Se há palavras que têm sobre mim um efeito nauseante uma é “Aborto”. A carga negativa desta palavra é incompreensivelmente enorme. Será certamente o resultado de anos de condicionamento induzido pela propaganda estigmatizante que recaía sobre este assunto.
Um pouco cansado dos insuportáveis estribilhos utilizados por cada uma das partes envolvidas neste debate, uma espécie de fundamentalismo militante de uma qualquer causa que não o é, há um conjunto de reflexões que surgem de uma análise não simplista, muito menos maniqueísta, e que transcendem o acto.
Sem ser condescendente e muito menos parecer correligionário de qualquer um dos pontos de vista, até porque podemos ser contra o aborto e votar sim, é uma abordagem minimalista do problema tentar argumentar em prol de uma ou da outra posição com base nos argumentos extremos, por um lado, de que a mulher é a dona do seu corpo e, portanto, a decisão cabe-lhe exclusivamente, como se o aborto fosse colocar um piercing, e, por outro lado, alimentar o autismo vigente face ao problema real existente, transmitindo a ideia de que há opções para além do aborto sem concretizar.
É preciso perceber que caso vença o não, as interrupções voluntárias da gravidez (que notável amaciamento) não vão acabar e que, se ganhar o sim, para além do estigma não desaparecer, a designação de “voluntária” não pode passar a confundir-se com banalidade e com inconsequência e muito menos com uma espécie de impulsionador de uma nova revolução sexual semelhante à produzida pela pílula.
Mais importante que isso, qualquer que seja o resultado, não deve imbuir as pessoas de um sentimento de vitória política. Seja de que maneira for, é uma derrota.
Claramente.
O porquê das pessoas abortarem já foi amplamente discutido. O porquê do porquê é que não, ou seja, os grandes problemas sociais que atiram as pessoas para um ponto sem retorno. Individualizam-se os casos e esquece-se a responsabilidade colectiva. Será que alguém acredita que qualquer mulher que vai abortar o faz porque acordou com essa vontade? Para além dos seus motivos pessoais, não seremos nós, enquanto integrantes de uma sociedade que esmaga as pessoas, também responsáveis?
Recentemente fomos inundados por notícias de casos de abusos sexuais, crianças vítimas de maus-tratos e mortas. Num mundo tão profundamente injusto que facilmente se conclui que a protecção exigível está longe de ser perfeita e, também, está longe de oferecer opções credíveis.
Num país onde a sexualidade em muitos sectores está ainda imbuída de uma aura pecaminosa, responsável por complexos de culpa que provocam um grande sofrimento, não podemos esperar uma abordagem à reprodução com a seriedade que esta exige. Esta atitude cria enormes dificuldades no diálogo entre pais e filhos, que é incipiente, na maioria das vezes no sentido da castração, da negação do desejo, um dos mais fortes impulsos do Homem, em resultado de uma visa redutora do ser humano, apelidando-o de ser espiritual reduzindo-o ao mesmo tempo a um procriador social.
A sensação que dá é que a resistência à introdução a educação sexual nas escolas é feita pelos mesmos que não preparam os filhos, que não deixam os outros faze-lo, e muito provavelmente vão votar não.
Posto isto, mantém-se o problema do aborto “em vão de escada”. E vai manter-se caso vença o não. A mim, incomoda-me esta carnificina. E, mesmo quem não concorda, permitir que morram pessoas desta maneira incorre em alguma incoerência. Assegurar, no mínimo, a higiene necessária e a capacidade técnica de quem os faz, é também um sinal de humanitarismo e solidariedade. É que, independentemente da nossa opinião, as pessoas vão abortar.
Um pouco cansado dos insuportáveis estribilhos utilizados por cada uma das partes envolvidas neste debate, uma espécie de fundamentalismo militante de uma qualquer causa que não o é, há um conjunto de reflexões que surgem de uma análise não simplista, muito menos maniqueísta, e que transcendem o acto.
Sem ser condescendente e muito menos parecer correligionário de qualquer um dos pontos de vista, até porque podemos ser contra o aborto e votar sim, é uma abordagem minimalista do problema tentar argumentar em prol de uma ou da outra posição com base nos argumentos extremos, por um lado, de que a mulher é a dona do seu corpo e, portanto, a decisão cabe-lhe exclusivamente, como se o aborto fosse colocar um piercing, e, por outro lado, alimentar o autismo vigente face ao problema real existente, transmitindo a ideia de que há opções para além do aborto sem concretizar.
É preciso perceber que caso vença o não, as interrupções voluntárias da gravidez (que notável amaciamento) não vão acabar e que, se ganhar o sim, para além do estigma não desaparecer, a designação de “voluntária” não pode passar a confundir-se com banalidade e com inconsequência e muito menos com uma espécie de impulsionador de uma nova revolução sexual semelhante à produzida pela pílula.
Mais importante que isso, qualquer que seja o resultado, não deve imbuir as pessoas de um sentimento de vitória política. Seja de que maneira for, é uma derrota.
Claramente.
O porquê das pessoas abortarem já foi amplamente discutido. O porquê do porquê é que não, ou seja, os grandes problemas sociais que atiram as pessoas para um ponto sem retorno. Individualizam-se os casos e esquece-se a responsabilidade colectiva. Será que alguém acredita que qualquer mulher que vai abortar o faz porque acordou com essa vontade? Para além dos seus motivos pessoais, não seremos nós, enquanto integrantes de uma sociedade que esmaga as pessoas, também responsáveis?
Recentemente fomos inundados por notícias de casos de abusos sexuais, crianças vítimas de maus-tratos e mortas. Num mundo tão profundamente injusto que facilmente se conclui que a protecção exigível está longe de ser perfeita e, também, está longe de oferecer opções credíveis.
Num país onde a sexualidade em muitos sectores está ainda imbuída de uma aura pecaminosa, responsável por complexos de culpa que provocam um grande sofrimento, não podemos esperar uma abordagem à reprodução com a seriedade que esta exige. Esta atitude cria enormes dificuldades no diálogo entre pais e filhos, que é incipiente, na maioria das vezes no sentido da castração, da negação do desejo, um dos mais fortes impulsos do Homem, em resultado de uma visa redutora do ser humano, apelidando-o de ser espiritual reduzindo-o ao mesmo tempo a um procriador social.
A sensação que dá é que a resistência à introdução a educação sexual nas escolas é feita pelos mesmos que não preparam os filhos, que não deixam os outros faze-lo, e muito provavelmente vão votar não.
Posto isto, mantém-se o problema do aborto “em vão de escada”. E vai manter-se caso vença o não. A mim, incomoda-me esta carnificina. E, mesmo quem não concorda, permitir que morram pessoas desta maneira incorre em alguma incoerência. Assegurar, no mínimo, a higiene necessária e a capacidade técnica de quem os faz, é também um sinal de humanitarismo e solidariedade. É que, independentemente da nossa opinião, as pessoas vão abortar.
Filipe Pinto.
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