José Mourinho é, indiscutivelmente, uma personalidade controversa. No entanto, algumas das opiniões acerca dele começam a exasperar-me, chegou a um ponto de que quase não pode fazer nada sem aparecerem logo os iluminados a criticar, a chamar a atenção para os seus pensamentos, palavras, actos e omissões. É, por isso, que forma nobre e altiva (ao contrário de arrogante) como resiste aos ataques de uns quantos amantes da subserviência é claramente algo digno de ser realçado. Como abutres a rondar uma carcaça de um animal doente, esperam um sinal de fraqueza que lhes garanta uma posição de vantagem de modo a sentirem-se bem consigo próprios e a conseguirem esquecer as suas próprias frustrações. O que é vago e incoerente nesta tentativa de o desacreditar é a argumentação aplicada. O epíteto de arrogante é, por isso, altamente discutível e o seu significado depende claramente de quem o profere. Sendo assim, as razões para estes ódios de estimação resumem-se rapidamente. Por conseguinte, há pessoas que não sabem lidar com o seu insucesso e, ao mesmo tempo, vivem permanentemente na esperança que alguém lhes descubra o seu talento escondido. Só que as oportunidades e o tempo passam de forma vertiginosa, escapando ao seu controlo. Se, num determinado momento, uma pessoa se destaca dos seus pares, estes interpretam este facto como uma lembrança permanente da sua vulgaridade existencial. Não passam de quase virtuosos e sabem-no. O quase faz toda a diferença, sendo responsável por este estado de frustração em que vivem, sem se conseguirem libertar da pergunta que os destrói como uma doença – Porquê ele e não eu? Então, quando o sucesso alheio vai ganhando substância ao ponto do consenso quase generalizado, este sentimento transforma-se em ódio visceral, assumindo o objecto de ciúme um papel de inimigo de estimação a ser criticado e ridicularizado a cada oportunidade. Partindo do princípio que as pessoas não concebem ser indiferentes aos outros, é como se tudo o que o odiado disser ou fizer configure uma provocação pessoal. O que acontece, normalmente, é que quem tem sucesso a este nível, raramente dá razão para se atacar o trabalho e, portanto, as opções de ataque limitam-se ao homem., sendo esta atitude uma demonstração de ódio pessoal perante a ausência de outros argumentos. Surge então a inveja que se traduz de várias formas. Há aqueles que invejam sem desejar o mal, porque é próprio da natureza humana, e há os outros que invejam e que, como resultado de alguma lucidez relativamente à sua própria mediocridade, não lhes basta invejar, desejam claramente que quem atingiu um patamar que eles almejam apesar de o saberem ser inatingível, caia em desgraça. É como se, no seu íntimo, preferissem dizer coitadinho do drogado do que parabéns pelo sucesso. A inveja, como escreveu e muito bem na revista DEZ, é a arma dos incompetentes e dos frustrados. Provavelmente não é à toa que a última palavra dos Lusíadas é Inveja. Camões, na sua imensa capacidade de metaforizar os defeitos dos portugueses, escolheu talvez a mais marcante de todas. Mourinho suscita este tipo de sentimentos e ambiguidades. Todavia, como alguém um dia disse – A modéstia é uma qualidade excessivamente valorizada. José Mourinho não é modesto, mas, indiscutivelmente não o pode, sob pena de cair no ridículo, nem tem que o ser. Os resultados estão à vista. Só não vê quem não quer, ou então tem uma compreensão errada da natureza da estatística. No caso de Mourinho, pode não gostar-se do estilo, mas pelo menos respeite-se o óbvio. Na mesma medida, é irrefutável dizer – A falsa modéstia é um defeito excessivamente desvalorizado. Os falsos modestos que grassam pelo mundo, de quem todos aparentemente tanto gostam, para além do grave defeito de carácter, gostam de ser bajulados, necessitam, em regime permanência, que quem os rodeia se refira à sua grandeza para que, também quem o diz, não se esqueça desse facto. É como se quem tiver sucesso tiver de pedir desculpa pelo facto de o ter. Ora, isto configura uma inversão dos conceitos e a pergunta do ignóbil jornalista espanhol é bem elucidativa disso mesmo. Para além da resposta que teve, a sua intervenção é uma tentativa de insulto que rebate para quem o proferiu. A questão era ofensiva, redutora mas revela mais sobre quem questiona do que sobre o questionado. Carlos Tê escreveu e Rui Veloso deu a voz a um pensamento que melhor traduz estes sentimentos: "...Já bebi a minha conta E a taberna está fechada Vinguei-me hoje da afronta Que o mundo me fez passar Passam-se os anos na pele Numa azia sem sentido E a gente acumula o fel Do tempo mal digerido..." Ainda no seu artigo semanal na DEZ, faz referência ao desperdício do potencial humano. A exortação à inteligência por parte de algumas pessoas que se julgam os donos do mundo, como Sousa Cintra no Sporting quando despediu Bobby Robson e Mourinho, é reveladora disso mesmo. Concordo, plenamente, com a análise de Mourinho da realidade Portuguesa. O fado português traduz-se, também, na opinião que têm no estrangeiro dos nossos concidadãos. É como se a cidadania portuguesa fosse uma espécie de doença contagiosa. Sobre os que andam a “pastar”, eu fui um dos que ao ler as suas palavras aprendi uma lição. Neste momento posso dizê-lo com toda a segurança jamais deixarei de defender um clube português e o segundo clube do meu coração será aquele onde José Mourinho estiver. A juntar a isto, alguns insuportáveis comentadores desportivos, que aos cinco minutos de jogo, recorrente a advérbios de tempo demasiado enfatizados pelo timbre da voz (O Chelsea não está a jogar absolutamente nada), parecendo, desta forma, que naquele e em qualquer outro momento, a equipa tivesse a obrigação de estar a dar um banho de bola e a ganhar cinco a zero. Além de tentar anular o mérito de Mourinho, desvalorizam os seus adversários de forma atroz. Finalmente, como português que é e se afirma pela competência, tem que ser duas vezes mais competente que um brasileiro (os donos da sapiência futebolística por direito próprio auto proclamado), 3 vezes mais competente que um espanhol (para quem Portugal e os portugueses são uma província e um povo abandonados por que não desejados), 4 vezes mais que um francês (o pais onde os Manueis e as Marias eram empregado para fazer o trabalho que os franceses não queriam sendo depreciativamente tratados por isso mesmo) e seis vezes mais competente que um inglês (que se acham acima de toda a humanidade). Só assim terá a aceitação de todos. Filipe Pinto.(Postado em 15 de Março)
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