quinta-feira, janeiro 19, 2006

Eugénio de Andrade


Não é a primeira antologia que reúne a poesia de Eugénio de Andrade, mas a obra a apresentar hoje, às 18.30 horas, na Fundação do autor de "As mãos e os frutos", no Porto, vem anunciada como a "edição definitiva" da obra de um dos mais profícuos poetas portugueses do século XX.
O professor universitário e ensaísta Arnaldo Saraiva teve a cargo a tarefa de organizar a edição, respeitando as instruções deixadas pelo poeta.
Os critérios que presidiram ao trabalho de organização são explicados num texto inserido no final do volume, no qual Arnaldo Saraiva justifica o motivo por que não recorreu aos textos escritos nos últimos anos de vida, quando o autor já se encontrava enfermo.
Em relação à última antologia, datada de 2000, o livro agora editado pela Fundação Eugénio de Andrade mantém não só o título como o grafismo de Armando Alves, com a reprodução de uma gravura de Ângelo de Sousa. A maior novidade prende-se com a inclusão de "Os sulcos da sede", editado em 2001, que contribui para que o volume tenha um pouco mais de 600 páginas. JN.
Eugénio de Andrade, falecido a 13 de Junho de 2005, se fosse vivo, completaria hoje 83 anos.
Eugénio de Andrade, pseudónimo de José Fontinhas, nasceu a 19 de Janeiro de 1923 na Póvoa de Atalaia, Fundão, região da Beira Baixa, no seio de uma família de camponeses. A sua infância foi passada com a mãe na sua aldeia natal, fixando-se em Lisboa em 1932 com a mãe, que entretanto se separara do pai.
Estudou no Liceu Passos Manuel e na Escola Técnica Machado de Castro, tendo escrito os seus primeiros poemas em 1936, o primeiro dos quais, intitulado «Narciso», publicou três anos mais tarde.
Em 1943 mudou-se para Coimbra, onde regressa depois de cumprido o serviço militar, convivendo com Miguel Torga e Eduardo Lourenço. Em 1947, entrou para a Inspecção Administrativa dos Serviços Médico-Sociais, exercendo durante 35 anos as funções de inspector administrativo do Ministério da Saúde.
Em 1948, publica «As mãos e os frutos», que mereceu os aplausos de críticos como Jorge de Sena ou Vitorino Nemésio.
Uma transferência de serviço levá-lo-ia a instalar-se no Porto em 1950, onde fixou residência. Abandonou a ideia de um curso de Filosofia para se dedicar à poesia e à escrita, actividades pelas quais demonstro desde de cedo profundo interesse, a partir da descoberta de trabalhos de Guerra Junqueiro e António Botto. Camilo Pessanha constituiu outra forte influência do jovem poeta Eugénio de Andrade.
Entre as dezenas de obras que publicou encontram-se, na poesia, «Os amantes sem dinheiro» (1950), «As palavras interditas» (1951), «Escrita da Terra» (1974), «Matéria Solar» (1980), «Rente ao dizer» (1992), «Ofício da paciência» (1994), «O sal da língua» (1995) e «Os lugares do lume» (1998).
Em prosa, publicou «Os afluentes do silêncio» (1968), «Rosto precário» (1979) e «À sombra da memória» (1993), além das histórias infantis «História da égua branca» (1977) e «Aquela nuvem e as outras» (1986).
As suas obras foram traduzidas para alemão, asturiano, basco, castelhano, catalão, galego, chinês, francês, italiano, inglês, jugoslavo e russo.
A sua poesia caracteriza-se pela importância dada à palavra, quer no seu valor imagético, quer rítmico, sendo a musicalidade um dos aspectos mais marcantes da poética de Eugénio de Andrade.
O tema central da sua poesia é a figuração do Homem, não apenas do eu individual, integrado num colectivo, com o qual se harmoniza ou luta.
Apesar do seu enorme prestígio nacional e internacional, Eugénio de Andrade sempre viveu distanciado da chamada vida social, literária ou mundana, tendo o próprio justificado as suas raras aparições públicas com “essa debilidade do coração que é a amizade”.
Recebeu inúmeras distinções, entre as quais, o Prémio de Poesia Jean Malrieu (1984), o Prémio da Associação Internacional de Críticos Literários (1986), Prémio D. Dinis (1988), Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores (1989), o Prémio Europeu de Poesia (1996), Prémio Camões (2001) e o Prémio Pen Club (2003).

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