Os protestos no mundo islâmico contra as caricaturas do profeta Maomé levaram muita gente no Médio Oriente a questionar-se porque é que os muçulmanos não costumam agitar-se da mesma forma quando se trata de questões como democracia e direitos humanos. Numa região predominantemente governada por regimes absolutistas, há pouco incentivo a manifestações contra restrições a liberdades políticas, desemprego ou violações dos direitos humanos, frequentemente relatadas por organizações internacionais. Nas últimas semanas, milhares de pessoas saíram às ruas do Médio Oriente para protestar contra as caricaturas publicadas originalmente em Setembro na Dinamarca e posteriormente reproduzidas em vários países. Os manifestantes queimaram bandeiras europeias e gritavam palavras de ordem contra o Ocidente. Diversas Embaixadas foram queimadas no Líbano e na Síria e no Irão. “Por que vemos hoje toda esta solidariedade no protesto às caricaturas, como se só elas tivessem insultado o profeta Maomé?”, questionou Ali Mahdi em carta publicada no jornal libanês As-Safir. “Vocês não acham que a injustiça, a tortura, o analfabetismo e as restrições às liberdades (no mundo islâmico) são também considerados insultos ao Profeta, que pediu respeito pelos direitos humanos?” Um relatório divulgado em Setembro pela ONU dizia que o mundo árabe dificilmente atingirá as metas internacionais de redução da pobreza, da fome e do desemprego até 2015, em parte por causa da má distribuição dos rendimentos. Jihad Al Khazen, influente colunista do jornal Al Hayat, disse que há consenso entre os muçulmanos de que as caricaturas insultaram a sua religião, algo que não ocorre a respeito de temas como democracia e política. “Mais de mil milhões de muçulmanos concordam que tais caricaturas foram um insulto à sua religião e ao Profeta e rejeitam isso”, afirmou. “(Mas), não há consenso sobre a democracia. Alguns árabes desprezam a democracia como sendo um produto do Ocidente”. Osama Safa, director do Centro de Estudos Políticos Libaneses, oferece uma perspectiva diferente. “A maioria dos protestos contra as caricaturas foram abençoados, se não organizados, por governos locais, que incentivaram tais actos desde que não toquem em questões domésticas delicadas”. Safa disse que o elevado desemprego na região faz com que os jovens árabes deixem de lado reivindicações como mais democracia e maior participação política. “As pessoas preferem ventilar a sua ira num protesto que não irrite as autoridades locais a correrem o risco de perderem o que têm, mesmo que seja pouco, caso façam uma manifestação pedindo mais coisas”, disse a activista política libanesa Nora Mourad. Com agências.
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