quinta-feira, abril 30, 2009

Aravind Adiga


Aravind Adiga é um jovem escritor indiano nascido a 23 de Outubro de 1974 no sul da Índia, na cidade de Chenai, a antiga Madras.
Nascido no seio de uma de uma família da classe média, ainda criança foi viver para Mangalore. Na adolescência foi viver com a família para a Austrália, onde se tornou cidadão australiano, tendo por isso dupla nacionalidade.
A seguir, estudou literatura em Nova Iorque (Universidade de Columbia) e em Inglaterra (Oxford). Começou a escrever para jornais ingleses ("Financial Times" e "The Guardian"), regressando posteriormente à Índia, onde se tornou correspondente permanente da revista "Time" para o Sul da Ásia.
Com seu romance de estreia, O Tigre Branco, publicado em Portugal pela Editorial Presença, ganhou o Booker Prize 2008, repetindo a façanha da sua compatriota Arundhati Roy, que venceu o mesmo Prémio em 1997 com seu primeiro livro, O Deus Das Pequenas Coisas.
Continua hoje a ser jornalista, mas exerce a profissão em regime parcial e livre. Entretanto, publicou em Novembro do ano passado, na Índia o seu segundo livro, "Between the Assassinations", ainda não disponível a nível internacional.

O Tigre Branco


Para o gabinete do Primeiro-Ministro:
Sua Excelência Wen Jiabao
Pequim
Capital da Nação Amante da Liberdade da China
Do gabinete de:
"O Tigre Branco"
Um homem dado à reflexão
E um empresário
Que reside no centro mundial de Tecnologia e Subcontratação Electronics City Phase 1 (mesmo à saída de Hosur Main Road) Bangalore, Índia
Sr. Primeiro-Ministro
Nem eu nem o senhor falamos inglês, mas há coisas que só podem ser ditas em inglês.
A minha antiga patroa, a falecida ex-mulher do Sr. Ashok, Madame Pinky, ensinou-me umas quantas coisas; e, às 11h32 da noite de hoje, o que foi à cerca de dez minutos, quando a senhora da All India Radio anunciou: "O Primeiro-Ministro Jiabao chega a Bangalore na próxima semana", saiu-me logo uma delas.
Na verdade, sempre que homens ilustres como o senhor visitam o nosso país, sai-me sempre o mesmo. Não que eu tenha alguma coisa contra homens ilustres. À minha maneira, senhor, considero-me um seu igual. Mas sempre que vejo o nosso primeiro-ministro e os seus distintos colaboradores chegados serem conduzidos ao aeroporto em automóveis pretos, saírem e porem-se a fazer-lhe namastés diante duma câmara de televisão e a assegurarem-lhe de que a Índia é santa e virtuosa, não me consigo conter de dizer aquilo em inglês.
Bom, então, Vossa Excelência sempre nos vem visitar na próxima semana, não é verdade? Em geral, a All India Radio é de fiar em assuntos deste âmbito.
Era uma piada, senhor.
Ah!
É por isso que me decidi a perguntar-lhe directamente se é mesmo verdade que vem a Bangalore. Porque, a ser assim, tenho algo importante a comunicar-lhe. Sabe, a senhora da rádio disse: " O Senhor Jiabao vem em missão: quer conhecer a verdade a respeito de Bangalore".
Senti o sangue gelar-me nas veias. Se há alguém que saiba a verdade a respeito de Bangalore, essa pessoa seu eu.
A seguir, a senhora locutora acrescentou: " O Senhor Jiabao pretende conhecer alguns empresários indianos e ouvir a história do seu êxito pela sua própria boca".
Aqui, ela explicou um pouco melhor. Ao que consta, senhor, vocês, os chineses, encontram-se muito adiantados em relação a nós em todos os aspectos, à ecepção do facto de não terem empresários. E a nossa nação, apesar de não ter àgua potável, nem electricidade, nem sistemas de esgotos, nem transportes públicos, nem regras de higiene, nem disciplina, nem boas maneiras, nem pontualidade, verdade seja dita que empresários não lhe faltam. São aos milhares. Sobretudo na área da tecnologia. E foram estes mesmos empresários - nós, empresários- que implantaram todas as empresas de subcontratação que agora praticamente governam a América.
Primeira página do livro O Tigre Branco, de Aravind Adiga, EDITORIAL PRESENÇA, 1ª edição, Março 2009
Da contra capa:
Premiado com o Booker Prize de 2008, O Tigre Branco é um romance de estreia auspicioso que, sem cair no cliché do romantismo exótico e superficial, nos revela uma Índia ainda muito pouco explorada pela ficção, a Índia negra, violenta e exuberante das desigualdades socioculturais endémicas. Aravind Adiga oferece-nos um retrato cru e muito pouco glamoroso da desumana realidade de vida das classes mais pobres pela voz espirituosa e mordaz do narrador, Balram Halwai, um jovem que cresce no interior miserável da Índia e se torna um empresário de sucesso em Bangalore. E é através do seu percurso moralmente ambíguo que conhecemos as discrepâncias chocantes entre o luxo extravagante da elite rica dos boulevards e a luta desesperada pela sobrevivência dos que nada têm. Uma comédia negra irreverente que desmistifica a Índia lírica e nostálgica que tantas vezes idealizamos.

segunda-feira, abril 27, 2009

Médico e Paciente


A revista literária norte-americana The New Yorker publica hoje online um longo artigo, intitulado "Doctor and Patient", sobre o escritor português António Lobo Antunes, cuja obra descreve como "obsessivamente local, preocupada com os males herdados da história portuguesa e as debilidades da sua cultura".
"Ele visa - escreve Peter Conrad, o autor do artigo -, tal como Stephen Dedalus (do "Ulisses", de James Joyce) chamando a si os inimigos da Irlanda, ser uma consciência nacional, lembrando aos seus recentemente europeizados, untuosamente prósperos compatriotas, o legado de culpa do seu vergonhoso passado deixado pela ditadura de António de Oliveira Salazar, que dirigiu o país entre 1932 e 1968, e pela brutalidade do seu regime colonial em África".
Em confronto com Lobo Antunes, o articulista coloca José Saramago, que, ao contrário daquele, situa quase sempre as suas narrativas "em países não identificados ou imaginários" e as faz "facilmente partir em direcção à universalidade".
Os dois escritores - refere - "tal como partidos políticos ou equipas desportivas rivais, têm adeptos barulhentos, e os que gritam por Lobo Antunes afirmam que ganhou o Nobel o homem errado. O próprio Lobo Antunes, aparentemente, concorda: quando o Times lhe telefonou a pedir um comentário sobre a vitória de Saramago, ele resmungou que o telefone estava avariado e, abruptamente, desligou-o".
Analisando os romances de Lobo Antunes, os dois primeiros dos quais publicados em 1979, Conrad destaca a forte presença neles da experiência do autor na guerra colonial e como psicanalista.
Na opinião do crítico, alguns dos primeiros livros de Lobo Antunes "parecem dilacerantemente confessionais para se lhes chamar ficção" - como em "Conhecimento do inferno" - mas os seguintes "vão para além desta auto-purgação".(Lusa).

A Casa dos Budas Ditosos


(clicar na imagem para aumentar)
A edição deste fim-de-semana do Expresso, saída no dia que em se comemorou a passagem do trigésimo quinto aniversário da Revolução dos Cravos, noticia que a cadeia de hipermercados Auchan censurou a obra “A Casa dos Budas Ditosos”, de João Ubaldo Ribeiro, segundo os "analfabetos" da agência de comunicação que representa a Auchan, por "não se vender nas suas insígnias Jumbo e Pão de Açucar produtos do foro pornográfico".
Uma cena lamentável, esperando-se que esta atitude ignóbil faça disparar as vendas, para que tudo não seja muito mau.

A Ninfa Inconstante


Esta é a história de Estela e esta é a história de Havana antes da revolução. O romance póstumo de Guillermo Cabrera Infante chegou este fim-de-semana às livrarias.
O passado é um fantasma que não é preciso convocar com médiuns ou invocar com abra-essa-obra. É na realidade da recordação um revenant irreal. Não é preciso pôr as mãos em cima da mesa, de palmas para baixo, ou responder aos três toques rituais ou perguntar «Quem vem lá?». O espírito do passado está sempre a vir. Um copo de água e uma flor amarela chegam. Não é necessário repetir frases encantatórias ou cast a spell: todos os mortos estão aqui, vivos, exibidos por trás de uma janela de vidro preto, de uma câmara escura, de uma obra de artifício. Os entes passados estão vivos porque para nós não morreram. Estamos vivos porque eles não morrem. Nós somos os mortos vivos.
É no passado que vemos o tempo como se fosse o espaço. Tudo está longe, na distância em que o passado é uma imensa pradaria vertiginosa, como se caíssemos de uma grande altura e o tempo da queda, à distância, nos tornasse imóveis, como acontece com os acrobatas do ar, que vão caindo a uma enorme velocidade e contudo para eles nunca se cai. É deste modo que caímos na recordação. Nada parece ter-se movido, nada mudou porque estamos a cair a uma velocidade constante e só aqueles que nos vêem de fora – vós, leitores – dão conta de quanto descemos e a que velocidade O passado é essa terra imóvel da qual nos aproximamos com um movimento uniformemente acelerado, mas o trajecto – tempo no espaço – impede-nos de nos afastarmos para ter uma visão que não seja afectada pela queda – espaço no tempo – voluntária ou involuntária. O tempo, ainda que parado, provoca vertigens, que é uma sensação que só o espaço pode provocar.
O passado só se torna visível através de um presente fictício – e no entanto toda a ficção perecerá. Do passado só ficará então a memória pessoal, intransferível.
Não me interessa a impostura literária mas a verdade que se diz com palavras que necessariamente se seguem umas às outras embora exprimam ideias simultâneas. Sei que uma frase é sempre uma questão moral. Existe uma memória ética? Ou é estética, quer dizer, selectiva?
A memória é outro labirinto no qual se entra e do qual às vezes não se sai. Mas são fantásticos, inúmeros, os corredores da memória, fora da qual há um único tempo real, aquele que se recorda – isto é, eu próprio agora quando a máquina de escrever é a verdadeira máquina do tempo.
Escrever, aquilo que faço agora, não é senão uma das formas que a memória adopta. O que escrevo é o que recordo – o que recordo é o que escrevo.Entre estas duas acções estão as omissões – que são os interstícios, o que fica. Quer dizer, o meu buraco: o espaço do tempo recordado.É tão fácil recordar, tão difícil esquecer… Não é isso que a canção diz? Ou diz…? Não me lembro, esqueci-me. Recordar é gravar nesta ou naquela língua. Mas esquecer não tem equivalência…
O amor é um dédalo delicado que esconde o seu centro, um monstro obscuro.
Teseu, o teu nome é desejo. Ah, Ariadne, não te abandonei em Naxos mas no Trotcha. Agora descendo ao mundo inferior da recordação para te trazer de entre os mortos. Tive de passar a vau as águas do Letes, rio do esquecimento, labirinto lábil, para te encontrar outra vez. Caronte, que já não trabalha na ponte sobre o rio Almendares mas que limpava por uma peseta o vidro que o salitre do Malecón tinha toldado, deixou-me ver-te. Foi através de outro pára-brisas, desta vez de um táxi, que voltei a ver-te.
Pareceria que ela morreu – e é verdade. É a morte uma extensão infinita da noite? A morte faz da vida um couto privado. Parece estranho que tendo esta miniatura (no sentido de pequena pintura preciosa) ao lado, me entregue a uma reflexão sobre o bolero. Acontece que escrevo o ensaio agora. Na altura só ouvia a música.Ela morreu. Suicidou-se? Não, morreu da morte menos natural: morte natural. Seja como for, matou-a o tempo. Mas o certo, o terrível, o definitivo é que Estelita, Estela, Stella Morris está morta. Agora sou eu quem reconstrói a sua memória. Era uma pessoa, mas acabou por se tornar esse destino terrível, uma personagem. Convém dizer que ela era toda uma personagem.
Morreu, longe dos trópicos, de Cuba. Mas na verdade não era dos trópicos, ou de Havana, ou dessa Rampa onde a conheci – e dizer que a conheci é, evidentemente, um absurdo: nunca a conheci. Nem sequer a conheço agora. Mas escrevo sobre ela para que outros, que não a conheceram, a recordem. Quanto a mim, ela foi sempre inolvidável. Mas agora que está morta é mais fácil recordá-la. E pensar que não existe agora mais do que quando a imagino ou a recordo. É a mesma coisa. Poderia escrever mentiras, bem sei, mas a verdade é uma invenção suficiente.
Digo que não a conheci e devo dizer que a encontrei; na rua, uma tarde, quando era uma desorientada dos subúrbios no centro de Havana, perdida.Mas para mim foi um encontro. Há um bolero tocado por Peruchín que se chama “Añorado encuentro” (1) e foi isso que foi. É curioso como as canções ditam as recordações. Néstor Almendros disse-me, quando veio visitar-me e eu estava a ouvir no meu gira-discos “Down at the Levy” cantada por Al Jolson, que sempre que ouvisse essa canção se lembraria da sala do apartamento, do sol que batia nos móveis e da gente e do mar ao longe e eu sentado no sofá, em camisa, a ouvir o velho Al, Al morto, Al Down at the Levy, waiting, for the Robert E. Lee, que era um barco de pás a navegar Mississipi abaixo.
Voltei a percorrer La Rampa esta noite. Não foi um sonho, foi uma coisa mais recorrente: a recordação. Lembrei-me de quando vim à rua O (Zero, O, Oh) com Branly. La Rampa era jovem e eu também.Mas o cruzamento com O já bulia.
Para mim, Havana era então uma ilha encantada em que era simultaneamente explorador e guia. Durante algum tempo também julguei ser um Frank Buck do amor, que penetrava na selva para a trazer viva e vivermos os dois para o contar – ainda que fosse eu o único que podia erguer uma ponte entre o relaxe e o relato. Havana, que dúvida pode haver, era o centro do meu universo. Na realidade, era o meu universo: uma nébula clara. Recordá-la era uma viagem pela galáxia. No céu havia dois sóis.
Esta história não podia ter acontecido cinco anos antes. Nessa altura a rua 23 acabava em L, e La Rampa ainda não tinha sido construída. Ao fundo, paralelos ao Malecón, havia os carris do eléctrico e, às vezes, via-se vir um eléctrico cujas carreiras terminavam pouco antes do infinito. É claro que já lá estava o Hotel Nacional empoleirado num parapeito, mas onde hoje está o Hotel Hilton havia uma ribanceira com um fundo plano de argila que de vez em quando frequentei para jogar à bola. Desapareceu o campo de jogos onde não ganhei uma única batalha, para ser construído esse campo de Vénus, não de Marte, onde me portei melhor – aparentemente.(Público)

Ficha do livro
A Ninfa Inconstante
Autor: Guillermo Cabrera Infante
Tradutor: Salvato Telles de Menezes
Editor: Quetzal
238 págs., 17 euros

Morreu o Poeta Angolano Tomaz Jorge

O poeta angolano Tomaz Jorge morreu aos 81 anos em Lisboa, onde residia há vários anos, vítima de doença prolongada, disse hoje à Agência Lusa fonte da família.
Nascido em Luanda, em 1928, integrou em 1950 o movimento literário nacionalista "Vamos Descobrir Angola", ao lado de outros intelectuais como Agostinho Neto, António Jacinto e Viriato da Cruz, motivo que o levou á cadeia várias vezes.
Era membro fundador da União de Escritores Angolanos - UEA e publicou o seu primeiro livro de poesia em 1963 "Canção da Esperança", estreia literária, que arrematou em 1995 com uma antologia da sua obra completa, "Talamungongo - 50 Anos de Poesia", a sua herança poética.
Era filho do poeta português Tomaz Vieira da Cruz, que viveu a maior parte da sua vida em Angola e foi autor de várias obras em que se destacam "Quissange, Saudade Negra" (1932) e "Cazumbi (1950). Dividindo a sua vida nos últimos tempos entre Angola e Portugal, por razões familiares, Tomaz Jorge foi sempre um defensor da cultura e do nacionalismo angolano.

quinta-feira, abril 23, 2009

Moda e Literatura


O escritor brasileiro Paulo Coelho aliou-se à marca espanhola Mango para criar uma colecção de t-shirt’s ilustradas com frases dos seus livros que serão vendidas a partir deste mês em 68 países a fim de recolher dinheiro para o Instituto Paulo Coelho (IPC), uma instituição sem fins lucrativos, que auxilia crianças de uma favela na zona sul do Rio de Janeiro.
O financiamento do IPC provém exclusivamente dos direitos de autor do escritor, e tem como objectivo “fazer alguma coisa pela humanidade", como explicou o autor na apresentação da roupa que leva as frases da sua autoria. "Eu sabia que era impossível mudar o meu país, Brasil. Era impossível mudar o meu Estado, era impossível mudar o meu bairro, mas poderia mudar a minha rua, no fim da qual há uma favela", disse o escritor.
Assim, Paulo Coelho começou a ajudar 80 crianças e adolescentes e agora beneficia cerca de 450, dando "comida, educação e a possibilidade de exercer actividades artísticas", explicou Paulo Coelho, cujas obras estão traduzidas em 66 línguas. O "ideal", para ele, seria dar protecção a 800 crianças, objectivo para o qual Paulo Coelho iniciou este projecto de colaboração com a marca espanhola.
Para isso, a Mango colocará 40 mil t-shirt’s à venda em 450 lojas de 68 países, ao preço de 15 Euros, com seis frases diferentes do autor, tais como "Nunca abandone os seus sonhos; siga os sinais", "O amor dá-nos a força para realizarmos tarefas impossíveis" e "O caminho para a sabedoria é não ter medo de cometer erros". As mensagens foram escolhidas de comum acordo entre a direcção de marketing da marca espanhola e o autor a fim de conseguir "impacto com poucas palavras".
A Mango explicou que 50% a 60% do valor arrecadado com a venda das t-shirt’s irão para o Instituto Paulo Coelho.

Dia Mundial do Livro


O Dia Mundial do Livro foi celebrado pela primeira vez a 7 de Outubro de 1926, como comemoração do nascimento do escritor espanhol Miguel Cervantes. Foi o escritor e editor Vincent Clavel Andrés que propôs este dia, primeiro, à Câmara Oficial do Livro de Barcelona e, depois, ao Governo espanhol, criando a Festa do Livro Espanhol.
No ano de 1930, a data comemorativa foi transladada para 23 de Abril, dia do falecimento de Cervantes. Mais tarde, em 1995, a UNESCO instituiu 23 de Abril como o Dia Mundial do Livro. Além de Cervantes, é também neste dia que se assinala o nascimento e falecimento de William Shakespeare e o nascimento de Vladimir Nabokov, entre outros escritores.

Dia Mundia do Livro (I)


Com ilustração de Pierre Pratt, ilustrador e autor de livros infantis, este cartaz foi elaborada para o Dia Mundial do Livro pela Direcção Geral do Livros e das Bibliotecas (DGLB).

Vladimir Nabokov


Vladimir Vladimirovich Nabokov nasceu em São Petersburgo, Rússia, a 23 de Abril de 1899, oriundo de uma família abastada e aristocrática. Aos 16 anos, herdou uma grande fortuna do seu tio, mas teve pouco tempo para gozá-la. Durante a revolução russa o seu pai foi preso e a família emigrou para Berlim, onde o seu pai viria a ser assassinado em 1922. Formou-se nesse mesmo ano no Trinity College, Cambridge, após o que se instalou em Berlim. Trabalhou como tradutor, tutor e treinador de ténis. Compôs ali os seus primeiros escritos em russo, embora posteriormente os tenha traduzido para inglês. Muitos dos seus leitores eram emigrantes russos. Os seus livros foram banidos da União Soviética. Os temas de Nabokov tornaram-se puzzles ambíguos, desafiando o leitor a envolver-se no jogo.
Enquanto escritor, Nabokov alcançou o primeiro sucesso literário com as traduções de algumas canções de Heine. O seu primeiro romance Mashenka foi escrito em 1926. Em 1924, Nabokov casou com a judia Véra Evseevna Slonim. Os primeiros romances foram escritos com o pseudónimo Valdimir Sirin. Entre estes encontram-se The Gift/O Dom (1937-38), um romance sobre o século XIX russo, Invitation to a Beheadind (1938), uma fantasia política.
Nabokov mudou-se para Paris aquando da libertação do assassino de seu pai, onde conheceu James Joyce. Em 1940 foi para os Estados Unidos, tornando-se cidadão americano em 1945. Leccionou no Wellesley College e Cornell University, prosseguindo ao mesmo tempo, as suas extensas pesquisas em entomologia. Durante alguns anos exerceu funções no Museum of Comparative Zoology na Universidade de Harvard, que mais tarde veio a caracterizar como os anos mais encantadores e emocionantes da sua vida adulta.
A primeira publicação em inglês de Nabokov intitulava-se de A Few Notes on Crimean Lapidoptera.
Os seus primeiros romances em inglês foram The Real Life of Sebastian Knight (1945) e Blend Sinister (1947). Em 1950, Nabokov publicou Conclusive Evidence (1951), uma autobiografia, mais tarde recuperada em Speak, Memory (1966).
O seu livro mais conhecido é Lolita (1955), a história da paixão de Humbert Humbert, um professor de poesia de meia-idade, por uma precoce rapariga de 12 anos. O livro permitiu-lhe abandonar o ensino e dedicar-se inteiramente à escrita.
Representante ilustre da tradição literária russa, que transpôs brilhantemente para o inglês, reflectiu nas suas obras, com humor e ironia, a realidade da sociedade contemporânea ocidental.
Em 1959, mudou-se para a Suíça, instalando-se permanentemente no Hotel Montreux Palace. As suas últimas obras incluem Ada (1969), Transparent Things (1972) e Look at the Harlequins! (1975). Entre os seus outros livros, notáveis pelos jogos de palavras e pelos enredos engenhosos, incluem-se Defesa Loujine (1929), Laughter in the Dark (1938), The Enchanter/O Encantador (1939), Pnin (1957).
Vladimir Nabokov morreu em Lausanne, Suíça, a 2 de Julho de 1977.

Portugueses Justificam Falta de Leitura com Preços


Portugal é o segundo país da Europa onde se lê menos livros. Cerca de 63 por cento dos adultos afirmam que no último mês não pegaram num livro. Editores e livreiros admitem que os livros são caros, mas culpam o baixo número de leitores.
Os últimos dados do Eurobarómetro, referentes a 2007, indicam que 49 por cento dos portugueses não leram um livro no ano anterior, numa percentagem só ultrapassada por Malta.
O Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor foi este ano pretexto para a Marktest saber como é que os portugueses se relacionam com a leitura.
O estudo mostra que 63 por cento dos adultos não leram um livro no último mês e que as mulheres lêem mais do que os homens, talvez por isso, e ainda segundo o estudo, os romances são as obras preferidas de um terço dos leitores.
«O Equador», de Miguel Sousa Tavares, é o título mais referido como a leitura mais recente. As referências dispersam-se por muitos títulos diferentes, mas os mais citados são «A Bíblia», «A Viagem do Elefante» de José Saramago, «As Palavras que Nunca te Direi» de Nicholas Sparks ou «Maddie: A Verdade da Mentira» de Gonçalo Amaral.
Outro estudo do Plano Nacional de Leitura, publicado em 2007, chegou a conclusões semelhantes sobre os hábitos de leitura dos portugueses.
Cerca de 52% dos portugueses admite não ter lido um único livro no ano anterior e o preço era uma das principais justificações para mais de metade dos leitores.
O presidente da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros - APEL, Rui Beja, admite que os livros são caros comparando com outros países, mas culpa o pequeno número de leitores.
O representante dos editores explica que «as tiragens reflectem-se num mercado que é restrito e isso faz com os livros não possam ter um preço tão baixo como nos mercados de grande dimensão com níveis de literacia e hábitos de leitura bastante superiores aos que temos em Portugal».
Isabel Alçada, Comissária do Plano Nacional de Leitura, partilha da mesma opinião e dá o exemplo dos países do Norte da Europa, onde uma população com maior formação escolar aumenta o número de leitores, diminuindo o preço dos livros.(TSF).

quarta-feira, abril 22, 2009

Plágio num Romance de Camilo José Cela


O romance A Cruz de Santo André (edição portuguesa da Difel) "apresenta tantas coincidências e semelhanças" com Carmen, Carmela, Carmiña (Fluorescencia), escrito por María del Carmen Formoso, que Camilo José Cela (Padrón, 11 de Maio de 1916 — Madrid, 17 de Janeiro de 2002) só pode ter tomado este texto "como referência ou base" da sua obra, distinguida em 1994 com o Prémio Planeta. Houve, portanto, "aproveitamento artístico" – plágio –, segundo considerou uma juíza de Barcelona.
A decisão, divulgada ontem pelo jornal El País, reacende uma polémica que se arrasta desde 1998 nos tribunais, após María del Carmen Formoso ter movido uma acção judicial contra o Prémio Nobel da Literatura nascido na Galiza – autor, entre outros livros, de A Colmeia, A Família de Pascoal Duarte e Mazurca para Dois Mortos –, por delito contra a propriedade intelectual.
O caso foi arquivado duas vezes, mas em 2006 o Tribunal Constitucional deu razão à queixosa e ordenou finalmente a reabertura do processo.
Agora, a juíza baseou a sua sentença em duas razões fundamentais: o facto de a obra de María del Carmen Formoso ter sido apresentada à mesma edição do Prémio Planeta no dia 2 de Maio de 1994, tendo Camilo José Cela entregue o seu texto apenas a 30 de Junho, último dia do prazo para concorrer e quase dois meses depois; e também o relatório pericial solicitado a Luis Izquierdo, um respeitado catedrático de Literatura Espanhola da Universidade de Barcelona, que conclui que A Cruz de Santo André é uma "transformação, pelo menos parcial, da obra original" – ainda que daí resulte "uma obra esteticamente diferente, com marca própria do seu autor".
A juíza não deu, assim, razão à procuradora Raquel Amado, que tinha solicitado o arquivamento do processo por "descartar contundentemente" a possibilidade de plágio face à "radical diferença" que encontrou entre as obras, ao nível da narração, da estrutura e das técnicas literárias.
Nos tribunais, o caso arrancou em 1998, mas sofreria várias reviravoltas até que, em 2001, foi finalmente admitida a queixa apresentada por Jesús Díaz Formoso, filho e advogado de María del Carmen. O processo agora já só é contra José Manuel Lara Bosh, conselheiro delegado do grupo editorial Planeta, considerado co-autor do delito de plágio, que em 2001 foi a julgamento como acusado, tal como sucedeu com Camilo José Cela até falecer, em 2002. A editora já recorreu, cabendo à Audiencia de Barcelona confirmar ou revogar a sentença. (DN).

Revista Camões


Todos os 19 números da revista Camões, cuja publicação se iniciou em 1998, passaram a estar disponíveis para leitura ou descarga em PDF no sítio da Biblioteca Digital Camões.

Memórias do Meu Cativeiro


Clara Rojas, prisioneira das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) durante seis anos, depois de ter sido raptada com Ingrid Betancourt, vai apresentar em Lisboa, quinta-feira, o seu livro "Memórias do Meu Cativeiro".
A 23 Fevereiro de 2002, Clara Rojas, que era então directora da campanha presidencial de Ingrid Betancourt, foi raptada juntamente com a candidata durante uma visita ao interior da Colômbia.
Viria a ser libertada a 10 de Janeiro de 2008 numa operação que contou com a intervenção do presidente da Venezuela, Hugo Chavez. Durante o cativeiro, Clara Rojas teve um filho, do qual foi separada quando a criança tinha oito meses e acabou por afastar-se de Ingrid Betancourt.
No livro, a autora nada revela sobre o pai de Emmanuel, mas conta as dificuldades por que passou durante a gravidez e a cesariana que foi obrigada a fazer no meio da selva sem condições.
Oito meses após o nascimento da criança, as FARC retiraram-lhe o filho e Clara Rojas viveu três anos sem saber dele, até que voltou a reencontrá-lo depois da libertação. A criança tem actualmente 5 anos e vive com a mãe na Colômbia. Sobre o fim da amizade com Ingrid Betancourt, a autora refere que quando regressaram da sua segunda tentativa fracassada de fuga, souberam que o pai de Ingrid tinha morrido.
"Lemos a notícia num jornal que os guerrilheiros nos emprestaram e sentimos uma profunda e inconsolável tristeza", escreveu. Apesar disso, "os guerrilheiros não tiveram nenhuma comiseração e prenderam-nos", continuou a ex-refém, adiantando que estiveram vários dias acorrentadas e que fizeram uma greve de fome como protesto.
"A duríssima experiência daquele luto, acorrentadas, marcou-nos de tal maneira que, dentro de nós, qualquer coisa se modificou e começou a ser diferente", pode ler-se no livro. No testemunho de Clara Rojas, "toda aquela dor mal digerida" criou entre as duas "uma barreira de silêncio". "Não posso dizer que tenha acontecido alguma coisa de concreto, que tenha acabado com a nossa amizade, foi, antes, um distanciamento progressivo provocado pelas circunstâncias", escreveu. Clara Rojas nasceu em 1963 em Bogotá, é advogada de direito comercial e foi professora universitária. O livro vai ser lançado na Fundação Mário Soares, sendo apresentado pelo embaixador José Fernandes Fafe numa sessão que contará com a presença da autora e de Mário Soares.(Público).

terça-feira, abril 21, 2009

"Tesouro Nacional"


O espólio de Fernando Pessoa encontra-se já em fase de classificação, tendo a Biblioteca Nacional (BN) considerado que se trata de material com valor de "tesouro nacional".
Essa conclusão foi publicada em Diário da República, dia 17, decorrendo agora o prazo de 20 dias úteis para que todos os interessados se pronunciem. Após essa data, recordou ao Diário de Notícias Jorge Couto, director da BN, "será elaborado o projecto de documento - classificação como bem nacional ou como tesouro nacional - que o Ministério da Cultura [MC] submeterá a Conselho de Ministros, seguindo-se a promulgação do Presidente da República".
A BN tem em sua posse "mais de 27 mil documentos", incluindo um lote que foi a leilão em 2008 e sobre o qual o MC exerceu direito de preferência, com um apoio da REN de cerca de 150 mil euros.
"Na posse de particulares há cerca de uma centena de documentos e os herdeiros têm alguns milhares de folhas", adiantou Jorge Couto. Após a classificação nenhum desse material poderá ser exportado, só saindo do País (para exposições, por exemplo) com autorização da BN. (Diário de Notícias).

People's Republic of Bookestan

Venho informar que tenho um novo blogue dedicado, essencialmente, aos livros.
Gostaria de contar com as vossas visitas, sugestões, comentários e tal.
A Fábrica apesar de estar a sentir os efeitos da crise, como a generalidade da indústria, não vai encerrar.

Vencedores do Prémio Pulitzer 2009


A escritora Elisabeth Strout conquistou o Prémio Pulitzer na categoria de ficção com "Olive Kitteridge", uma colectânea de relatos protagonizados por uma professora de Matemática de uma localidade do estado de Maine.
"Olive Kitteridge" é uma reflexão sobre a solidão e a perda. Os críticos literários já o tinham eleito como um dos melhores livros publicados em 2008 nos Estados Unidos.
Todos os Vencedores:
Ficção: Olive Kitteridge, Elizabeth Strout (Random House).
História: The Hemingses of Monticello: An American Family, Annette Gordon-Reed (W.W. Norton & Company).
Biografia: American Lion: Andrew Jackson in the White House, Jon Meacham (Random House).
Poesia: The Shadow of Sirius, W.S. Merwin (Copper Canyon Press).
Não-Ficção: Slavery by Another Name: The Re-Enslavement of Black Americans from the Civil War to World War II, Douglas A. Blackmon (Doubleday).
Link: AQUI.

Novo Livro de Dan Brown


“The Lost Symbol”, ou “O Símbolo Perdido”, é o título do novo livro de Dan Brown, que sairá no Outono. O autor do “Código Da Vinci” regressa com uma nova aventura do especialista em simbologia Robert Langdon, transformado em detective, que terá apenas 12 horas para resolver as peripécias em que se verá envolvido.
A expectativa é enorme: a primeira edição, lançada a 15 de Setembro, terá 6,5 milhões de cópias. É a maior primeira edição de sempre da editora Random House.Não foram adiantados grandes pormenores, mas o jornal “The Guardian” diz que a história se deve passar em Washington.
“Este livro foi uma viagem estranha e maravilhosa”, comentou Brown. “Foi preciso tecer cinco anos de pesquisa numa trama de 12 horas, foi um desafio entusiasmante. A vida de Robert Langdon é vivida a um ritmo muito mais rápido que a minha.”
Em 2006 estreou-se o primeiro filme inspirado num livro de Brown, “O Código Da Vinci”, com Tom Hanks a fazer o papel de Langdon. O segundo, “Anjos e Demónios”, chega aos cinemas a 15 de Maio.(Público).

segunda-feira, abril 20, 2009

José Saramago


Os textos que o escritor José Saramago publicou no seu blogue na Internet desde Setembro de 2008 foram reunidos em "O Caderno", livro que será editado na quinta-feira, Dia Mundial do Livro.
A obra, que terá uma tiragem de cinco mil exemplares, é uma edição conjunta da Editorial Caminho e da Fundação José Saramago.
"O Caderno" reúne textos publicados ao longo de seis meses no blogue que José Saramago inaugurou a 17 de Setembro de 2008.

Último Romance de Vladimir Nabokov


O último romance escrito por Vladimir Nabokov (São Petersburgo, 22 de Abril de 1899 — Montreux, Suíça, 2 de Julho de 1977), "O original de Laura", será publicado em Novembro, anunciou a editora Penguin.
O autor, famoso a partir da escrita de "Lolita", romance transposto para o cinema por Stanley Kubrick, deixou instruções para que "O original de Laura" fosse destruído após a sua morte, mas o filho e testamenteiro da sua obra, Dmitri, decidiu publicá-lo.
Segundo a cadeia pública britânica BBC, os herdeiros de Nabokov receberam uma soma superior a um milhão de dólares por este trabalho, que chegará simultaneamente a 3 de Novembro às livrarias do Reino Unido e dos Estados Unidos.

Vladimir Nabokov


O que procuramos na literatura é um estremecimento na espinha dorsal.
Vladimir Nabokov

Biblioteca Digital Mundial


A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e 32 instituições parceiras lançam na terça-feira (21/04) a Biblioteca Digital Mundial, uma página na internet que oferece gratuitamente materiais culturais únicos de bibliotecas e arquivos de todo o mundo. A página será apresentada nas sete línguas da ONU, incluindo o português, graças à participação do Brasil como parceiro fundador.
O projecto da Biblioteca Digital Mundial, vai permitir que fiquem disponíveis na Internet, gratuitamente e em várias línguas, conteúdos essenciais de várias culturas mundiais como manuscritos, mapas, livros raros, partituras, gravações, filmes, fotografias, desenhos arquitectónicos, etc.
Um dos objectivos é aumentar os conteúdos de outras línguas na Internet (além da inglesa) e de outras culturas que não a ocidental e contribuir para a investigação académica. Lado a lado, poder-se-ão ali encontrar antigos manuscritos chineses e postais de Sarah Bernhardt, originais de Rabelais ao lado de uma gravação áudio da voz de Fountain Hughes, antigo escravo norte-americano de 101 anos. A página da Internet vai ser uma montra digital através da qual os utilizadores podem consultar e estudar dezenas de milhares de tesouros culturais de diversos países, como Suécia, Arábia Saudita e África do Sul, explica o jornal "The Guardian".
Tudo começou há quatro anos quando James Billington, bibliotecário da Biblioteca do Congresso em Washington, deu a ideia de se fazer esta biblioteca digital, com todo o conteúdo livre de direitos num sítio traduzido em sete línguas diferentes. O director do projecto é John Van Oudenaren, que disse ao "The Guardian" que espera que a Biblioteca Digital Mundial aproxime as culturas e que sirva de base para educadores em qualquer parte do mundo. Neste momento, já têm 32 parceiros (a Biblioteca Nacional do Brasil é uma delas e a Biblioteca de Alexandria também) e o Médio Oriente tem um grande peso. Por exemplo, diz o "The Guardian", a Biblioteca Nacional e os Arquivos do Iraque contribuíram com uma selecção de jornais do século XIX e XX escritos em árabe, inglês, curdo e turco otomano. A Biblioteca Nacional Francesa contribuiu, por exemplo, com filmes dos irmãos Lumière (Com Ípsil
on).

J.G. Ballard 1930-2009


O escrito J. G. Ballard morreu ontem, aos 78 anos (15 November 1930 – 19 April 2009) , vítima de doença prolongada. A notícia foi dada pela agente Margaret Hanbury, que disse que o autor de “Crash” e “Império do Sol” estava doente há já “vários anos”, adiantou a BBC.
Filho de um executivo britânico, James Graham Ballard nasceu em Xangai, na China, e cresceu na comunidade de expatriados da cidade.
Ballard era apresentado como escritor de ficção científica, mas costumava dizer que os seus livros eram “uma imagem da psicologia do futuro”. “Império do Sol”, o seu livro mais aclamado, baseava-se na sua infância passada num campo de prisioneiros japoneses, na China, durante a II Guerra Mundial. Publicado pela primeira vez em 1984, “Império do Sol” ganhou o Guardian Fiction Prize e o James Tait Black Memorial Prize, tendo sido finalista do Booker Prize; foi adaptada a cinema pelo realizado Steven Spielberg.
Também “Miracles of Life” começa e termina em Xangai, a cidade onde nasceu e onde passou a maior parte da guerra. Nele faz um relato de como passou do campo de Lunghua para uma Inglaterra traumatizada pela guerra, e como este país se transformou ao longo das décadas seguintes.
Entre os seus 15 romances, está o polémico "Crash", que conta a história de um grupo de pessoas com fascínio sexual por acidentes de carro, e que foi levado ao cinema pelo também controverso realizador David Cronenberg em 1996.
Ballard tirou o curso de Medicina em Cambridge e foi porteiro do Covent Garden, antes de partir para o Canadá. Publicou o seu primeiro romance em 1961, “The Drowned World”. Continuou a escrever artigos científicos a acompanhar a sua carreira literária. (Com o Público)

sexta-feira, abril 17, 2009

A Breve e Assombrosa Vida de Oscar Wao


Pré-publicação: A Breve e Assombrosa Vida de Oscar Wao, de Junot Díaz, vencedor do Pulitzer Prize for Fiction 2008.
O nosso herói não era um daqueles gatos dominicanos de quem toda a gente passa a vida a falar – não era nenhum jogador capaz de fazer um home-run, nem um dançarino de bachata, todo produzido, nem um playboy com um milhão de gajas no papo.
E, excepto durante um período muito inicial da sua vida, o tipo nunca tinha tido muita sorte com mulheres (uma coisa tão pouco dominicana).
Tinha sete anos, nessa altura.
Naqueles dias abençoados da sua juventude, o Oscar era qualquer coisa como um Casanova. Um daqueles namoradinhos do jardim-escola, sempre a tentar beijar as miúdas, sempre a aparecer-lhes por detrás durante um merengue e a dar-lhes aquela bombada com a pélvis; o primeiro negro a aprender o perrito, e aquele que o bailava em cada oportunidade que lhe aparecia. Como naquele tempo ele era (ainda) um miúdo dominicano «normal», criado numa família dominicana «típica», a sua mulherenguice nascente foi encorajada pela família e pelos amigos, de maneira igual. Durante as festas – e havia muitas, muitas festas, naqueles já tão longínquos dias dos anos setenta, antes de Washington Heights se tornar Washington Heights, antes de Bergenline se ter tornado um tiro e queda para os Espanhóis, em quase cem blocos de habitações – algum seu parente já com os copos empurrava inevitavelmente o Oscar na direcção de uma rapariguinha e, então, toda a gente se punha a berrar enquanto o miúdo e a miúda imitavam o movimento de ancas dos adultos.
Deviam tê-lo visto, suspirava a mãe nos seus Últimos Dias. Ele era o nosso pequeno Porfirio Rubirosa .
Todos os outros miúdos da sua idade evitavam as miúdas como se elas fossem uma daquelas formas horríveis em que o Captain Trips se transformava. O Oscar, não. Aquele homenzinho gostava de fêmeas, tinha «namoradas» à brava. (Era um miúdo forte, a caminhar rapidamente para o gordo, mas a mãe arranjava-lhe sempre uns cortes de cabelo e umas roupas catitas, e antes de as proporções da sua cabeça mudarem, ele tinha aqueles olhos que cintilavam adoravelmente e aquelas bochechas firmes, visíveis em todas as suas fotografias). As miúdas – as amigas da sua irmã, a Lola, as amigas da mãe, até a vizinha, a Mari Colón, uma funcionária dos Correios, de uns trinta e tais, que pintava os lábios de encarnado e caminhava como se tivesse um sino de bronze em vez de um cu –, todas se apaixonaram por ele, supostamente. Ese muchacho está bueno! (Fazia alguma coisa ao caso que ele fosse um miúdo sério e tivesse dificuldades de concentração? Nenhuma!) Na República Dominicana, durante as visitas de Verão à residência da família em Baní, ele era do piorio, plantava-se em frente à casa da Nena Inca e gritava para as mulheres que passavam – Tú eres guapa! Tú eres guapa! – até que um Adventista do Sétimo Dia fez queixa à avó, que fez calar aquela cantilena de sucesso a grande velocidade. Muchacho del diablo! Isto não é nenhum cabaré!
Para o Oscar, aquela foi, na verdade, uma Era Dourada, uma era que atingiu a sua apoteose no Outono do seu sétimo ano, quando ele teve duas namoradinhas ao mesmo tempo, o seu primeiro e único ménage à trois de sempre. Com a Maritza Chacón e a Olga Polanco.
A Maritza era uma amiga da Lola. De cabelo longo e nojentinha, e tão bonita que poderia ter desempenhado o papel da Dejah ThorisII. A Olga, por outro lado, não era amiga da família. Vivia na casa ao fundo do bloco, aquela da qual a mãe do Oscar se queixava de estar cheia de porto -riquenhos que estavam sempre por ali, pela entrada do bloco, a beber cerveja. (Olha que isto, não poderiam ter feito isso lá em Cuamo?, perguntava a mãe do Oscar, de mau humor.) A Olga tinha assim como que noventa primos, os quais pareciam chamar-se todos Hector, ou Luis, ou Wanda. E como a mãe dela era uma maldita borrachona (para usar as palavras da mãe do Oscar), nalguns dias, a Olga tinha um cheiro a cu, motivo pelo qual os miúdos lhe começaram a chamar Dona Porcalhota.
Dona Porcalhota ou não, o Oscar gostava da sua maneira de ser, calada, de como ela o deixava atirá-la ao chão e andar à bulha com ela, do interesse que ela demonstrava pelos seus bonecos do Star Trek. A Maritza era bela, só isso, sem qualquer outro tipo de atracção, também sempre por ali, e foi mesmo um golpe de puro génio que o convenceu a atirar-se a ambas, ao mesmo tempo. Primeiro, fingiu que se tratava do seu herói número um, Shazam, quem queria namorar com elas. Mas, depois de elas o aceitarem, deixou cair todos os fingimentos. Não era o Shazam, era o Oscar.
Eram dias bem inocentes, aqueles, e, por isso, a relação deles equivalia a ficar juntinho a cada uma delas, na paragem de autocarro, a um dar as mãos, às escondidas, e a uma dupla de beijos nas faces, muito a sério, primeiro, à Maritza, e, depois, à Olga, lá onde uns arbustos impediam que fossem vistos da rua. (Olhem para aquele pequeno macho, diziam os amigos da mãe. Que hombre.)
Aquele arranjinho a três durou apenas uma única e bela semana. Um dia, depois da escola, a Maritza encostou-o atrás do baloiço e ditou as regras, Ou ela ou eu! O Oscar segurou a mão da Maritza e falou de um modo grave, e bastante, sobre o seu amor por ela, recordando-lhe que eles tinham concordado em partilhar, mas a Maritza não quis ouvir nada daquilo. Tinha três irmãs mais velhas, sabia tudo o que necessitava saber acerca do que era partilhar. Não me voltes a dirigir a palavra a não ser que te vejas livre dela! Com a sua pele cor de chocolate e os seus olhos estreitinhos, a Maritza expressava já a energia Ogún com que enfrentaria toda a gente durante o resto da sua vida. Taciturno, o Oscar dirigiu-se para casa, para as suas bandas desenhadas da era anterior às fábricas clandestinas coreanas – para os Herculoids e o Space Ghost. O que é que se passa contigo?, perguntou a mãe. Estava a arranjar-se para ir para o seu segundo emprego, o eczema nas suas mãos a fazer lembrar um qualquer prato de comida mal amanhado que já tivesse assentado. Quando o Oscar se lamentou, As raparigas, a Mãe De León quase explodiu. Tu ta llorando por una muchacha? Levantou-o do chão por uma orelha.
Mami, pára com isso, gritou a irmã dele, pára!
Ela atirou-o para o chão. Dale un galletazo, disse, ofegante, e logo vais ver como essa putinha passa a respeitar-te.
Se ele fosse um gajo diferente, talvez tivesse considerado aquela hipótese do galletazo. Não era apenas o facto de ele não ter um pai qualquer para lhe mostrar as regras dos homens, faltavam-lhe, simplesmente, quaisquer tendências agressivas e marciais. (Ao contrário da irmã, que bulhava com rapazes e com bandos de morenas que odiavam o seu nariz fino e o cabelo assim para o liso.) Numa avaliação de combate, o Oscar teria assim como que um zero; até a Olga, com os seus braços como palitos, era capaz de lhe bater os pés. Agressão e intimidação estavam fora de questão. Por isso, reflectiu sobre o assunto. Não demorou muito a decidir. Ao fim e ao cabo, a Maritza era bela, e a Olga, não; às vezes, a Olga cheirava a mijo, e a Maritza, não. A Maritza tinha permissão para ir a casa deles, e a Olga, não. (Uma porto-riquenha aqui em casa?, dizia a mãe, com escárnio. Jamás!) Assim, o seu raciocínio lógico aproximou-se tanto da matemática do sim ou não dos insectos quanto um gajo lá podia chegar. Terminou tudo com a Olga, no dia seguinte, no recreio, com a Maritza a seu lado, e como a Olga tinha chorado! A tremer como um farrapo, naquela sua roupa herdada e naqueles sapatos quatro tamanhos acima dos dela! O ranho a sair-lhe do nariz e tudo! (Público).
Ficha do livro
Código: 04148
Editora: Porto Editora
ISBN-13: 978-972-0-04148-7
Última Edição: Setembro de 2008
N.º de Páginas: 296
Preço de Capa: EUR 16,50
Encadernação: Capa mole
Dimensões: 15 x 23,5 cm

William Faulkner


A sabedoria suprema é ter sonhos bastante grandes para não se perderem de vista enquanto os perseguimos.
William Faulkner.

segunda-feira, abril 13, 2009

Samuel Beckett



Considerado um dos maiores escritores e dramaturgos do século XX, o irlandês Samuel Beckett nasceu a 13 de Abril de 1906, na localidade de Foxrock, perto de Dublin. Nascido no seio de uma abastada família protestante, não teve uma infância muito feliz e depressa se tornou num jovem infeliz. Inadaptado às regras de uma sociedade que considerava repulsiva, refugia-se na solidão, que faz transparecer em toda a sua obra. Em 1923 ingressa no Trinity College, de Dublin para fazer a sua formação académica, onde em 1927, se licenciou em línguas modernas, francês e italiano, com uma excelente classificação. Em 1928, Beckett mudou-se para Paris, onde conheceu James Joyce, e depressa se tornou um seguidor do escritor. Esta amizade será decisiva para a sua carreira literária.
Aos 23 anos, escreveu um ensaio em defesa de "Ulisses", a obra-prima de James Joyce, que tinha sido proibida na sua Irlanda natal. Depois de um estudo sobre Proust, Samuel Beckett, chegou à conclusão que o hábito e a rotina eram o “cancro do tempo”: o tempo, inexorável, ao qual estamos presos. Samuel Beckett, faz questão de nos lembrar, que a cada momento, o fim se aproxima, que a morte espreita, que o jogo irá acabar e nós irremediavelmente, perderemos.
Se temos conhecimento disso, então por que continua-mos à espera? Porquê? Porque devemos saber que enquanto se espera a vida continua e devemos vive-la da melhor forma possível, a cada segundo, compreendendo-a pequena e grandiosa ao mesmo tempo. Por causa destas conclusões, abandonou o seu cargo no Trinity College e iniciou uma viagem pela Europa, visitando a França, Inglaterra e a Alemanha, onde viveu as mais diversas experiências que depois se traduziram em personagens.
Em 1938 fixou residência em Paris, onde dois acontecimentos o vão marcar para o resto da vida: é gravemente ferido ao ser agredido por um estranho, que lhe desferiu uma facada no peito, e conhece Suzanne Deschevaux-Dusmenoil, o amor da sua vida e com quem se casaria em 1961.
Durante a Segunda Guerra Mundial, Beckett permaneceu em Paris, onde lutou pela Resistência, até que alguns membros o seu grupo foram presos e Beckett foi forçado a refugiar-se, com a sua mulher na zona conhecida como "França Livre", a parte da França que não tinha sido ocupada, pelas tropas nazistas.
Em 1945, regressou a Paris e iniciou o seu período mais prolífico enquanto escritor. No período cinco anos, entre 1948 e 1953, produziu a sua obra mais significativa.
Escreveu "Eleutheria" (1948), "À espera de Godot" (1952), e a trilogia, universalmente aclamada como essencial à compreensão da experiência humana, “Molloy” (1951), “Malone está a Morrer” (1951) e “O Inominável” (1953).O seu primeiro sucesso, chegou, em 1952 com "À Espera de Godot". Apesar das especulações, a pequena peça onde nada acontece, tornou-se num sucesso repentino e um marco no teatro do absurdo.
As personagens desta peça, exemplificam a situação do homem encurralado num mundo de rotina: dois vagabundos, Vladimir e Estrabon, indecisos e inertes, esperam em vão a chegada de um personagem enigmático e misterioso, Godot, símbolo do inalcançável, que de um modo inexplicável, melhorará as suas vidas.Depois do sucesso de "À Espera de Godot", Samuel Beckett dedica-se a traduzir os seus textos para inglês e volta a escrever nesta língua, construindo, um caso raro na Literatura moderna, uma obra bilingue.
As obras de Beckett traduzem com um grande poder de síntese, toda a condição humana. As questões que são necessárias esclarecer dessa condição são amplamente trabalhadas e poeticamente materializadas. Os personagens das suas obras, reflectem a posição do autor em relação à vida, à morte, aos desejos, aos fracassos e à impossibilidade da felicidade.
O reconhecimento crescente do seu trabalho culminaria com o Prémio Nobel da Literatura, em 1969. Depois disso e apesar de ser aclamado a nível mundial, continuou a escrever até à sua morte, que ocorreu em Paris, a 22 de Dezembro de 1989, vitima de enfisema, contra o qual lutou nos últimos três anos, da sua vida .

Samuel Beckett


Tenta. Fracassa. Não importa. Tenta outra vez. Fracassa de novo. Fracassa melhor.
Samuel Beckett

sábado, abril 11, 2009

Corín Tellado


Corín Tellado viveu a sua carreira à sombra numérica de um homem: Miguel de Cervantes, o único autor de língua castelhana que vendia mais do que ela. Mas a escritora, que morreu hoje em Gijón aos 82 anos, bateu o autor de Dom Quixote noutros números: Corín Tellado publicou mais de quatro mil obras, novelas e romances de cordel que marcaram várias gerações, e entrou no Guiness por ter vendido mais de 400 milhões de exemplares dos seus escritos.
“A vasta produção de Corín Tellado ficará como exemplo de um fenómeno sociocultural”, comentou um dia o escritor Mario Vargas Llosa. Ontem, a conselheira asturiana da Cultura e Turismo, Mercedes Alvarez, elogiou os “rasgos de modernidade” da obra de Tellado, “uma mulher muito avançada em relação ao seu tempo”.
Mas Corín, de seu nome María del Socorro Tellado López, não se considerava tão progressista. “Um dia a mulher terá o mesmo peso que o homem, mas ainda lhe falta andar muito”, disse numa entrevista publicada no seu site. Nascida em 1926 em Viavélez, na costa asturiana, viveu, casou e teve os dois filhos em Gijón. Mas o casamento da autora de novelas românticas mais lida do mundo castelhano não durou mais do que três anos. Em 1962, quando se divorciou, assinou contrato exclusivo com a editora Bruguera, a mesma em que publicou a seu primeira novela, Atrevida Apuesta (1946), pouco antes de fazer 20 anos.
A sua carreira fez-se então de novelas de cordel, fotonovelas e romances mais extensos, como Lucha Oculta (1991), que disse ser a sua obra favorita. Muitos foram publicados em Portugal, nomeadamente pela Agência Portuguesa de Revistas, tanto em pequeno formato como no de fotonovela, indica a Lusa.
Defensora do asturiano como língua co-oficial das Astúrias e distinguida pela UNESCO pela quantidade de leitores conseguidos em vida, não gostava de livros que não fossem de fácil compreensão. Defendia as suas obras como “entretenimento” e preferia as ideias que tinha à noite. Considerava ter “muita sorte” com a sua imaginação — “Alinhavo um argumento em cinco minutos”. Inspirava-se na vida quotidiana e juntava-lhe os ingredientes base: amor, ciúme e infidelidade.
As histórias de Corín Tellado atravessaram meios: foram adaptadas para a rádio (Lorena, em 1977), para o cinema (Tengo Que Abandonarte, 1970) e para a televisão de vários países. Em 2000 publicou a sua primeira obra na Internet, Milagro en el Camino. Paralelamente, e de acordo com o diário asturiano La Nueva España, também escreveu contos infantis e juvenis e assinou, sob o pseudónimo Ada Miller, uma colecção de novelas eróticas.
A sua última história, ditada à nora (já não usava a máquina de escrever), foi terminada quarta-feira. O seu destino é a revista cubana Variedades, com a qual colaborava desde 1951, altura em que, graças à presença dos seus escritos, aumentou a tiragem de 16 mil para 68 mil exemplares, como recorda o diário ABC. Corín Tellado, que terá morrido na sequência de um acidente vascular cerebral, será sepultada segunda em Gijón, onde há uma rua com o seu nome.(Público)

sexta-feira, abril 10, 2009

Allen Ginsberg


As manifestações culturais surgidas nos Estados Unidos e na Europa na década de 1960, feitas por jovens da classe média na sua maioria, que tiveram contacto com teorias de cientistas sociais e estudiosos do comportamento humano nas universidades, expandiram-se graças à imprensa. A imprensa norte-americana criou o termo Contracultura, para designar este conjunto de manifestações de carácter intelectual e estético que se opunha ou se diferenciava das instituições e dos valores dominantes na sociedade. Surgida nos anos 50, a Geração Beat - “Beat Generation”- foi o primeiro movimento de contracultura com forte importância histórica e cultural a acontecer nos EUA. Os seus membros eram conhecidos como beatniks (rótulo que Jack Kerouac reivindica como seu): uma corrupção do nome do satélite russo Sputnik com o termo inglês beat, de vários significados, entre eles o ritmo e o aspecto depressivo, que torna essa uma geração maldita.
Os beatniks eram jovens que se conheceram dentro e fora da universidade, interessados em escritos não ortodoxos como Rimbaud, Willian Blake, Melville, Withman, Kafka, Nietzsche, alguns dos quais vieram depois a ser adoptados nas universidades, sendo inclusive os professores acusados de transmitirem valores subversivos aos estudantes. Inquietos, marginais, pretendiam mostrar o seu desgosto com o status quo do consumismo e da tecnocracia, contrapondo propostas alternativas de vida. Não queriam mudar o mundo, nem fazer a revolução, mas lutar pelo direito de ser diferente. Não tinham soluções para os males do mundo. Nem para os próprios. Apesar das principais contribuições desta geração terem se dado na literatura, não é difícil identificar traços seus noutras formas de arte.
A Beat Generation na literatura compreendia um número pequeno de escritores, dos quais Jack Kerouac, Allen Ginsberg e William S. Burroughs são os mais conhecidos. Os três conheceram-se na Universidade Columbia, em Nova Iorque, no meio da década de 40, e tornaram-se grandes amigos, cada um encorajando o outro a escrever, até que as editoras começaram a levar o seu trabalho a sério no fim dos anos 50.
Allen Ginsberg é considerado o principal poeta da “Beat Generation”. Nascido a 3 de Junho de 1926, em New Jersey, Allen Ginsberg foi uma criança complicada e tímida, dominada pelos estranhos e assustadores episódios de sua mãe, uma mulher completamente paranóica, que acreditava que o mundo conspirava contra ela. Ao mesmo tempo, Allen teve que lutar para compreender o que estava acontecendo dentro dele, já que era consumido pela luxúria de outros meninos de sua idade. Na escola secundária, descobriu a poesia, mas logo ao ingressar na Universidade de Columbia, fez amizade com um grupo de jovens delinquentes, pensadores de almas selvagens, obcecados igualmente por drogas, sexo e literatura. Ao mesmo tempo em que ajudava os amigos a desenvolverem os seus talentos literários, Allen perdia de vez a sua ingenuidade, experimentando drogas e frequentando bares gays em Greenwich Village. Assumindo um estilo de vida bizarro, como se procurasse em si mesmo a face da loucura de sua mãe, Ginsberg acabou por se submeter a tratamento psiquiátrico. Aos 29 anos, já tinha escrito muita poesia, mas quase nada publicado. Allen Ginsberg ganhou popularidade a partir de 1956, com o seu poema/livro “Uivo”.
Lançado no Outono de 1956, o longo "Uivo" foi apreendido pela polícia de San Francisco, sob a acusação de se tratar de uma obra obscena. Depois de um tumultuoso julgamento, semelhante ao que foi submetida a novela de William Burroughs, Naked Lunch, o Supremo Tribunal autorizou a publicação e vendeu milhões de exemplares. Por esse período, Ginsberg viaja pelo mundo, descobre o budismo e apaixona-se por Peter Orlovsky, que seria seu companheiro durante 30 anos, embora a sua relação não fosse monógama. No início dos anos 60, enquanto já era famoso, lança-se na cultura hippie, ajudando Thimoty Leary a divulgar o psicadélico LSD e participa num grande número de eventos, como o Human Be-In, em 1967, em San Francisco, onde é um dos que conduzem a multidão cantando o mantra OM.
Ginsberg é também figura-chave nos protestos contra a guerra do Vietname na Convenção do Partido Democrático de Chicago, em 1968. Após conhecer o guru tibetano Rinpoche, Ginsberg aceita-o como seu guru pessoal. Depois, juntamente com a poeta Anne Waldman, cria uma escola de poesia. Sempre participando de eventos multiculturais, Ginsberg manteve a sua agenda social activa até a sua morte, em 5 de Abril de 1997, em Nova Iorque. As suas últimas palavras, foram “pensei que iria ter medo mas estou animado”.

Allen Ginsberg



"(…)Eu vi os expoentes da minha geração destruídos pela loucura, morrendo de fome, histéricos, nus, arrastando-se pelas ruas do bairro negro de madrugada em busca de uma dose violenta de qualquer coisa “hipsters” com cabeça de anjo ansiando pelo antigo contrato celestial com o dínamo estrelado da maquinaria da noite, que pobres, esfarrapados e olheiras fundas, viajaram fumando sentados na sobrenatural escuridão dos miseráveis apartamentos sem água quente, flutuando sobre os tectos das cidades contemplando jazz, que desnudaram seus cérebros ao céu sob o Elevado e viram anjos maometanos cambaleando iluminados nos telhados das casas de cómodos, que passaram por universidades com olhos frios e radiantes alucinando Arkansas e tragédias à luz de William Blake entre os estudiosos da guerra, que foram expulsos das universidades por serem loucos e publicarem odes obscenas nas janelas do crânio, que se refugiaram em quartos de paredes de pintura descascada em roupa de baixo queimando seu dinheiro em cestas de papel, escutando o Terror através da parede, que foram detidos em suas barbas púbicas voltando por Laredo, com um cinturão de marijuana para Nova York, que comeram fogo em hotéis mal-pintados ou beberam terebintina em Paradise Alley, morreram ou flagelaram seus torsos noite após noite com sonhos, com drogas, com pesadelos na vigília, álcool, caralhos e intermináveis orgias, (...) " .

segunda-feira, abril 06, 2009

John Steinbeck


John Steinbeck nasceu em Salinas, no estado da Califórnia, nos Estados Unidos, em 27 de Fevereiro 1902. De uma família de classe baixa, John Steinbeck testemunhou desde cedo a vida dos trabalhadores urbanos e rurais. Terminou o curso secundário no Salinas High School, em 1919, ingressando nesse ano na Universidade de Stanford. Para poder pagar os seus estudos, teve diversas profissões. No entanto, abandonou os estudos universitários em 1925, partindo para Nova Iorque, onde trabalhou como operário da construção civil, pouco tempo antes de conseguir um lugar de repórter no New York American, no intuito de seguir carreira literária. Regressou à Califórnia para ser caseiro de uma propriedade, aceitando trabalhos como servente, aprendiz de pintor ou apanhador de fruta, ocupações que foram indispensáveis à construção de algumas das suas personagens.
O seu primeiro romance, Cup of Gold (1929), uma narrativa histórica sobre um pirata jamaicano, antecedeu aquela que, segundo os críticos, seria a sua década de criação mais produtiva. A um Deus Desconhecido (1933) é o primeiro grande romance de Steinbeck. Um romance quase místico, que tem por tema central "o modo como os homens tentam controlar as forças da natureza, e ao mesmo tempo compreender a sua relação com Deus e com o inconsciente".
Em 1935, publicou Tortilla Flat, o primeiro sucesso popular, um estudo humorístico da vida dos agricultores de Monterey. Seguiu-se, em 1936, Batalha Incerta, em 1937, Ratos e Homens.
Neste livro John Steinbeck conta-nos a história de dois amigos inseparáveis, George e Lennie, mas completamente diferentes entre si. George é baixo, franzino e astuto, Lennie é um gigante, com uma força bruta impossível de calcular, mas com a inteligência de uma criança. O que os une é a simples amizade e a marginalização imposta pelo sistema. O livro passa-se numa quinta da Califórnia, onde ambos trabalham como contratados da quinta, ganhando pouco mais que a comida e a dormida. Durante o seu árduo trabalho na quinta, encontram outros pobres e explorados, mas também, outras personagens, o filho do patrão e a sua fogosa mulher, que colocam em risco a sua miserável e humilde existência. Ambos têm o sonho de ter um espaço de terra só para eles, situação que nunca se concretizará.
Em Ratos e Homens, Steinbeck, demonstrou a sua capacidade de criar personagens realistas e cativantes e também de, falar de sentimentos comuns a todos seres humanos, como a solidão e a ânsia por uma vida digna. Ratos e Homens é um dos primeiros grandes clássicos sobre o doloroso período da Grande Depressão americana.
Em 1939 edita As Vinhas da Ira, livro aclamado pela crítica popular mas que suscitou controvérsia, tendo alguns exemplares sido queimados publicamente como forma de protesto e a obra banida nas bibliotecas públicas do Kansas City e de Oklahoma, enquanto se tornava leitura obrigatória nos colégios de Nova Iorque. A obra foi mais tarde galardoada com os prémios Pullitzer e National Book Award.
As Vinhas da Ira, um dos melhores clássicos da literatura do século XX, dá a conhecer os Joad, uma família rural e pobre do Oklahoma que tenta uma nova vida, tendo por pano de fundo os horrores da Grande Depressão. Esta família vê-se obrigada a abandonar as suas terras e partir para um novo mundo, a Califórnia, em busca de melhores condições de vida melhores. Ao seu lado estão milhares de migrantes que se deslocam pelos mesmos motivos, em velhos camiões, em direcção a um futuro incerto. Durante a viagem passam por diversos tipos de provações e quando chegam à Terra Prometida descobrem que era um lugar bem pior do que aquele que tinham deixado.
Ludibriados por falsas promessas, a família toda parte num velho camião pela famosa estrada 66 numa jornada em que nada pode ser previsto.Na maioria das suas obras, marcadas pela paisagem e o quotidiano californianos, o autor explora as duras condições de vida das populações rurais, obrigadas a sobreviver no limiar da pobreza ou forçadas a longas e miseráveis migrações. Procurando tornar evidente que cada ser humano deve ser analisado no ambiente em que se insere, o autor dedicou-se, sobretudo, ao retrato de personagens inadaptadas.
Em 1941, publicou Sea of Cortez em colaboração com Edward Ricketts. No ano seguinte, Noite Sem Lua, foi adaptado ao teatro, tendo-se seguido Bombs Away. Em 1943, foi correspondente de guerra do New York Herald Tribune nas frentes de combate da Europa e da África do Norte. Em 1945, publicou Bairro da Lata e A Pérola, em 1947.
A Pérola é baseada num conto popular mexicano, conta-nos a história de Kino, e da sua família. Kino um pobre pescador encontrou a maior pérola do mundo, que desperta nele e nas pessoas que vivem numa pequena povoação do litoral mexicano sentimentos e desejos vis. Um livro a ler e a reler.
Em 1948, John Steinbeck foi eleito para a Academia Americana das Artes e das Letras. Em 1950, publicou Burning Bright, adaptado mais tarde, ao teatro. Dois anos depois, colaborou no filme Viva Zapata.
A Leste do Paraíso (1952), adaptado ao cinema por Elia Kazan e protagonizado por James Dean, é um dos melhores exemplos, com homens e mulheres no limite das suas forças, prestes a renunciar aos valores morais que a América proclamava.
Em 1953, o livro Os Náufragos do Autocarro foi incluído na lista dos livros desaconselhados pela comissão Gathings.De 1954 a 1960, publicou Sweet Thursday, O Breve Reinado de Pepino IV e O Inverno do Nosso Descontentamento.
No livro O Inverno do Nosso Descontentamento, John Steinbeck, conta-nos a história de Ethan Hawley, descendente de uma família muito rica mas que ficou na ruína financeira. Ethan foi forçado a aceitar a humilde posição de empregado de balcão num armazém de um emigrante italiano com um passado desconhecido. Ethan fica constantemente dividido entre a sua vontade de ser íntegro e o deslumbramento da riqueza e da glória que tiveram os seus antepassados. John Steinbeck faz-nos penetrar na amargura e na infelicidade de Ethan Hawley, que questiona a sua relação com a mulher, filhos, patrão, clientes e amigos. Ethan começando por apresentar uma moralidade a toda a prova, que se vai transformando gradualmente, acabando por alcançar o sucesso financeiro à custa de golpes de moralidade duvidosa.
Afastando-se dos círculos intelectuais e académicos, John Steinbeck foi frequentemente repudiado na América, principalmente nos últimos anos, não merecendo a atenção de outros autores contemporâneos, como Hemingway ou Faulkner.
Em 1962, foi galardoado com o Prémio Nobel da Literatura. Dois anos depois, recebeu a Medalha da Liberdade dos EUA e em 1966, publicou America and Americans, um conjunto de reflexões sobre a América contemporânea. Morreu em 20 de Dezembro de 1968, em Nova Iorque.

domingo, abril 05, 2009

John Steinbeck


Pela grossura da camada de pó que cobre a lombada dos livros de uma biblioteca pública pode medir-se a cultura de um povo.
John Steinbeck.

sábado, abril 04, 2009

Oscar Wilde


Nunca confie na mulher que diz a verdadeira idade, pois se ela diz isso... ela é capaz de dizer qualquer coisa.
Oscar Wilde

sexta-feira, abril 03, 2009

Jorge Luís Borges


A meta é o esquecimento. Eu cheguei antes.
Jorge Luís Borges