terça-feira, dezembro 13, 2005

Egas Moniz

António Caetano de Abreu Freire Egas Moniz, o único português a ser galardoado com o prémio Nobel da Medicina, em 1949, pelo desenvolvimento de uma operação ao cérebro chamada lobotomia morreu há 50 anos, em Lisboa.
António Caetano de Abreu Freire nasceu em Avanca, concelho de Estarreja, a 29 de Novembro de 1874 e em honra do herói português, e suposto antepassado da família, o seu padrinho alterou-lhe o sobrenome Freire para Egas Moniz.

A educação do pequeno Egas Moniz ficou a cargo do tio Caetano Sá Freire, até à entrada na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.
Após a finalização do curso, em 1899, continuou os seus estudos em Neurologia nas Universidades de Bordeaux e Paris.
De regresso a Portugal tornou-se professor na Universidade de Coimbra e casou com Elvira de Macedo Dias.
Durante alguns anos abraçou a carreira política, primeiro como deputado no parlamento português (1903-1917), posteriormente como ministro das Relações Exteriores da Primeira República (1918) e finalmente como embaixador em Espanha (1918-1919).
De volta à Medicina, dedicou-se à Neurologia na Faculdade de Medicina de Lisboa, para onde tinha sido transferido em 1911. Egas Moniz contribuiu decisivamente para o desenvolvimento da medicina ao conseguir pela primeira vez dar visibilidade às artérias do cérebro. A Angiografia Cerebral, que descobriu após longas experiências com raios X, tornou possível localizar neoplasias e hematomas no cérebro humano e abriu novos caminhos para a cirurgia cerebral.
Em 1935, numa conferência internacional de Neurologia, ouviu uma palestra sobre os efeitos da leucotomia frontal (corte cirúrgico das fibras nervosas que ligam o lobo frontal às restantes partes do cérebro) no comportamento de chimpanzés.
Em Novembro de 1935, Egas Moniz e Almeida Lima realizaram a primeira leucotomia e um ano depois são publicados os resultados das 20 primeiras operações. No seu relatório afirmava que nenhum paciente tinha morrido durante a operação, e 14 dos 20 pacientes estavam curados ou tinham melhorado.
O médico português criou assim um interesse mundial sobre o assunto e nos Estados Unidos o neurologista Walter Freeman, influenciado por estes resultados, realizou várias cirurgias por todo o país.
A leucotomia foi, posteriormente, designada de lobotomia por Walter Freeman.
Em 1944, um antigo paciente disparou sobre Egas Moniz, atingindo-lhe uma perna e obrigando-o a ficar numa cadeira de rodas o resto da vida.
As suas descobertas clínicas foram reconhecidas pelos grandes neurologistas da época, que admiravam a acuidade das suas análises e observações. Os seus trabalhos sobre Angiografia Cerebral foram premiados em 1945 pela Faculdade de Medicina de Oslo.
Em 1949 recebeu o prémio Nobel de Medicina pelo desenvolvimento da lobotomia, mas por motivos de saúde não se deslocou à Suécia para receber o galardão, tendo a cerimónia decorrido, excepcionalmente, na sua casa de Lisboa, cidade onde morreu a 13 de Dezembro de 1955.
A técnica desenvolvida por Egas Moniz e que deixou de ser praticada pelos médicos há 30 anos tem sido alvo de polémica. Em Julho deste ano, familiares de pacientes que sofreram esta intervenção exigiram que fosse anulado o Prémio Nobel atribuído em 1949 ao seu inventor.
A campanha em prol da revogação do prémio foi lançada por Christine Johnson, uma bibliotecária médica que criou há vários anos um “site” na Internet para criar uma rede de apoio entre familiares de pacientes lobotomizados.
A Carta Nobel não contém nenhuma cláusula que preveja a revogação de um prémio e a fundação ignora habitualmente as críticas.

1 comentário:

Anónimo disse...

«Em 1944, um antigo paciente disparou sobre Egas Moniz, atingindo-lhe uma perna e obrigando-o a ficar numa cadeira de rodas o resto da vida.» -- Completamente falso. Não foi em 1944, foi em 1939, e apesar da gravidade dos ferimentos (tiros na mão direita e tórax, com uma bala alojada na coluna dorsal), Egas Moniz recuperou por completo, sem qualquer sequela física, ou seja, não ficou paralítico. Vd. Antunes, João Lobo. Egas Moniz, Uma Biografia. Lisboa, Gradiva, 2010, p. 253