sexta-feira, agosto 08, 2008

Jogar pelos direitos humanos


A escolha de Pequim para organizar e ser anfitriã dos Jogos Olímpicos de 2008 foi acompanhada por promessas do Governo chinês de fazer progressos visíveis no que toca aos direitos humanos. Entendemo-las como uma condição cujo cumprimento seria exigido pelo Comité Olímpico Internacional. Era assim que os Jogos deste ano poderiam contribuir para uma maior abertura e respeito pelos padrões internacionais de direitos humanos e liberdade no país anfitrião.
Para que as palavras da Carta Olímpica, que postulam que o objectivo do olimpismo é "pôr o desporto ao serviço do desenvolvimento harmonioso do ser humano, com vista a promover uma sociedade pacífica dedicada à preservação da dignidade humana", sejam cumpridas, é necessário que todos os envolvidos nos Jogos Olímpicos possam saber da situação real na China e apontar livremente as violações dos direitos humanos, em qualquer lugar e altura, de acordo com a sua consciência. Apelamos ao Comité Olímpico Internacional que torne isso possível.
Uma interpretação da Carta Olímpica de acordo com a qual os direitos humanos seriam um tema político que não deve ser discutido nos espaços olímpicos é-nos estranha. Os direitos humanos são um tema universal e inalienável, entronizado em documentos internacionais de direitos humanos que a China também subscreveu, transcendendo políticas internacionais e domésticas, e todas as culturas, religiões e civilizações.
Portanto, falar das condições dos direitos humanos não pode ser uma violação da Carta Olímpica. Falar de direitos humanos não é política; só regimes autoritários e totalitários tentam equipará-los/transformá-los em política. Falar de direitos humanos é um dever.
Estamos preocupados com o facto de que os Jogos Olímpicos de Pequim possam simplesmente tornar-se num espectáculo gigante que distraia o público internacional das violações de direitos humanos e civis na China e noutros países significativamente influenciados pelo Governo chinês. Portanto, vemos como celebração digna dos ideais olímpicos não só nos desempenhos desportivos, mas também na oportunidade de expressar atitudes cívicas. Apelamos a todos os participantes dos Jogos Olímpicos de Verão em Pequim que usem essa liberdade para apoiar aqueles cujas liberdades, mesmo no momento dos Jogos, lhes são negadas pelo Governo chinês.
Reprodução de um artigo de opinião editado hoje no jornal Público e assinado por :Václav Havel, antigo Presidente da República Checa, Desmond Tutu, Prémio Nobel da Paz, Wei Jingsheng, activista no movimento para a democracia na China e André Glucksman, filósofo e ensaísta.
Exclusivo Público/Project Syndicate.

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