quinta-feira, março 20, 2008

Escalada Para a Guerra


Novembro 26, 2001 – O presidente norte-americano, George W. Bush, fala em recurso à força, se o Iraque persistir em não autorizar o regresso dos inspectores de armamento da ONU.
Janeiro 29, 2002 – Bush afirma que o Iraque, o Irão e a Coreia do Norte formam um "eixo do mal" contra o qual promete agir.
Março 19 – O director da CIA, George Tenet, declara que Bagdad manteve contactos com a rede Al-Qaeda e que não se pode excluir que o Iraque ou o Irão tenham apoiado os atentados de 11 de Setembro de 2001 nos Estados Unidos.
Junho 20 – Quatro mortos e 10 feridos durante ataques aéreos de aviões norte-americanos e britânicos no sul do Iraque. Estes ataques quase semanais redobram de intensidade no final de 2002, início de 2003.
Julho 08 – Washington utilizará «todos os meios» para derrubar Saddam Hussein, declara Bush.
Julho 12/14 – Oficiais iraquianos no exílio e representantes da oposição constituem em Londres um "Conselho Militar" para derrubar Saddam Hussein.
Agosto 01 – Washington renova por um ano o embargo económico e financeiro a Bagdad.
Agosto 02 – O Iraque convida o chefe dos inspectores da ONU, Hans Blix, a ir a Bagdad, para discutir o retomar das inspecções interrompidas desde 1998.
Agosto 29 – O presidente francês, Jacques Chirac, condena perante a conferência de embaixadores qualquer acção militar "unilateral e preventiva" dos Estados Unidos contra o Iraque, afirmando que esta decisão pertence ao Conselho de Segurança da ONU se Bagdad recusar o regresso "sem condições" dos inspectores em desarmamento.
Setembro 09 – Numa entrevista ao New York Times, Chirac evoca o princípio da dupla resolução: uma recordando a Bagdad as suas obrigações em termos de desarmamento, a segunda encarando o recurso à força se o Iraque não respeitar a vontade internacional.
Setembro 10 – O Iraque apela aos árabes para agirem contra "os interesses materiais e humanos" norte-americanos em todo o mundo em caso de ataque dos Estados Unidos.
Setembro 12 – Na 57.ª Assembleia-geral da ONU, Bush intima o Iraque a desarmar-se «imediatamente». Na mesma ocasião, o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Dominique de Villepin, alerta para os riscos de desestabilização do Médio Oriente.
Setembro 16 – O Iraque aceita o regresso sem condições dos inspectores de armamento da ONU.
Outubro 02 – Washington desbloqueia uma ajuda de oito milhões de dólares para a oposição iraquiana.
Outubro 11 – Transferência para o Kuwait dos quartéis-generais do 5º Corpo do Exército dos Estados Unidos na Europa e da 1ª Força Expedicionária dos Fuzileiros, sedeada na Califórnia (1.000 homens).
Outubro 21 – Os Estados Unidos apresentam ao Conselho de Segurança da ONU um projecto "revisto" da resolução sobre o desarmamento iraquiano.
Novembro 02 – O porta-aviões USS Constellation e seis outros navios são preparados em San Diego (Califórnia) para partir para o Golfo.
Novembro 08 – O Conselho de Segurança da ONU adopta por unanimidade a resolução 1441 sobre o desarmamento do Iraque. Apresentada pelos Estados Unidos e pela Grã-Bretanha, a resolução foi "retocada" por diversas vezes sob pressão de Paris e Moscovo. A resolução 1441 é aceite no dia 13 por Bagdad.
Novembro 25 – Os Estados Unidos bloqueiam a renovação do programa «Petróleo por Alimentos», que é posteriormente prolongado por nove dias.
Dezembro 04 – Aprovação da resolução 1447, que renova aquele programa por seis meses.
Dezembro 07 – O Iraque entrega aos inspectores, um dia antes do prazo limite, o relatório sobre o seu arsenal, com 11.807 páginas.
Dezembro 09 – George W. Bush pede ao Pentágono para atribuir a grupos de opositores iraquianos 92 milhões de dólares em treino e equipamento militar.
Janeiro 01 2003 – Envio de uma divisão de infantaria norte-americana com 17 mil homens para a região do Golfo.
Janeiro 06 – Anunciada a mobilização de cerca de 20 mil reservistas norte – americanos.
Janeiro 07 – O presidente francês, Jacques Chirac, numa mensagem às forças armadas francesas, pede aos militares para que «estejam prontos para qualquer eventualidade», na perspectiva de uma eventual guerra contra o Iraque, continuando a insistir no papel da ONU.
Janeiro 09 – Blix informa o Conselho de Segurança de que o relatório do Iraque deixa muitas perguntas sem resposta.
Janeiro 10 – Ordem de destacamento de 35 mil militares norte-americanos para a região do Golfo.
Janeiro 15 – Os Estados Unidos pedem o eventual apoio da Aliança Atlântica em caso de conflito com o Iraque.
Janeiro 16 – Os inspectores da ONU no Iraque encontram 11 cabeças de mísseis vazias em «excelente» estado num bunker construído nos anos 90.
Janeiro 20 – O Iraque recusa o sobrevoo do seu território por aviões espiões norte-americanos U2, que operam sob mandato da ONU.
Janeiro 21 – O ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Dominique de Villepin, afirma em Nova Iorque que o seu país manterá «até ao fim» a sua oposição à guerra e evoca o direito de veto.
Janeiro 22 – Irritado com as tomadas de posição francesas e alemãs contra uma intervenção militar a curto prazo no Iraque, o secretário da Defesa norte-americano, Donald Rumsfeld, critica «a velha Europa».
Janeiro 26 – O secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, faz, em Davos, Suíça, novas acusações de «ligações claras com grupos terroristas, nomeadamente a Al Qaeda».
Janeiro 29 – O vice-primeiro-ministro iraquiano, Tarek Aziz, desmente «categoricamente» qualquer relação iraquiana com a Al Qaeda. O Pentágono admite a presença de militares norte-americanos no norte do Iraque.
Janeiro 30 – Os Estados Unidos ficariam contentes se Saddam Hussein aceitasse exilar-se, declara o presidente Bush. As forças norte-americanas terão acesso ao território de 21 países para uma intervenção militar no Iraque e estão autorizados a atravessar o espaço aéreo de 20 deles, indica o secretário de Estado adjunto, Richard Armitage. Oito dirigentes europeus, de Portugal, Espanha, Grã-Bretanha, Itália, Polónia, Dinamarca, Hungria e República Checa assinam uma carta, elaborada por iniciativa de Madrid, apelando à unidade com os Estados Unidos.
Janeiro 31 – Numa carta a Kofi Annan, Naji Sabri (ministro dos Negócios Estrangeiros iraquiano) pede «ao Governo norte-americano para entregar imediatamente, através do secretário-geral da ONU, todas as provas que diz possuir à UNMOVIC (Comissão de Controlo, Verificação e Inspecções da ONU) e à AIEA (Agência Internacional de Energia Atómica)». «Se as Nações Unidas decidissem adoptar uma segunda resolução, isso seria bem-vindo, se for um novo sinal de que temos a intenção de desarmar Saddam Hussein», declarou Bush, no final de um encontro com o primeiro-ministro britânico, Tony Blair.
Fevereiro 02 – Os Estados Unidos controlarão o Iraque durante "algum tempo" após a sua «libertação», posteriormente «trabalharão no sentido de se instaurar uma administração civil iraquiana», declara Condoleezza Rice, conselheira de Segurança Nacional do presidente Bush.
Fevereiro 04 – Washington não conseguirá transformar o Conselho de Segurança da ONU num «conselho de guerra», afirma Bagdad, prenunciando a «queda» do secretário de Estado norte-americano, Colin Powell.
Fevereiro 05 – Powell apresenta no Conselho de Segurança «provas» de que o Iraque possui armas de destruição maciça e mantém laços com a rede terrorista Al-Qaeda. Diplomatas europeus deixam a capital iraquiana, incluindo os três diplomatas polacos que dirigiam a secção de interesses norte-americana.
Fevereiro 06 – Exército norte-americano reforça a presença no Kuwait, aumentando para 51 mil o número de homens no emirado. No total, são 110 mil os militares norte-americanos colocados na região.
Fevereiro 07 – Secretário da Defesa norte-americano, Donald Rumsfeld, fala numa guerra de «seis dias a seis semanas» no Iraque.
Fevereiro 08 – Chefe dos inspectores de armamento da ONU, Hans Blix, e director da AIEA, Mohamed ElBaradei, fazem visita «crucial» a Bagdad. A imprensa alemã revela a existência de um plano franco-alemão prevendo o reforço dos inspectores da ONU e o envio de capacetes azuis europeus, irritando Washington.
Fevereiro 09 – Os Estados Unidos reservam-se o direito de agir em autodefesa contra a ameaça iraquiana, mesmo sem o aval da ONU, diz Condoleezza Rice.
Fevereiro 10 – A França, a Alemanha e a Bélgica declaram-se contra a satisfação do pedido norte-americano de apoio da NATO à Turquia, em caso de conflito no Iraque, recusando entrar numa «lógica de guerra».
Fevereiro 11 – O presidente russo, Vladimir Putin, em visita a França, apoia oficialmente Paris e Berlim no «dossier» iraquiano, sem excluir a utilização do direito de veto no Conselho de Segurança. A cadeia televisiva Al-Jazira divulga uma gravação de som atribuída a Usama bin Laden, em que este afirma que uma guerra contra o Iraque diz respeito a todos os muçulmanos. Para Washington, trata-se de uma «aliança do terror».
Fevereiro 13 – O exército norte-americano ficará no Iraque o tempo que for necessário após uma guerra, segundo Rumsfeld.
Fevereiro 14 – Novo relatório sobre inspecções apresentado por Blix e ElBaradei na ONU indica que não foram encontradas armas de destruição maciça no Iraque. Dominique de Villepin, ministro dos Negócios Estrangeiros francês, afirma na ocasião que «o uso da força não se justifica neste momento», sendo aplaudido, enquanto a posição dos Estados Unidos fica em minoria. No Vaticano, o Vice-primeiro-ministro Tarek Aziz assegura ao Papa a vontade de cooperação do Iraque.
Fevereiro 15 – Centenas de milhar de pessoas manifestaram-se nas principais cidades norte-americanas contra a guerra no Iraque. Manifestações mobilizam em todo o mundo, sobretudo na Europa, 10 milhões de pessoas. O cardeal Roger Etchegaray, enviado especial do Papa a Bagdad, declara, após um encontro com Saddam Hussein, ter a impressão de que o líder iraquiano «deseja evitar a guerra».
Fevereiro 22 – Hans Blix envia carta ao Iraque a exigir a destruição dos mísseis Al-Samud 2 e dá prazo até 1 de Março para Bagdad começar a destrui-los. O Pentágono anuncia a presença de 210 mil militares a postos para a guerra na região do Golfo.
Fevereiro 24 – Washington apresenta na ONU um novo projecto de resolução sobre o Iraque, subscrito pelo Reino Unido e Espanha. A França, apoiada pela Rússia e a Alemanha, avança com um memorando, indicando que a opção militar é «último recurso». Entrevistado pelo jornalista Dan Rather, da estação de televisão norte-americana CBS, Saddam Hussein nega que o país tenha mísseis proibidos, rejeita a hipótese de exílio e desafia o presidente norte-americano para um frente-a-frente televisivo.
Fevereiro 25 – Só um «desarmamento completo» do Iraque pode evitar a guerra. A adopção de uma nova resolução seria «útil», mas não indispensável, diz Bush.
Fevereiro 26 – Os Estados Unidos não querem governar o Iraque, garante representante do presidente Bush à oposição iraquiana, reunida no norte do Iraque. Bush divulga plano político para o Iraque, considerando que um novo regime democrático seria um exemplo para os outros países da região.
Fevereiro 28 – O chefe dos inspectores da ONU, Hans Blix, entrega ao Conselho de Segurança relatório trimestral sobre desarmamento iraquiano, constatando resultados modestos.
Março 01 – Número dois do regime iraquiano, Ezzat Ibrahim, garante que o seu país fará tudo para evitar a guerra, mas está preparado para «combater os invasores». Bagdad procede à destruição de primeiro míssil Al-Samud 2, cujo alcance é superior ao permitido pela ONU. Bagdad sempre negara que os mísseis tivessem alcance superior a 150 quilómetros e recusara a sua destruição. Cimeira da Liga Árabe repudia em absoluto ataque contra o Iraque, mas o seu envolvimento na crise fica aquém dos desejos de Bagdad.
Março 02 – Iraque destrói seis mísseis Al-Samud 2 (10 em dois dias), mas ameaça parar se o conflito se tornar inevitável.
Março 03 – Seis iraquianos foram mortos e 15 ficaram feridos num bombardeamento de aviões norte-americanos e britânicos a Bassorá, no sul do Iraque, segundo um porta-voz militar em Bagdad.
Março 07 – Sessão pública no Conselho de Segurança: Hans Blix e Mohamed ElBaradei apresentam relatório encorajando as inspecções no Iraque e Colin Powell conclui que Bagdad continua a não facultar a cooperação «imediata, activa e incondicional» que lhe é pedida pela ONU. Rejeitando qualquer ideia de ultimato, Villepin propõe o voto da segunda resolução ao nível dos chefes de Estado e de Governo.
Março 09 – Washington indica que «o tempo está praticamente esgotado», numa alusão à data-limite para o desarmamento, 17 de Março, incluída no projecto de resolução anglo-hispano-americano. Bagdad acusa os Estados Unidos de estarem determinados a avançar com a guerra apesar dos esforços iraquianos de desarmamento.
Março 10 – Rússia anuncia veto a uma resolução que autorize o recurso à força no Iraque, Casa Branca declara-se decepcionada se tal vier a acontecer, acreditando ainda que tanto Moscovo como Paris poderão mudar de opinião. Ofensivas diplomáticas britânicas e francesa junto dos três países africanos com assento no Conselho de Segurança da ONU e classificados de «indecisos» (Angola, Camarões e Guiné).
Março 16 – Cimeira das Lajes, nos Açores, reúne presidente norte- americano, George W. Bush, e primeiros-ministros britânico, Tony Blair, espanhol, José María Aznar, e português, José Manuel Durão Barroso. Dela sai um duplo ultimato de 24 horas: ao Iraque, para que se desarme, e ao Conselho de Segurança, para que chegue a um consenso sobre a crise iraquiana na sua reunião de 17 de Março, dia a que Bush chamou «o momento da verdade».
Março 17 – O presidente norte-americano recomenda aos inspectores em desarmamento da ONU que abandonem o Iraque. Estados Unidos, Grã-Bretanha e Espanha retiram o projecto de resolução para a luz verde do Conselho de Segurança a uma ofensiva militar visando derrubar o regime de Saddam Hussein, evocando o veto prometido por Paris. Bush faz um ultimato ao Presidente iraquiano, intimando Saddam Hussein e os seus filhos a abandonarem o país em 48 horas, ou a enfrentarem uma ofensiva militar dos Estados Unidos e dos seus aliados, principalmente o Reino Unido.
Março 18 – Saddam Hussein rejeita o ultimato de Bush e promete uma derrota às tropas norte-americanas.
Março 19 – Acentua-se a movimentação de tropas dos EUA e da coligação no norte do Kuwait, junto à fronteira com o Iraque. Forças norte-americanas e britânicas dirigem-se para a zona desmilitarizada criada na fronteira entre o Kuwait e o Iraque depois da guerra do Golfo, em 1991, que atravessarão assim que for dada a ordem para a invasão. O exército norte-americano anuncia que 18 soldados iraquianos depuseram as armas e atravessaram a fronteira para se renderem às forças da coligação no norte do Kuwait. Os Estados Unidos têm na região do Golfo 255 mil homens, apoiados por mais de 700 aviões, além de helicópteros, navios e blindados.
Março 20 – A guerra dos Estados Unidos e do Reino Unido contra o Iraque começa ás 05h35, com três vagas de bombardeamentos, aéreos e com mísseis disparados de navios.

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