O ex-presidente iraquiano Saddam Hussein começou a sua defesa no julgamento em que é acusado por crimes contra a humanidade dizendo que o tribunal é “uma comédia” e prosseguiu afirmando-se Presidente do Iraque e apelando aos iraquianos para que resistam às forças da ocupação, afirmações que levaram o juiz presidente, Rauf Abdel Rahamn, a ordenar que a sessão continuasse à porta fechada. Saddam Hussein, que juntamente com sete dos seus colaboradores esta a ser julgado pelo massacre de 148 xiitas na aldeia de Dujail em 1982, exortou ainda os iraquianos a deixarem «de se matar entre si». O julgamento de Saddam Hussein prossegue a 5 de Abril, depois da audiência de hoje em que mais uma vez Saddam Hussein desafiou os juízes apresentando-se como o presidente legítimo do Iraque e que por isso mesmo, nem devia ser julgado. O julgamento do ex-presidente do Iraque Saddam Hussein, corre o risco de se tornar o”reality show do ano” caso o tribunal não zele para evitar isso. Já na primeira sessão do julgamento, em Julho de 2005, Saddam Hussein tinha recorrido ao teatro para classificar o julgamento. “Eu não quero fazer com que vocês fiquem desconfortáveis, mas vocês sabem que isto é tudo um teatro montado por Bush”. Saddam Hussein parece bem preparado para fazer o papel principal nesta peça, adoptando a táctica de Slobodan Milosevic, para fazer estender o julgamento de forma interminável. Os ventos que sopram no Iraque, parecem estar à feição de Saddam Hussein, com a continuada ocupação estrangeira e uma iminente guerra civil a dar-lhe argumentos, não hesitará em representar o seu dramático papel, para desacreditar a forma como este julgamento foi e está, a ser realizado. O julgamento de crimes de guerra normalmente ocorrem no fim de um período de trauma quando a sociedade está pronta a enfrentar os seus fantasmas, após um período de ausência de violência e de retribuição extrajudicial. O julgamento do ex. ditador iraquiano não cumpre nenhum destes requisitos. Cabe ao Tribunal Especial Iraquiano trabalhar duro para dar credibilidade ao julgamento, correndo o risco se isso não acontecer, do julgamento vir a ser desacreditado pelas instâncias internacionais e este julgamento, precisa e muito, da força legitimadora das instâncias internacionais. Este julgamento será recordado ou como o maior julgamento da história recente ou como um espectáculo que desacreditou as novas autoridades iraquianas e toda a Administração Bush, pondo em risco os alicerces de um Estado de direito no Iraque.
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