A fracassada tentativa suíça de alcançar o topo do Evereste, em 1952 deu aos britânicos o tempo necessário para organizarem uma expedição melhor preparada. O treino incluiu uma experiência no Cho Oyu -a sexta mais alta montanha do mundo, com 8.201 metros de altitude – em 1952, liderada por Eric Shipton. Mesmo não tendo chegado ao cume do Cho Oyu, a expedição obteve um grande avanço na utilização correcta do oxigénio e das roupas. Embora Eric Shipton já tivesse liderado diversas expedições e contasse com o apoio popular, alguns membros do Clube Alpino achavam não ser a pessoa mais indicada para comandar um empreendimento de tal magnitude, a 10ª Expedição Britânica ao Evereste, sobre a qual recaíam tantas esperanças e muita pressão política. Afinal, esta poderia ser a grande oportunidade de alguém ser o primeiro a escalar a mais alta montanha do planeta. Um acordo diplomático entre os envolvidos dividiu o poder, permitindo a Eric Shipton ficar mais concentrado na escalada, deixando o comando com John Hunt, um oficial do exército, que daria ao evento um padrão militar. Estranhamente, a maioria dos membros do Clube Alpino nunca se haviam encontrado com John Hunt e ele próprio já tinha sido preterido na expedição de 1935 por problemas de saúde. Ficou decidido que a expedição utilizaria todos os recursos ao seu alcance para atingir o objectivo, inclusive o uso de oxigénio, enquanto os alpinistas estivessem dormindo em altitudes mais elevadas. Para o Império Britânico, chegar ao topo do mundo era uma questão de honra. Para cobrir o evento, o diário Times enviou o jornalista James Morris, como membro da expedição, juntamente com o operador de câmara Tom Stobart. Munidos dos mais modernos equipamentos de alpinismo disponíveis na época, a primeira parte da expedição partiu de Kathmandu, naquela primavera, em grande estilo.
Composta por 350 carregadores sherpas, causava espanto aos nativos aquela fileira de homens trilhando uma estrada para o Evereste. Como a prata era a única forma de pagamento aceita pelos sherpas em 1953, uma grande quantidade de moedas foi cunhada especificamente para este fim. A caravana passou por Nanche Bazar e, após um pequeno período de descanso em Tengpoche, chegou em Gorak Shep, ao pé do Kala Patar, onde foi montado o Acampamento-base. A seguir estabeleceram um novo acampamento na geleira Khumbu, a meio caminho da Cascata de Gelo. Ao todo, foram criados nove acampamentos de altitude. Eram treze montanhistas escolhidos a dedo, entre os quais o veterano Tenzing Norgay, um alpinista sherpa altamente qualificado, e Edmund Hillary – que ganhara a confiança de Eric Shipton no ano anterior. A equipa ficou duas semanas fazendo pequenas escaladas no vale Khumbu como parte do programa de aclimatização antes de cruzar a Cascata de Gelo.
Enquanto forjavam uma rota através destes obstáculos monstruosos, Edmund Hillary e Tenzing Norgay começaram-se a identificar, a ponto de passarem a andar sempre juntos, tendo o veterano Tenzing demonstrado poder acompanhar o jovem, ambicioso e competitivo Hillary. Então, depois de treze dias de esforços contínuos na encosta do Evereste, eles chegaram ao Colo Sul escalando pelo flanco do Lhotse, a rota aberta pelos suíços no ano anterior, onde estabeleceram o acampamento VIII. Foi a partir dali que os ingleses, não esquecer que era uma expedição britânica, Harles Evans e Tom Bourdillon fizeram a primeira tentativa de alcançar o cume, embora ainda estivessem longe demais para um retorno seguro, caso obtivessem sucesso. No entanto, as ordens emitidas por John Hunt não deixavam dúvidas: era para continuarem a qualquer custo. Afinal, era para isto que um militar estava no comando. Mas, com as péssimas condições climatéricas e problemas com o oxigénio, foram obrigados a ficar no Cume Sul, menos de 100 metros abaixo do topo. Mesmo assim, e caso ainda tivessem oxigénio, calcularam ser necessário mais três horas de escalada.
O segundo assalto foi melhor planeado. Montou-se o acampamento IX, a 8.500 metros, bem mais acima do anterior, e Edmund Hillary e Tenzing Norgay passaram a noite descansando, bebendo grandes quantidades de chá de limão quente e tentando comer alguma coisa.
No dia 29 de Maio de 1953, às 6h30min da manhã, eles saíram de suas barracas, quase cobertas de neve, respirando oxigénio suplementar, e iniciaram a jornada que os colocaria na história. Era a sétima tentativa de Tenzing Norgay e a segunda de Edmund Hillary.
Às nove chegaram ao Cume Sul, ao pé da dramática crista estreita que levava ao cume principal, a partir de onde encontraram melhores condições climáticas. Uma hora mais tarde estavam diante de uma barreira com 13 metros, um escalão de rocha lisa e quase sem pontos de apoio, agora conhecido como Passo de Hillary. - Era uma barreira cuja superação ia muito além de nossas frágeis forças – reconheceu o neozelandês, mais tarde. Tenzing ficou abaixo e foi largando a corda, nervoso, enquanto Hillary, enfiando-se em uma estreita greta entre o paredão de rocha lisa e uma rebarba de neve em sua beirada, começou a agonizante subida. A lenta e penosa escalada foi sendo vencida, na base de muito esforço físico e exposição ao perigo. Edmund Hillary conseguiu finalmente alcançar o alto da rocha e arrastar-se para fora da fenda, até uma larga saliência. Por alguns momentos ele ficou ali, parado, deitado, recuperando o fôlego. Enquanto o oxigénio artificial corria por sua veias, ele sentiu, pela primeira vez, que sua gigantesca determinação o levaria ao topo.
Com as batidas do coração voltando ao normal – normal para aquelas circunstâncias! - Ele firmou-se na plataforma e fez sinal para Tenzing subir. Edmund Hillary puxou firme a corda e o sherpa foi subindo, contorcendo-se greta acima, até finalmente chegar à saliência onde o neozelandês estava.
- Exausto, desabando como um peixe gigantesco que acabou de ser içado do mar após uma luta terrível, chegou Tenzing – contou Hillary. O cume, a apenas uma pequena distância, os observava, impassível, sentindo que em breve seria derrotado por aqueles dois minúsculos seres que ousavam pisar onde ninguém jamais conseguira colocar os pés. Edmund Hillary e Tenzing Norgay deram a volta por trás de outra saliência de rocha e viram que a crista adiante descia, podiam ver o Tibete. Eram os primeiros humanos a verem o Tibete daquele local. Eles desviaram a atenção do planalto tibetano e correram os olhos para cima, onde havia um cone redondo de neve.
Após algumas estocadas da piqueta, depois de uns poucos passos cautelosos, Tenzing Norgay e Edmund Hillary estavam no cume do monte Evereste; haviam acabado de conquistar o Terceiro Pólo. Eram 11h30min do dia 29 de Maio de 1953, pelo calendário gregoriano.
Hillary olhou para Tenzing e, apesar dos óculos de protecção e da máscara de oxigénio estarem cobertos de gelo, escondendo-lhe a face, pôde notar um grande sorriso de puro prazer com o qual o sherpa admirava o mundo ao redor. “Estamos no lugar certo e na hora certa”, pensou Hillary. Eles sacudiram as mãos para se livrarem do gelo das suas luvas e então Tenzing abraçou o neozelandês longamente, até ficarem quase sem respiração. Estavam no topo do mundo, no ponto mais elevado da Morada dos Deuses, na ponta do mais alto obelisco dos terráqueos. Muito longe, milhares de metros abaixo, as cores do alto planalto tibetano, como uma miragem naquele mundo branco coberto de gelo e neve. Enquanto Tenzing Norgay preparava uma pequena oferenda para a deusa Chomolungma, Edmundo Hillary olhou em direcção à Crista Norte e lembrou-se de Mallory e Irvine. Instintivamente tentou descobrir um sinal, um objecto, qualquer evidência da passagem dos dois pioneiros. Após alguns biscoitos e um pequeno gole de chá, iniciaram uma terrível descida. O oxigénio estava no fim, era preciso pressa. Chegaram ao acampamento no Colo Sul ao cair da noite. Quando Hillary avistou George Lowe, vindo ao seu encontro com uma garrafa térmica de sopa quente e um novo cilindro de oxigénio, disse, aos berros:
- Bem, George, liquidamos este bastardo! - Embora não tenham sido exactamente estas as palavras publicadas na imprensa na época.
James Morris, o correspondente do Times, desceu ao Acampamento – base e enviou um sherpa até Nanche Bazar com uma mensagem em código. Enviada por rádio para o embaixador britânico em Kathmandu e retransmitida para Londres, a notícia foi publicada na primeira página do jornal na manhã de 2 de Junho, dia da coroação da rainha Isabel II.
Nota: Todos os post's abaixo publicados e este, foram retirados de vários locais na Internet, principalmente em portais brasileiros.
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