sábado, fevereiro 26, 2005

Eutanásia


Estreou ontem nos cinemas portugueses o filme “ Mar Adentro” do espanhol Alejandro Amenábar , que conta a história verídica de Ramón Sampedro que no dia 23 de Agosto de 1968 deu um mergulho de uma rocha e bateu no fundo do mar. Ficou tetraplégico, sobrou um corpo absolutamente inerte com uma cabeça absolutamente viva. Ramón era inteligente, culto, tinha sentido de humor, escrevia poemas, e as mulheres apaixonavam-se por ele. Decidiu que queria morrer, por isso solicitou à justiça espanhola o direito de morrer, por não mais suportar viver. A sua luta judicial demorou cinco anos. O direito à eutanásia activa voluntária não lhe foi concedido, pois a lei espanhola, considera esta acção como homicídio de primeiro grau. Tinha a assistência diária dos seus amigos, pois não era capaz de realizar qualquer actividade devido à sua paralisia total. Foi encontrado morto na madrugada de 12 Janeiro de 1998 por uma das amigas que o auxiliava, tinha 55 anos. A autópsia indicou que a sua morte foi causada por ingestão de cianeto. Os últimos momentos – uma agonia de 20 minutos - ficaram registados em vídeo. Nesta gravação fica evidente que os amigos colaboraram colocando o copo com um canudo ao alcance da sua boca, porém fica igualmente documentado que foi ele quem fez a acção de colocar o canudo na boca e sugar o conteúdo do copo. A repercussão do caso foi mundial, tendo tido destaque na imprensa como morte assistida. Ramona Maneiro a amiga que encontrou o corpo de Ramón Sampedro, foi acusada pela polícia como sendo responsável por um homicídio. Um movimento internacional de pessoas enviou cartas confessando ter cometido o mesmo crime. A justiça, alegando impossibilidade de clarificar todas as evidências, acabou por arquivar o processo. Inúmeros outros casos, em diferentes locais do mundo tem trazido à discussão a eutanásia, com posições extremadas em ambos os campos de pró ou contra a eutanásia. Se por um lado os que são a favor da eutanásia, pretender que a eutanásia seja um direito a morrer dignamente e sem dor, do outro lado retaliam dizendo que é legalizar o homicídio, e que o direito sobre a vida é um direito divino.
Direito de morrer ou direito de matar?

21 comentários:

Francis disse...

Sou a favor da Eutanásia. Desde que o paciente esteja perfeitamente consciente da consequência da sua decisão.
Ésse, estás de parabéns quanto à escolha de temas. Actuais, polémicos, inevitáveis.

Anónimo disse...

Não sabes como é penoso para mim este assunto. Não sabes como é penoso para mim, ouvir tantas vezes uma voz dizer-me:
- Tenho direito a ter na morte a mesma dignidade que tive enquanto VIVO!
Não sabes como é penoso para mim, ouvir dizer... quando chegar a hora, não quero ser um ser vegetativo... se me amares acaba com o meu sofrimento!

Mas, como se pode tirar a VIDA a alguém que se quer bem, ao nosso companheiro de tantas horas, mesmo que ele nos peça?

- Não me digas isso- prefiro morrer, a fazer uma coisa dessas...

E a conversa morre por ali...porque eu sei que jamais tiraria a vida a alguém, mesmo que esse alguém me pedisse.

E se houver uma esperança? E se houver um milagre?

Desculpa, mas não posso dizer mais nada... Jinho :-)

Humor Negro disse...

Pessoalmente acho que, apesar do Estado insistir em querer os nossos orgãos se não os reclamarmos antes da nossa morte, o meu corpo, os meus pensamentos e a minha vida, existem fora da minha vontade, mas só subsistem por minha vontade. E nessa perspectiva sou completamente a favôr da eutanásia. Bom tema Armando Ésse, mais uma vez.

pindérico disse...

Esta nossa velha tendência para "catalogar"...! Acompanhei com muita emoção o caso Ramón Sampedro e recordo o quanto me indignou a posição da justiça espanhola. Também tenho presente como foi difícil,na altura, imaginar-me na pele da amiga, ou amigo, que o ajudou. Agora, o comentário da "Menina marota" destroçou-me!
"Eutanásia" é um saco enorme!!!

Anónimo disse...

Násia Eu Ta Násia. E Tu? Também tá násia? Essa Násia é um direito. Na minha Násia mando eu.

Pedro disse...

O que é viver? É estar preso a uma cama, num quarto branco, durante décadas, com saudades do que se fazia? É ser dependente dos outros para comer, para urinar, para tudo? É deixar de participar na sociedade e na família quando se sabe o quanto se tem para dar? É a dor física e psicológica todo o dia e toda a noite, em cada suspiro? Não, isto não é viver; é ficar preso naquele limbo entre uma existência satisfactória e a inexistência pacífica. A morte é uma benção para quem sofre e eu vi isso nos olhos de pessoas queridas. A história de Sampedro é um testemunho de humanidade e amizade maravilhoso e um murro no estômago daqueles que não fazem ideia até onde pode ir o sofrimento de uma pessoa que não merece aquilo.

peciscas disse...

Não é um assunto fácil, este.
Teoricamente, sou a favor. Mas, quando se está de fora, friamente, a analisar as coisas, a opinião que se dá pode correr o risco de ser algo desligada da realidade.
Ainda não há muito tempo, vivi a situação de uma pessoa muito próxima e muito querida, que, nos últimos meses era, e digo isto com aparente crueldade,mas com a consciência plena do que se passava, um "cadáver adiado". E pensava, muitas vezes, que aquela existência não tinha nenhum sentido. Pelo sofrimento da pessoa e pelo sofrimento e impotência dos que a acompanhavam.
No entanto, havia sempre dentro de nós qualquer coisa que dizia que algo poderia ainda acontecer... E, por isso falávamos com os médicos. E, por isso, corríamos com ela para as urgências. Até ao fim. Mesmo sabendo que o desfecho era inevitável.
Por isso,penso que tudo depende do contexto e da situação.Haverá casos e casos.
A priori, em situações como aquela que o filme documenta, em que há um ser perfeitamente lúcido e consciente que quer acabar com o sofrimento, admito que é mais"humano" fornecer-lhe os meios para concretizar esse desejo do que reduzi-lo à obrigação e ao fatalismo de sofrer.
Mas, repito, não tenho certezas absolutas de que seria capaz de ser o tal amigo que lhe pôs ao pé de si o copo com o cianeto!

uivomania disse...

Tenho sérias dificuldades em dizer sim ou não à eutanásia. O seu carácter definitivo deixa-me numa reflexão paralizante. Não vejo modo de generalizar aprovando ou não uma lei sobre o assunto. Aceitaria contudo reflectir sobre 1, caso em particular, principalmente se, as condições de vida oferecidas a quem está totalmente dependente e em sofrimento, são escassas e abaixo do que se considere, um mínimo de dignidade. Talvez, que se numa situação em que a sociedade foi incapaz de fornecer esse mínimo, se deva abster de julgar, quem escolhe morrer e quem lhe dá assistência. Prefiro claramente, reclamar por uma assistência condigna, o que, como bem sabemos, em muitos casos, não acontece.

Å®t Øf £övë disse...

Uma coisa eu dou como certa,é que cada um deve saber o que fazer com a sua vida.
Por isso sou a favor da eutanásia,mas não do suicidio.
Acho que são coisas muito diferentes.
Uma é uma opção por circunstância especiais de vida,a outra é pura cobardia.
Bom fds.
Abraço.

Anónimo disse...

Entendeste agora?...

Jinho... :-)

Francis disse...

A tua nota final dá realmente que pensar. Concordo com a tua senhora e espero que nenhum de nós tenha que passar por semelhante agonia.
Um grande abraço e um grande fim-de-semana. (Já agora, uma 2º feira ainda melhor!)

A.Mello-Alter disse...

O direito a morrer é um direito como qualquer outro.
Se não houver estúpidos preconceitos religiosos.

boavida disse...

Este é um tema tremendo!!!
O comentário da sua senhora diz bem do que será viver um drama dessa complexidade.

Anónimo disse...

Só estando a viver ou a lidar uma situação extrema como essa é que se pode eventualmente ter uma posição acerca da eutanásia. Duvido que alguém à distância possa estar seguro de qualquer das opções...

Anónimo disse...

Sou católica e praticante, como devem entender, sou frontalmente contra a eutanásia, mesmo em casos terminais. Um grande abraço.

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

Sim, sou a favor. Mas gostava que se discutisse todo o processo de aplicação da eutanásia. Como sabem, em países onde a eutanásia foi legalizada começaram a surgir várias associações que acompanham e executam a morte assistida. E essas associações estão a ser alvo de criticas por terem de alguma forma transformado a morte num negócio. Depois, há questões paralelas muito difíceis: quando se tratar de um menor, que lei deve ser aplicada. Na Holanda, jovens com doenças terminais podem morrer antecipadamente, depois de um concílio entre pais e médicos. Outra questão: é lícito que um país que não honra os seus doentes profundos com bons serviços hospitalares (como sabem contam-se pelos dedos de uma mão os centros de cuidados paliativos), discuta já a eutanásia? Que eu saiba, no cerne do problema está a qualidade de vida e a "dignidade" que o ser humano não quer perder. Sem uma rede de cuidados paliativos, haverá uma verdadeira escolha?

saltapocinhas disse...

Xiiiiiiii! A minha estreia neste blog logo com um assunto destes. Também pensei em escrever sobre o assunto, mas...não sabia qual era a minha opinião! e digo "não sabia" pois agora já sei: é identica à da tua senhora. Agora vou dar mais uma cuscadela no teu blog, que não conhecia!

Anónimo disse...

Assim, fora de qualquer situação que leve a pensar em eutanásia como saída, a minha primeira reacção é a de que, caso estivesse como esteve Sampedro, quereria que alguém me ajudasse. No entanto, já não sou capaz de dizer que teria coragem para ajudar alguém. Perante esta dualidade, interrogo-me: se pediria ajuda, por que não dispor-me a ajudar, também? Em que situação estaria a ser egoísta? Quando pedisse ajuda? Ou quando negasse ajuda? O que me levaria a negar a alguém aquilo que seria capaz de pedir-lhe? Ou que direito tenho de pedir a alguém que faça o que me negaria a fazer-lhe?
Dá, realmente, que pensar!

Anónimo disse...

Esqueci-me de assinar.
DespenteadaMental

BlueShell disse...

Não vi...mas o tema é polémico, semdúvida!Uma boa semana.
Beijos mil, BShell

Anónimo disse...

não te preocupes! à sempre um "amigo" disposto a "ajudar"!!!!

Um abraço,
pcr