segunda-feira, novembro 20, 2006

Sonhos Destruídos


Um beco sem saída.
Daqueles em que ninguém se quer encontrar. Perante as vicissitudes que a vida nos coloca, por vezes somos confrontados com situações que parecem irreais e distantes, que nem sabemos como devemos ou mesmo se podemos reagir, porque parece não existir nada que possa abrir o caminho bloqueado por uma força desumana e intransponível.
Por inépcia ou incúria, um segundo é quanto basta para tudo se alterar. Nada é definitivo. Quantas vezes num filme, num livro, numa história que alguém conta ou a que se assiste com um distanciamento seguro, se conclui que seria impossível encontrar-se nesta ou naquela posição? Como quase sempre acontece, todos achamos que é inverosímil que um lapso de tempo insignificante possa condicionar toda uma existência e, por isso mesmo, vive-se deliberadamente na inconsciência consciente, porque não obriga à reflexão sobre os nossos actos, numa condição de permanente ilusão, que permite esquecer a responsabilidade, e atribuindo-se ás possíveis consequências, que podem revelar-se esmagadoras e irresolúveis, a mesma importância que ao obituário de um jornal.
Consideramos invariavelmente estar a salvo da ignomínia e do infortúnio. Quando o inesperado acontece, quase sempre reagimos a despropósito. Normalmente, esperamos que tudo se resolva e desapareça após uma noite de sono. Todo o nosso pensamento se centra no desejo de regresso à nossa normalidade, numa regressão no enredo com que a vida nos presenteou. A pergunta que incessantemente se insinua é: Porquê eu?
Um dia acordamos e logo a seguir dirigimo-nos para o emprego, uma vida patética sem grandes oscilações emocionais. À noite em busca de uma qualquer descarga de adrenalina que nos faça sentir vivos, nem que seja por cinco minutos, decidimos agarrar o único instrumento à nossa disposição naquele instante, que por acaso é um carro. Um desafio com um amigo. Perdidos na noite, embriagados por uma sensação tão poderosa, ignoramos qualquer aviso de que uma tragédia pode estar iminente. No meio de uma gargalhada eufórica, desviamos o olhar por um segundo em busca de partilhar uma emoção. Sem pensar, tudo são reflexos e comportamentos irracionais. Nada mais existe. Nesse preciso instante, uma família pára o seu carro. Sem lugar para estacionar, fica em segundo fila. Finalmente a casa nova que todos ambicionavam, os sonhos são tão grandiosos que ninguém pensa no perigo potencial. Mesmo assim, mandam as duas filhas para a relva brincar.
Um estranho sortilégio ganha forma. Começam a tirar as malas do carro. Um segundo, nem dá para se aperceberem do fim. Apenas sentem o esmagamento, a dor não tem tempo de chegar ao cérebro. Os olhos, como que por reflexo, viram-se na direcção das filhas.
As meninas brincavam distraidamente. Inicialmente, o ruído do carro a alta velocidade. A aproximação fê-las desviar o olhar em simultâneo, mesmo antes do embate. O que se seguiu foi apenas um segundo, mas aos olhos delas a cena prolongou-se. Cada ínfimo momento, cada pormenor do acontecimento foi visto individualmente, como se desenrolado em câmara lenta, com a cena a repetir-se vezes sem conta no seu cérebro. Cada ferida, cada pedaço de sangue, cada movimento desamparado, o último sopro.
No futuro e durante muitos anos, estas imagens inundarão os seus pesadelos. Estão irremediavelmente impregnadas nas suas células. As suas vidas serão terrivelmente condicionadas por um sofrimento impossível de se esquecer porque assistir a algo semelhante é como que se de repente toda a maldade da alma humana lhes fosse dada a conhecer em simultâneo.
Filipe Pinto.

1 comentário:

werica britto disse...

COM OS MEUS SONHOS FOI SE MINHA VIDA NUM ENCONTRO MOTIVO PRA VIVER ELES FORÃO DESTRUIDOS ARRANCADOS DE MIM .....SIMPLISMENTE ARRANCADOS DE MIM UM DIA SE LENBRAS DE MIM LENBRE-SE SONHOS SÃO FEITO DE VIDROS.... OBRIGADA TALVEZ PRECISE Q VC REZE POR MIM ADEUS WERICA