cerca de 15 mil muçulmanos conseguem fugir para as montanhas. Outros 25 mil tentam refugiar-se na base do contingente holandês, em Potocari. Cerca de cinco mil conseguem entrar, antes de os holandeses fecharem os portões. Os refugiados encontravam-se sob a protecção de 450 capacetes azuis holandeses naquela que foi decretada “zona de segurança” pelas Nações Unidas. O bombardeamento das posições sérvias, naquele dia, por parte da aviação holandesa, teve que ser suspenso, porque as forças comandadas por Ratko Mladic ameaçaram assassinar os 30 capacetes azuis que tinham sequestrado, deixando os soldados da ONU a assistir, impotentes, à separação dos refugiados por parte das forças sérvias. Mulheres e crianças para um lado, homens e rapazes para outro. As mulheres são metidas em autocarros e enviadas para território sob controlo muçulmano. Os outros, com idades entre os 12 e os 92 anos, sim, entre 12 e 92 anos, seguem para a morte. Cerca de oito mil muçulmanos foram executados sumariamente pelas forças sérvias nos dias seguintes, em Srebrenica, naquele que foi o pior massacre na Europa desde a II Guerra Mundial.

sexta-feira, março 10, 2006

A Afirmação de Uma Nova Europa


Na recente visita à Finlândia, José Sócrates relançou o debate da Constituição Europeia com vista à colocação dos referendos na agenda política. Aproveitando a ocasião da tomada de posse do novo Presidente da República, que tem a responsabilidade de marcar as datas, é importante tecer algumas considerações que devem ser analisadas antes de o fazerem, nomeadamente avaliar o estado da Europa do ponto de vista social.
Na altura dos primeiros “nãos” (França e Holanda), que obrigaram a adiar os restantes referendos, a situação social não era muito favorável e, como contínua tudo na mesma (crises económicas e desemprego), é elucidativo que o caminho seguido não é aquele que mais defende as pessoas. Se mais nenhuma conclusão se retirasse destes resultados, claramente, não foi julgada a constituição mas sim as opções políticas adoptadas.
Os motivos estarão fundamentalmente relacionados com a forma desumanizada como decorre a globalização, entrada da China na organização mundial do comércio (OMC) e o alargamento da Europa, factos que levantam questões de importância vital e que impõe ás pessoas preocupações com o seu futuro imediato e, mais importante, no meu ponto de vista, com o das gerações vindouras. Nem todas as questões resultantes destes acontecimentos foram esclarecidas de maneira satisfatória por quem tem a obrigação de o fazer, cuja responsabilidade não termina na divulgação da sua própria opção e crença no ideal europeu.
Mais importante é garantir que aquilo que as sucessivas gerações lutaram para colocar a Europa na vanguarda dos direitos humanos, na equitativa distribuição da riqueza e nos sistemas de protecção social, ou seja, o nosso modelo civilizacional, não passou de momentos de radicalismo revolucionário condenado ao fracasso e ao retorno cíclico ao passado. Assim, tenho reservas sobre a constituição e o carácter de inevitabilidade atribuído ás causas, reservas que facilmente se enquadram ao articular o passado e o presente do nosso Continente.
Nos finais do século XIX princípio do século XX, os regimes oligárquicos e monarquias eram os sistemas sociais dominantes, absolutamente despóticos onde, distintamente, existiam dois tipos de pessoas, os todo-poderosos e os nada poderosos, conjugado com dois sistemas sociais em que uma maioria absolutamente esmagadora vivia na mais vil miséria e uma minoria no mais ostensivo luxo, que era o resultado da exploração, que durou séculos, dos mais fracos e oprimidos. Em estreita ligação coexistiam sistemas justiça, saúde e educação com igual distribuição e, principalmente no que à justiça diz respeito, quando se verificava algum insólito cruzamento de classes sociais, o regime vigente impunha, invariavelmente, aos mais fracos a lei do mais forte.
Estes comportamentos perduraram durante séculos até que as injustiças inerentes ao absoluto despotismo das oligarquias europeias foram de tal maneira insuportáveis, que o povo se revoltou. Este pensamento de liberdade e igualdade foi, progressivamente, transmitido ás pessoas por alguns visionários, até ter imbuído todos num espírito de comunhão. Depois disto nunca mais nada foi igual, os sistemas sociais foram progressivamente sendo mais justos, onde todos ou quase todos (também não sou totalmente ingénuo) têm a oportunidade de fazer chegar a sua voz a quem tem o poder de decidir.
No entanto, todas estas conquistas estão neste momento a ser barbaramente subvertidas e, com isto, os líderes europeus parecem-me, nesta fase, com problemas graves de memória. O mesmo povo que obteve pelas suas lutas os seus direitos e que os elegeu, (as eleições também são uma das consequências das revoluções) está a ver as suas expectativas defraudadas pelas opções políticas dos seus eleitos que, objectivamente, se esqueceram deles.
Aqui é que reside o busílis destas questões, a entrada da China na OMC põe em causa todos os direitos adquiridos, cujas lutas para os conseguir custaram tanto a tantas pessoas. A Europa vive neste momento o seu momento de maior hipocrisia. A deslocalização das empresas para países deste género, mais não é do que escravatura financiada por aqueles que um dia lutaram contra ela. Mais grave ainda é recordar a intoxicação da opinião pública de campanhas contra o trabalho infantil e os governantes europeus a não tomarem medidas para impedir a entrada de produtos fabricados por crianças escravas. Onde fica a autoridade moral?
Com efeito, em vez de todos vivermos cada vez melhor, todos viveremos cada vez pior, pois a deslocalização das empresas para locais com mão-de-obra escrava, eu sublinho, escrava criará, inevitavelmente, uma crise social nos locais onde ela não o é, fazendo ressurgir com toda a força o instinto de auto preservação nas pessoas, retirando-lhes todas a capacidade reivindicativa.
Claro que isto apenas se manterá até certo ponto, pois será inevitável o reaparecimento das revoluções que tornarão o mundo de tal forma caótico, numa espécie de ressaca da visão estritamente economicista dos actuais líderes mundiais. Significa isto que estamos neste momento a viver uma espécie de clima pré-revolucionário, pois é expectável o reaparecimento de estruturações socais em tudo igual ás que levaram ás anteriores revoluções.
O que se reconhece neste momento é que as ditaduras políticas da altura estão a ser substituídas pelas ditaduras do dinheiro e do lucro, o que constitui um factor de opressão que, como então, obrigará a levantamentos populares. Este ressurgimento implicará necessariamente grandes convulsões nos paradigmas sociais, para o bem ou para o mal. O mais espantoso de tudo disto é que o único argumento que ouvi dos que a defendem, foi que a globalização é inevitável, como se as decisões fossem tomadas por máquinas e não por seres humanos. Como se as coisas não pudessem ser feitas de outra maneira.
O que me parece é que os donos do dinheiro querem é estender os seus tentáculos até aos mercados ainda não explorados e ninguém tem força para os deter, ou seja, estando mais interessados e ávidos pelos lucros que se obterão com a escravatura e a exploração de outros seres humanos do que com a manutenção dos nossos direitos. É óbvio que estamos a competir com países onde não existem direitos. Assim, uma vez que a Europa tem, indiscutivelmente, o melhor sistema social, para se entrar no nosso mercado deveríamos obrigar os outros a dar aos seus trabalhadores os mesmos direitos e impor os restantes custos sociais da mesma forma.
A mesma trupe que promove esta cruzada pelo lucro a qualquer preço, não está absolutamente nada interessada nos restantes seres humanos, pois serão os mesmos que a, breve prazo, continuarão a viver principescamente rodeados pelo crescente número de indigentes, criminosos, em resumo, por todo tipo de pragas sociais, num incessante caminhar para as sociedades em tudo iguais à da América latina.
O exemplo mais evidente é o do nosso país. A ser verdade que resultarão mais quinhentos mil desempregados dos sectores dos têxteis e do calçado será, naturalmente, o caos social. Assim, estamos à beira de o nosso país se tornar um local onde o futuro é em cada minuto uma luta pela sobrevivência onde, progressivamente, caminharemos para uma inexorável desumanização própria dos primórdios da era moderna.
Tudo isto aparenta ser uma representação permanente e cínica, a julgar pela aceitação aparentemente tácita de tudo o que implicam estas modificações sociais. O resultado será, provavelmente, a destruição do modelo civilizacional da Europa.

Filipe Pinto.

quinta-feira, março 09, 2006

Cavaco Silva


Vinte anos depois de ter assumido o cargo de primeiro-ministro e após dez anos de afastamento da ‘ribalta‘ política, Cavaco Silva chega hoje a Belém para cumprir o mandato de cinco anos como Presidente da República. Longe da política activa desde 1996, Cavaco Silva regressou em Outubro de 2005 para tentar conquistar a Presidência da República, que lhe tinha escapado para Jorge Sampaio dez anos antes. Um regresso meticulosamente preparado, onde não houve margem para imprevistos. Tal como tinha feito durante os dez anos em que esteve afastado da vida política, desde que apresentou a sua candidatura presidencial, a 20 de Outubro, e até ao início da campanha eleitoral, as suas intervenções foram poucas e sempre estudadas ao pormenor. Durante a volta que fez ao país nas três semanas que antecederam as eleições de 22 de Janeiro, onde conseguiu alcançar a vitória à primeira volta com 50,5 por cento dos votos, Cavaco Silva visitou os 18 distritos do continente e fez uma curta passagem pela Região Autónoma da Madeira. Nos discursos, Cavaco Silva repetiu habitualmente as mesmas ideias, prometendo cooperar com o Governo, mas mantendo sempre um “olhar” vigilante às acções e políticas do executivo de José Sócrates. O novo Presidente da República assumiu ainda a sua intenção de manter um papel decisivo na melhoria da situação económica e na recuperação do atraso do país em relação à média da União Europeia, garantindo que irá “ajudar o país a sair da crise”.As polémicas estiveram praticamente ausentes da campanha, com Cavaco a recusar entrar em “diálogo” com os seus adversários e a evitar falar de questões “quentes” da actualidade política. O homem que acha que “quase nada acontece por acaso”, foi primeiro-ministro durante dez anos (1985-1995), nos primeiros anos de Portugal na Comunidade Europeia, da política de betão, das auto- estradas e das reformas, obtendo para o PSD duas maiorias absolutas afastou-se, em 1996, da ribalta.
Aníbal Cavaco Silva nasceu em Boliqueime (Algarve) em 15 de Julho de 1939. Na escola, foi um aluno médio e aos 13 anos chumbou no terceiro ano da Escola Comercial. Como castigo, o avô obrigou-o a trabalhar de enxada na mão na horta. Em 1964, licenciou-se em Finanças no Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras (ISCEF), com uma média de 16 valores. Já casado com Maria Alves da Silva, de quem teve dois filhos (Patrícia e Bruno), Cavaco Silva cumpriu, em 1964, o serviço militar obrigatório em Moçambique, como oficial miliciano da Administração Militar. A carreira docente é iniciada em 1966, como assistente do ISCEF, mas dois anos depois Cavaco ingressa na Universidade de York (Reino Unido), onde, em 1973, faz o doutoramento. Regressado a Portugal, foi professor auxiliar no ISCEF (1974), professor na Universidade Católica (1975), professor extraordinário na Universidade Nova de Lisboa (1979) e Director do Gabinete de Estudos do Banco de Portugal. A política só entra na sua vida após o 25 de Abril de 1974, aderindo logo nesse ano ao então PPD, de Sá Carneiro, de quem é um admirador. Antes de chegar à liderança do partido, Cavaco Silva esteve no gabinete de estudos do PSD e foi ministro das Finanças do Governo de Francisco Sá Carneiro (1980-81). Com a morte de Sá Carneiro, em Dezembro de 1980, e a crise na Aliança Democrática, abandona o executivo e lidera com Eurico de Melo uma oposição a Pinto Balsemão. É deputado (1980) e presidente do Conselho Nacional do Plano (1981-1984). Em 1985, Cavaco Silva vai ao congresso da Figueira da Foz fazer a rodagem do seu Citroen BX e ganha surpreendentemente a liderança do partido na disputa com João Salgueiro. Depois, rompe o acordo de coligação com o PS (Bloco Central), iniciado pelo falecido Mota Pinto, e provoca eleições antecipadas. Após ganhar as legislativas de 1985, com maioria relativa, Cavaco Silva forma um governo minoritário que durou cerca de dois anos. Em 1987, o executivo cai com uma moção de censura apresentada pelo PRD no Parlamento. É então que conquista a primeira maioria absoluta do pós-25 de Abril, que repete nas legislativas de 1991. É na fase final do seu mandato - ironicamente depois de o PSD ter apoiado a reeleição de Mário Soares para Belém - que atravessa o período mais conturbado das relações com o Presidente da República. Em 1994, alimenta durante largos meses o famoso “tabu” sobre a sua hipotética recandidatura ao cargo de primeiro-ministro, que só seria quebrado muito próximo das legislativas de 1995. Quebrado o tabu, Cavaco deixa a liderança social-democrata para Fernando Nogueira e, em 1996, decide candidatar-se a Belém, mas perde para o socialista Jorge Sampaio. De 1996 até à data em que anunciou a sua candidatura a Belém, o primeiro-ministro que fez do sigilo uma regra do seu gabinete e entende que “a qualidade nunca é um acidente e que quase nada acontece por acaso” quebrou poucas vezes o silêncio para comentar a política portuguesa. Dez anos depois da primeira candidatura à Presidência da República, Cavaco Silva regressou à vida política activa vencendo as presidenciais de Janeiro de 2006, à primeira volta, com 50,5% dos votos. Pela primeira vez em 31 anos de democracia, Portugal elegeu um presidente de centro-direita, deixando pelo caminho os cinco candidatos representantes da esquerda: Manuel Alegre (20,7%), Mário Soares (14,3%), Jerónimo de Sousa (8,6%), Francisco Louçã (5,3%) e Garcia Pereira (0,4%).

Aníbal Cavaco Silva, toma posse hoje como Presidente da República, será o 18º Chefe do Estado português desde a implantação da República, em 5 Outubro de 1910, e o quarto eleito em democracia.

Lista dos Presidentes da República:

- Jorge Fernando Branco de Sampaio:
Nasceu em Lisboa, a 18 de Setembro de 1939.
Profissão - Advogado.
Eleito a 14 de Janeiro de 1996.
Reeleito a 14 de Janeiro de 2001.
Presidente da República de 9 de Março de 1996 a 9 de Março de 2006.






- Mário Alberto Nobre Lopes Soares:
Nasceu em Lisboa, a 7 de Dezembro de 1924.
Profissão - Advogado.
Eleito a 16 de Fevereiro de 1986 (segunda volta).
Reeleito a 13 de Janeiro de 1991. Presidente da República de 9 de Março de 1986 a 9 de Março de 1996.




- António dos Santos Ramalho Eanes:
Nasceu em Alcains (Castelo Branco), em 25 de Janeiro de 1935.
Profissão - Militar.
Eleito a 27 de Junho de 1976.
Reeleito a 7 de Dezembro de 1980.
Presidente da República de 14 de Julho de 1976 a 9 de Março de 1986.






- Francisco da Costa Gomes:
Nasceu em Chaves, a 30 de Junho de 1914.
Morreu a 31 de Julho de 2001.
Profissão - Militar.
Assumiu a Presidência da República a 30 de Setembro de 1974 por indicação da Junta de Salvação Nacional, devido à demissão do general Spínola.
Presidente da República até 14 de Julho de 1976.




- António Sebastião Ribeiro de Spínola:
Nasceu em Estremoz (Évora), a 11 de Abril de 1910.
Morreu em Lisboa, a 13 de Agosto de 1996.
Profissão - Militar.
Nomeado Presidente da República pela Junta de Salvação Nacional, a que preside, a 15 de Maio de 1974.
Presidente da República até 30 de Setembro de 1974, dia em que se demite do cargo.




- Américo de Deus Rodrigues Thomaz:
Nasceu em Lisboa, a 19 de Novembro de 1894.
Morreu em Cascais, a 18 de Setembro de 1987.
Profissão - Militar.
Eleito a 8 de Junho de 1958.
Reeleito em 1965 e 1972, por colégio eleitoral. Presidente da República de 9 de Agosto de 1958 a 25 de Abril de 1974 (derrubado pelo Movimento das Forças Armadas, que levou à queda do regime do Estado Novo).




- Francisco Higino Craveiro Lopes:
Nasceu em Lisboa, a 12 de Abril de 1894.
Morreu em Lisboa, a 2 de Setembro de 1964.
Profissão - Militar.
Eleito a 21 de Julho de 1951.
Presidente da República de 9 de Agosto de 1951 até Julho de 1958.






- António Óscar de Fragoso Carmona:
Nasceu em Lisboa, a 24 de Novembro de 1869.
Morreu em Lisboa, a 18 de A bril de 1951.
Profissão - Militar.
A Presidência da República assinala que Óscar Carmona, então presidente do Ministério, era implicitamente o Chefe do Estado desde 9 de Julho de 1926, já que não existia presidente. Foi nomeado, interinamente, por decreto, para o cargo a 16 de Novembro de 1926. Foi eleito, por sufrágio directo, Presidente da República. Foi sucessivamente reeleito sem opositor a 17 de Fevereiro de 1935, a 8 de Fevereiro de 1942. A oposição apresentou, para as eleições de 13 de Fevereiro de 1949, a candidatura do general Norton de Matos, que se retirou antes da votação.
Presidente da República de 16 de Novembro de 1926 até à sua morte, a 18 de Abril de 1951.

- Manuel de Oliveira Gomes da Costa:
Nasceu em Lisboa, a 14 de Janeiro de 1863.
Morreu em Lisboa, a 17 de Dezembro de 1929.
Profissão - Militar.
Chegou à chefia do Estado na sequência do golpe militar de 28 de Maio de 1926, que liderou, que pôs termo à I República e viria a instaurar a ditadura.
Afastando Mendes Cabeçadas, ocupou a chefia do Estado e do Governo entre 17 de Junho de 1926 e 9 de Julho do mesmo ano, altura em que foi deposto. Foi afastado por Óscar Carmona e Sinel de Cordes, devido à incapacidade para gerir os equilíbrios da nova situação.

- José Mendes Cabeçadas Júnior:
Nasceu em Loulé, a 19 de Agosto de 1883.
Morreu em Lisboa, a 11 de Junho de 1965.
Profissão - Militar.
Chegou à chefia do Estado a 31 de Maio de 1926, dia em que simultaneamente obteve do então Presidente Bernardino Machado a chefia do Governo, enquanto chefe do Ministério. Foi afastado do cargo por Gomes da Costa, em 17 de Junho de 1926.

- Manuel Teixeira Gomes:
Nasceu em Vila Nova de Portimão, a 27 de Maio de 1862.
Morreu em Bougie , Argélia, a 18 de Outubro de 1941.
Profissão - Depois de desistir do curso de Medicina de Coimbra e de ter passado pelos círculos intelectuais de Lisboa, dedica-se com o pai à exportação de figos. Diplomata e escritor. Republicano e democrata, foi eleito Presidente da República na sessão do Congresso de 6 de Agosto de 1923, após um acto eleitoral renhido, tomando posse a 5 de Outubro. Resigna a 11 de Dezembro de 1925.



- António José de Almeida:
Nasceu em Vale de Vinha, concelho de Penacova, a 27 de Julho de 1866.
Morreu em Lisboa, a 31 de Outubro de 1929.
Profissão - Médico.
Eleito Presidente da República na sessão do Congresso de 6 de Agosto de 1919. Foi substituído no cargo a 5 de Outubro de 1923.






- João do Canto e Castro Silva Antunes:
Nasceu em Lisboa, a 19 de Maio de 1862.
Morreu em Lisboa, a 14 de Março de 1934.
Profissão - Militar.
Eleito Presidente da República na sessão do Congresso de 16 de Dezembro de 1918. É substituído no cargo em 5 de Outubro de 1919 por António José de Almeida.






- Sidónio Bernardino Cardoso da Silva Pais:
Nasceu em Coimbra, a 1 de Maio de 1872.
Morreu em Lisboa, a 14 de Dezembro de 1918, vítima de um atentado na estação do Rossio.
Profissão - Militar, professor universitário e diplomata.
Depois do golpe de Estado de 5 de Dezembro de 1917, que encabeça, ocupa diversos cargos até chegar a Presidente da República a 27 de Dezembro de 1917.
Sem consultar o Congresso, modifica a lei eleitoral e é eleito por sufrágio directo dos cidadãos eleitores a 28 de Abril de 1918. Foi proclamado em 9 de Maio do mesmo ano, exercendo o cargo até à morte, a 14 de Dezembro.

- Bernardino Luís Machado Guimarães:
Nasceu no Rio de Janeiro, em 28 de Março de 1851.
Morreu no Brasil, a 2 8 de Abril de 1944.
Em 1872, já a viver em Portugal, opta, aquando da sua maioridade, pela nacionalidade portuguesa.
Profissão - Professor universitário.
A partir da implantação da República, em 5 de Outubro de 1910, é chamado a ocupar os mais altos cargos na hierarquia política do país. Foi eleito por duas vezes Presidente da República, exercendo a magistratura de 1915 a 1919, e de 1925 a 1929.Não cumpriu nenhum dos mandatos até ao fim, abortados que foram, o primeiro pelo movimento de Sidónio Pais, e o segundo pelo golpe militar do 28 de Maio de 1926. Eleito na sessão especial do Congresso de 6 de Agosto de 1915, dois meses antes do termo presidencial anterior, como previa a Constituição. Tomou posse do cargo a 5 de Outubro de 1915.Após a renúncia de Manuel Teixeira Gomes, Bernardino Machado foi novamente eleito Presidente da República, em 11 de Dezembro de 1925.É substituído no cargo pelo almirante Mendes Cabeçadas em 31 de Maio de 1926.

- Joaquim Teófilo Fernandes Braga:
Nasceu em Ponta Delgada, Açores, a 24 de Fevereiro de 1843.
Morreu em Lisboa, a 28 de Janeiro de 1924.
Profissão - Escritor e professor.
Eleito Presidente da República na sessão do Congresso de 29 de Maio de 1915, em substituição de Manuel de Arriaga, que se demitiu. Cumpre o mandato até 5 de Outubro do mesmo ano, sendo substituído por Bernardino Machado.




- Manuel José de Arriaga Brum da Silveira:
Nasceu na cidade da Horta, Açores, a 8 de Julho de 1840.
Morreu em Lisboa, a 5 de Março de 1917.
Profissão - Advogado e escritor. Foi reitor da Universidade de Coimbra.
Eleito Presidente da República a 24 de Agosto de 1911.
Na sequência da instabilidade governativa, foi obrigado a resignar em 2 6 de Maio de 1915, depois de a 13 de Maio do mesmo ano, sectores da Armada chefiados por Leote Rego e José de Freitas demitirem o Governo. Saiu do Palácio de Belém escoltado por forças da Guarda Republicana.
Fontes:Lusa/«A República e os seus Presidentes», editado pelo Museu da República e da Resistência.

quarta-feira, março 08, 2006

A Estupidez Circular

Se há coisas que me irritam para lá do normal, uma delas é o racismo. Não interessa a circunstâncias e principalmente quando o manifestam de forma ofensiva, publica e provocatoriamente, com o intuito de humilhar. Foi o que se passou com o Samuel Eto´o.
O insulto ao jogador sob a forma de ruídos simiescos, perpetrado pelos acéfalos adeptos do Saragoça, num comportamento resultante de uma espécie de estupidificação generalizada, levou-o ao desespero e, compreensivelmente, a ameaçar abandonar o jogo. Mesmo que as pessoas defendam aqui o direito à manifestação, neste caso nem sequer é a defesa de uma qualquer ideologia, mas uma forma desumana e baixa de provocar despropositadamente uma pessoa, não fazendo, por isso, qualquer espécie de sentido defender esta atitude com o recurso à liberdade de expressão, pois entramos no campo do insulto fácil e gratuito. Não acredito que todos os estivessem imbuídos num espírito racista mas, ao compactuarem com esta conduta, ainda são piores que os que o fizeram com convicção. Conheço casos de pessoas que abandonaram um local em sinal de protesto com a opinião do orador. Eu próprio já disse e fiz muita estupidez a este respeito. Todavia, nunca foi a minha intenção melindrar ninguém. Um dia apercebi-me que há coisas que não sendo ofensivas na essência, passam a sê-lo se tivermos em atenção à história da humanidade. O carácter ofensivo e pejorativo das palavras advém do facto de ainda estarem profundamente enraizadas na alma das pessoas as monstruosidades cometidas durante séculos. E que não se esquecem em tão pouco tempo. Esta percepção das coisas resultou de uma experiência insólita que até parece inverosímil. Um dia um amigo falou-me de um fenómeno emergente que estava a ser objecto de estudos, os alegados raptos de seres humanos por extraterrestres. Mostrei-me céptico e ele emprestou-me um livro chamado “Sequestros” escrito por Jonh Mack um psiquiatra de grande prestígio. Este livro mais não era que uma compilação de histórias dos seus pacientes que, sujeitos à terapia de hipnose regressiva, recordavam experiências profundamente dolorosas dos raptos alienígenas. De todos os relatos, e subjacente aos raptos, discutiam-se os sentimentos e o atroz sofrimento que aquelas experiências induziam. Eram tão avassaladoramente intensos, resultando do domínio absoluto sobre a vontade individual, conjugado com uma impotência para esboçar qualquer reacção, que era como se fossem ratos num labirinto, com a diferença que estes tinham consciência que o eram. Tentem abstrair-se e imaginar o que seria se fossemos nós a ser vítimas de uma desconcertante indiferença perante os nossos sentimentos, semelhantes aos perpetrados pelo médico nazi Mengel aos judeus indefesos.
Mesmo continuando a manter a minha posição de céptico sobre este assunto, fiz um exercício mental, mas partindo do pressuposto que era verdade. Conclui que continuava a ser uma hipótese remota, uma vez que qualquer civilização que cá chegasse seria incomparavelmente mais evoluída e, que se a evolução seguisse o mesmo caminho que na Terra, era incontornável o aparecimento de uma consciência colectiva, uma espécie de humanização da sua sociedade, o que invalidava o pressuposto inicial. Caso contrário, pensei eu na altura, configuraria um tipo de racismo, o que não faz o menor sentido para mentes desenvolvidas sadiamente. Foi então que me apercebi. Se pensarmos que o racismo tem a sua génese na escravatura, que mais não era que um domínio avassalador sobre a vontade do esclavagista sobre o escravo, sempre e inexoravelmente presente, que na ausência quer na presença do dominador, com a conivência dos poderes vigentes na altura, que elevava a impotência que eles sentiam a um nível que só quem passa pelo mesmo entende, facilmente se percebe o paralelismo.
A discussão feita pelo psiquiatra em torno dos sentimentos foi, por isso, reveladora, assim como a natural tendência para o ressentimento contra todos os que reavivem a memória, pelos seus actos, de situações profundamente marcantes. Este raciocínio nada elaborado levou-me a compreender este ressentimento e a evitar palavras que são susceptíveis de ferir sensibilidades. As atrocidades cometidas durante esses anos criaram clivagens que dificilmente serão esquecidas. A contínua humilhação de seres humanos e o sofrimento causado, levou a algumas demonstrações de grandeza em pequenos actos. Rosa Parks, foi uma das pessoas que o fez ao recusar ceder o seu lugar no autocarro. Mas não é só o que fica para a história que é digno de ser recordado. Contou-me alguém de quem gosto muito que durante as andanças pela guerra de ultramar, a sua companhia passou por uma roça (penso que era de cacau), onde um capataz exercia arbitrariamente a sua autoridade com castigos físicos sobre os trabalhadores. Ao avistar os militares, sentiu-se como que legitimado na sua autoridade e reforçou a violência. Acto contínuo, o comandante enfiou-lhe um murro dizendo :- É por causa de filhos da puta como tu que nós temos que cá estar.
Eu gostava de ter feito aquilo. É como se ser um simples participante destes momentos nos engrandecesse enquanto seres humanos. É o mesmo desejo que tenho de ter sido eu a dar o isqueiro àquela senhora que queimou o sutiã, em sinal de protesto na sua luta pela emancipação das mulheres. Por outro lado, a ciência já provou, sem lugar para ambiguidades, que não é possível distinguir geneticamente as pessoas, defraudando aqueles que o defendiam fervorosamente. O que está mais que provado é que a oportunidades iguais, correspondem, na generalidade, resultados iguais, existindo aqui e ali algumas idiossincrasias que facilmente são observáveis ao nível de algumas modalidades desportivas.
E por falar em desporto, recordo emocionado a atitude dos dois atletas que, após a sua vitória, erguerem a sua mão com o punho fechado, sinal do seu empenhamento na luta pelos seus direitos cívicos. Foram censurados pelo acto quando expressavam o seu direito à indignação. Estes e outros como Nelson Mandela, Frederik de Klek, Rosa Parks, Martins Luther King, são símbolos de uma mudança que a história não esquecerá. Os restantes, como diz o Ricardo de Araújo Pereira, figurarão nos livros com o epíteto de “Bestas do Caralho”.
O racismo é a negação da humanidade. Um racista tem problemas com a sua própria identidade e afirmação enquanto ser humano, não se enquadrando, por isso, neste espantoso acontecimento cósmico que é a vida. Nunca é demais frisar o valor da ciência neste campo das desmistificações, que também descobriu que o chimpanzé partilha 97% do nosso genoma. Há por isso toda uma escala até aos 100% que tem de ser preenchida por alguém. Temos então o PNR. Estou a ler um livro de onde saiu o título deste texto, a estupidez circular mais não é de que aquela que, independentemente do ângulo de observação, é sempre estupidez.

Filipe Pinto.

terça-feira, março 07, 2006

Dia Internacional da Mulher


Durante séculos, o papel da mulher resumiu-se sobretudo à sua função de mãe, esposa e dona de casa. Ao homem estava destinado um trabalho remunerado no exterior do núcleo familiar. Com o aparecimento da Revolução Industrial, muitas mulheres passaram a exercer uma actividade laboral, embora auferindo uma remuneração inferior à do homem.
Lutando contra essa discriminação, as mulheres encetaram diversas formas de luta na Europa e nos EUA. Numa dessas acções reivindicativas, no dia 8 de Março de 1857, as operárias têxteis de uma fábrica de Nova Iorque entraram em greve, ocupando a fábrica, para exigirem a redução de um horário de mais de 16 horas por dia para 10 horas. Estas operárias que, nas suas 16 horas, recebiam menos de um terço do salário dos homens, foram fechadas na fábrica onde, entretanto, deflagrou um incêndio, e 130 mulheres morreram queimadas.
O dia 8 de Março significou mais do que um dia trágico na história da humanidade, na verdade, elevou ao máximo a violência e a tirania para com as mulheres operárias, que ao ocuparem a fábrica têxtil em que trabalhavam, foram queimadas sem qualquer piedade por estarem a lutar contra a exploração e a desigualdade tanto salarial quanto social em relação aos homens.
Em 1910, numa conferência internacional de mulheres realizada na Dinamarca, foi decidido, em homenagem àquelas mulheres, comemorar o 8 de Março como "Dia Internacional da Mulher".
Passados 149 anos da histórica jornada de luta das mulheres operárias têxteis de Nova Iorque, se, na verdade, perante a lei da maioria dos países, não existe qualquer diferença entre um homem e uma mulher, a prática demonstra que ainda persistem muitos preconceitos em relação ao papel da mulher na sociedade.
Apesar dos progressos feitos desde Conferência de Pequim, em 1995, a discriminação contra as mulheres subsiste em todas as regiões e sociedades e os seus direitos continuam ser objecto de violações flagrantes e sistemáticas. Não existe, actualmente, um único país do mundo onde as mulheres gozem das mesmas oportunidades que os homens.
Apesar de alguns passos dados, em algumas áreas nos últimos anos, muito há a fazer, especialmente, para fazer cumprir os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM). Na Declaração do Milénio, entre várias recomendações, destaca-se uma atenção renovada às questões da igualdade entre os sexos.
Com um empenhamento especial para pôr fim à violência contra a mulher, especialmente à violência doméstica ( a violência contra as mulheres é um crime público, quer seja cometido no seio da família, quer em espaços públicos quer ainda em situações de conflito), ao comércio de mulheres e à mutilação genital.
O Projecto do Milénio pede, um maior acesso das mulheres à educação, emprego e bens, nomeadamente terras e habitação, melhores cuidados de saúde, especialmente serviços de saúde reprodutiva.
No centro dos esforços da comunidade internacional para garantir a igualdade entre os sexos encontram-se, para além da protecção contra a violência, a saúde e os direitos reprodutivos das mulheres. Um tratamento igual e a igualdade de acesso à educação e aos serviços de saúde, ao crédito, emprego, propriedade e herança, e a protecção contra a discriminação, factores essenciais para uma participação plena das mulheres na comunidade, bem como para a sua autonomização.
Só com leis, políticas e práticas não discriminatórias é que as mulheres poderão realizar todo o seu potencial e ter uma vida sadia, produtiva e segura, em termos de bem-estar, de protecção da violência e de plena participação na tomada de decisões, beneficiando a qualidade de vida das suas famílias, das suas comunidades e do mundo em geral.

segunda-feira, março 06, 2006

Os Vencedores da Noite

Ang Lee nasceu em Taipei em 23 de Outubro de 1954, licenciou-se no National Taiwan College of Art,tendo-se deslocado para os Estados Unidos em 1975, onde estudou realização na Universidade de Illinois e produção fílmica na Universidade de Nova Iorque. Em 1985 alcança um prémio pelo seu trabalho como estudante e, embora tenha passado os seis anos seguintes a trabalhar em argumentos, conseguiu a sua estreia como realizador em "Pushing Hands", uma comédia sobre os problemas culturais e geracionais vividos por uma família de originária de Taiwan a viver em Nova Iorque.
Em 1993 surge "Banquete de Casamento", a história de um rapaz homossexual que vive em Nova Iorque mas finge um casamento de conveniência para agradar aos seus pais, vindos de Taiwan para visitar o filho. O filme foi extraordinariamente bem recebido pela crítica, tendo a película vencido o Urso de Ouro para Melhor Filme no Festival de Berlim e um prémio de Melhor Realizador no Festival de Seattle, para além de nomeações para os Globos de Ouro e para os Óscares da Academia. Com a sua reputação internacional em crescimento, Ang Lee realiza "Comer Beber Homem Mulher", mais uma película sobre um conflito de gerações. O êxito alcaçado leva-o a tentar algo de muito diferente: a adaptação ao grande ecrã de uma obra de Jane Austen, "Sensibilidade e Bom Senso". Mais uma vez a crítica é unânime nos elogios, sendo que o filme recebeu até uma nomeação para melhor película. Em 1997 dedicou-se a explorar os conflitos de uma família nos anos 70 em "A Tempestade de Gelo" , obtendo mais uma vez vários prémios, num filme com um elenco notável, que incluía Kevin Kline, Sigourney Weaver, Joan Allen e Christina Ricci.

Em 1999, realiza o drama “Ride With the Devil”, sobre a Guerra Civil americana, onde dirige Tobey Maguire e Skeet Ulrich. Em 2000, Ang Lee conseguiu realizar um projecto já muito antigo e dedicar-se às artes marciais, “O Tigre e o Dragão”, que veio recuperar uma tradição cinematográfica chinesa e, de certa forma, trazer o Oriente para mais perto do Ocidente. A inesperada passagem pela adaptação de um dos ícones da banda-desenhada norte-americana em “Hulk” (2003) não obteve uma recepção tão calorosa, mas apresentou uma invulgar e criativa perspectiva sobre o universo dos super-heróis, num interessante blockbuster de autor. Com “O Segredo de Brokeback Mountain”, ganhou o Óscar na categoria de Melhor realizador.
Philip Seymour Hoffman nasceu em 23 de Julho 1967 em Fairport, Nova Iorque, e antes de se estrear na sétima arte fez alguns trabalhos em teatro. “Scent of a Woman”, de 1992, foi o primeiro filme em que participou, e logo lado-a-lado com um nome carismático, Al Pacino. “Quando um Homem Ama uma Mulher” (1994) ou “Tornado” (1996) foram consideráveis êxitos junto do grande público que contaram com o actor entre o elenco, mas Hoffman destacar-se-ia perante a crítica com os papéis que interpretou nas obras de Paul Thomas Anderson, “Hard Height” (1996) e “Boogie Nights” (1997). “Felicidade”, de Todd Solondz ou “O Grande Lebowski”, dos irmãos Coen, de 1998, deram continuidade aos contactos do actor com o cinema independente, que foram mais reforçados pelos seus desempenhos no incontornável “Magnólia” (mais uma colaboração com Paul Thomas Anderson) e no controverso “O Talentoso Mr. Ripley”, de Anthony Minghella, no ano seguinte, tendo ganho por ambos o prémio de Melhor Actor Secundário da National Board of Review. “True West”, uma das suas passagens pelos palcos da Broadway, valeu-lhe uma nomeação para os Prémios Tony, e em 2000 integrou o elenco de de mais duas películas aclamadas, “Quase Famosos”, de Cameron Crowe, e “State and Main”, de David Mamet. “A Última Hora”, de Spike Lee, e “Dragão Vermelho”, de Brett Rattner, também contaram com o talento de Hoffman, assim como “Embriagado de Amor”, de Paul Thomas Anderson, uma das comédias românticas mais atípicas de 2001. A série televisiva “Empire Falls” (2005) foi outro projecto elogiado (que lhe possibilitou um Emmy), mas o desempenho da sua vida, no papel de “Capote”, a primeira longa-metragem de Bennett Miller, veleu-lhe o Óscar de Melhor Actor Principal.
Reese Witherspoon nasceu a 22 de Março de 1976 em Baton Rouge, Louisiana e e participou em alguns anúncios televisivos antes de se estrear na sétima arte aos catorze anos com “The Man in the Moon” e “Wildflower”, em 1991. Embora não tenham sido filmes especialmente populares, os desempenhos da jovem actriz não passaram despercebidos, e dois anos depois Whiterspoon participou em “Jack the Bear” e “A Far Off Place”. Depois de “S.F.W.”, de 1994, interrompeu a sua carreira para se dedicar ao curso de literatura inglesa na universidade de Stanford, retomando-a em 1996 ao colaborar nos thrillers “Fear” e “Freeway”, este último um ousado filme de culto onde contracenou com Kiefer Sutherland numa versão mais negra e actual do conto “Capuchinho Vermelho”. “Pleasantville” (1998), “Election” (1999), “Planos Ocultos” (1999) e “American Psycho” (2000) marcaram a sua passagem pelo cinema independente, evidenciando a sua versatilidade intrepretativa e suscitanto elogios da crítica, que cada vez menos a encarava como uma confirmação e não uma promessa. Apesar desses papés bem sucedidos, foi com “Legalmente Loira” (2001) que se tornou num rosto familiar para o grande público, e o seu carisma terá contribuído para que esta comédia familiar tenha sido uma das mais vistas dos últimos anos, conseguindo resultados de bilheteira na ordem dos 100 milhões de dólares nos Estados Unidos. A sequela das peripécias de Elle Woolds, “Legalmente Loira 2” (2003) e “Sweet Home Alabama” (2002) deram continuidade ao mesmo tipo de registo, e mesmo não tendo atingindo um sucesso tão elevado asseguraram a prosperidade da carreira de Witherspoon. “Just Like Heaven” (2005), mais uma comédia romântica, ajudou a sedimentary o seu estatuto de “queridinha do público”, enquanto que “A Feira das Vaidades” (2005) lhe possibilitou optar por papéis mais complexos. Com a interpretação da cantora “country” June Carter Cash, “Walk the Line” (2005), ganhou o Óscar de Melhor Actriz Principal.
George Clooney nasceu a 6 de Maio de 1961 em Lexington e participou, logo aos cinco anos, num programa televisivo, “The Nick Clooney Show”, um talk show apresentado pelo seu pai. Contudo, o actor só voltaria a aparecer nos ecrãs vários anos depois, uma vez que inicialmente almejou seguir carreira como jogador de basebal, aspiração que entretanto deixou de lado, apsotando então em anúncios televisivos. Da publicidade passou para a interpretação de pequenos papéis em 15 episódios-piloto de várias sérias televisivas, todos eles fracassos, assim como nas sitcoms “The Facts of Life”, “Roseanne” ou “Sisters”. O drama hospitalar “E.R.”, ao contrário das anteriores, concedeu-lhe um papel de maior relevo e tornou-o numa figura mais mediática, e o seu carisma fez dele um dos actores mais bem sucedidos junto do público feminino. O êxito desta série fez de Clooney um nome subitamente muito requisitado em finais dos anos 90, tanto para projectos mais comerciais– a comédia romântica “One Fine Day” (1996), onde contracenou com Michelle Pfeiffer, ou “Batman & Robin” (1997), onde encarnou o homem-morcego – como alternativos – o bizarro e delirante “Aberto Até de Madrugada” (1996), de Quentin Tarantino e Robert Rodriguez. “Romance Perigoso” (1997), de Steven Soderbergh, que protagonizou juntamente com Jennifer Lopez, trouxe novo fôlego aos género de acção, e a versatilidade de Clooney seria também testada em filmes de guerra como o poético “A Barreira Invisível” (1998), de Terrence Malick, ou o satírico “Três Reis” (1999), de David O. Russel. “Irmão, Onde Estás?” (2000), dos irmãos Coen, proporcionou-lhe um Globo de Ouro, e a colaboração com Soderbergh voltou a evidenciar-se em “Façam as Vossas Apostas” (2001) e “Solaris” (2002), filmes que não poderiam ser mais distintos mas pelos quais o actor recebeu elogios. Para além de se destacar no campo da interpretação e, pontualmente da produção (de “Insónia”, por exemplo), Clooney assinalou em 2002 a sua estreia na realização com “Confissões de Uma Mente Perigosa”, numa primeira obra promissora. Em “Crueldade Intolerável” (2003) mostrou-se capaz de ser convincente num registo carregado de humor negro, e “Boa Noite e Boa Sorte” (2005) regista agora um dos filmes em que mais se empenhou, tendo sido responsável pelo seu argumento, realização e desempenhando ainda um dos papéis mais proeminentes. Esta película sobre os meandros do jornalismo recebeu quatro nomeações para os Globos de Ouro e seis para os Óscares, incluindo a de Melhor Realizador. O thriller político “Syrianna”, de Stephen Gaghan, possibilitou-lhe a conquista do Óscar para Melhor Actor Secundário.

Rachel Weisz nasceu a 7 de Março de 1971 em Londres e, depois de se dedicar a experiências como modelo durante a adolescência, tentou seguir uma carreira de actriz depoisde terminar os estudos de inglês em Cambridge. A participação numa adaptação numa peça que adaptou “Design for Living”, de Noel Cowards proporcionou-lhe um prémio do Critics’ Circle e essa distinção abriu-lhe as portas para integrar o elenco da série da BBC “Scarlet and Black”, em 1993. Três anos depois, Weisz participou em longas-metragens como “Stealing Beauty”, de Bernardo Bertolucci, e “Reacção em Cadeia”, onde contracenou com Keanu Reeves. Após participar em filmes mais discretos, a actriz obteve no blockbuster “A Múmia” (1999) o seu primeiro grande papel, que lhe trouxe uma maior projecção internacional, reforçada pela sua sequela, “O Regresso da Múmia” (2001). “Sunshine” (1999) e “Inimigo às Portas” (2000) marcaram a sua colaboração em películas entre o drama e o filme de guerra. Na carismática comédia “Era uma Vez um Rapaz” (2002), de Paul Weitz, protagonizado por Hugh Grant, apresentou um dos seus desempenhos mais elogiados, e nos thrillers “Confiança” (2003) e “O Júri” (2003) testou outros tipos de registos. Em “Constantine” (2005), baseado no herói de banda-desenhada homónimo, voltou a contracenar com Keanu Reeves, e apesar do filme ter sido um considerável êxito de bilheteira não foi alvo de uma aclamação do público e da crítica semelhante à que acolheu “O Fiel Jardineiro”. Foi com o segundo filme do brasileiro Fernando Meirelles que Weisz comprovou a sua maturidade interpretativa, oferecendo a actuação mais memorável da sua carreira na pele da obstinada jornalista Tessa, permitindo-lhe vencer o Óscar na categoria de Melhor Actriz Secundária.